- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Undertones no Paquistão: Militares, Mulheres, Blasfêmia

Categorias: Sul da Ásia, Paquistão, Ativismo Digital, Governança, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Mulheres e Gênero, Política, Religião, Civic Media Observatory, Country Monitor Observatory 2021-2022

Ilustração mostrando um mapa das enchentes de 2022 no Paquistão, por Global Voices

Este artigo é parte do Undertones, um boletim do Civic Media Observatory [1] da Global Voices. Pesquisadores refletem sobre os ecossistemas da mídia de seus países, as narrativas mais fortes do ano, e o que podemos esperar em 2023. Estamos começando esta série com o Paquistão. Ao clicar em uma narrativa, poderá ver mais análises e posts relacionados sobre o tema. Assine o Undertones [2]

Em 2022, o Paquistão viveu enchentes históricas, a deposição de seu primeiro-ministro (que também foi então quase morto), e um aumento da violência religiosa.

Narrativas antimilitares crescem

Uma das novidades mais interessantes este ano foi o sentimento antimilitar crescente no país, uma tendência que provavelmente vai persistir em 2023. Os maiores líderes militares do Paquistão são considerados os atores mais poderosos no país, já que generais governaram o Paquistão por metade de sua existência e moldaram a política por trás das cortinas na outra metade.

Em abril de 2022, o primeiro-ministro Imran Khan foi deposto do poder em um voto parlamentar de desconfiança algumas semanas depois de ele se desentender com as lideranças do exército. Khan, líder do partido Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI) e uma figura extremamente popular, abertamente culpou os militares pela sua deposição, levando com ele sua imensa base de apoiadores em sua cruzada antimilitar. Comentaristas apolíticos e jornalistas também criticaram abertamente a onipresença militar na política do Paquistão. Cobrimos essa tendência sem precedentes no Paquistão neste boletim: Anti-army hashtags gain rare visibility in Pakistan [3]”.

Esta narrativa pode se fortalecer em 2023, quando o país enfrenta eleições gerais entre julho e setembro, diz Ali Osman, um de nossos pesquisadores no Paquistão. Outra hipótese é que Khan pode suavizar sua oposição aos militares para conseguir seu apoio novamente. Não seria surpreendente, uma vez que Khan já voltou atrás em sua oposição dura aos Estados Unidos.

A narrativa mais vigorosa aqui é “o exército do Paquistão deve parar de interferir na política do país”. Da mesma forma, paquistaneses também têm apontado o controle econômico do país pelos militares ao dizer que O exército paquistanês é uma empresa de negócios não controlada.

Ativismo feminino é desafiado

A vida para mulheres jornalistas no Paquistão é difícil. Este ano, elas enfrentaram ataques on-line e assédio inéditos de apoiadores de Khan e oficiais do governo. Uma acusação feita contra elas é de que essas mulheres jornalistas estão sendo pagas pelos políticos da oposição para manchar a reputação de Khan. A narrativa aqui é a de que jornalistas mulheres estão perseguindo o PTI [4].

“Mulheres também viram o sexismo ser normalizado no discurso político mais amplo”, diz Ramsha Jahangir, outra pesquisadora. Comentários misóginos de líderes políticos foram manchete no Dia das Mulheres no Paquistão, em 8 de março de 2022, chamado a Marcha Aurat. Uma das principais narrativas circulando na época era: “feministas estão tentando forçar valores ocidentais no Paquistão”.

“Desinformação e uma batalha de narrativas são centrais na luta por direitos de gênero no Paquistão”, diz Osman.

Mulheres ativistas, de sua parte, dizem que “mulheres jornalistas no Paquistão são injustamente atacadas e sujeitas a críticas e abuso”. Essas narrativas provavelmente vão continuar em 2023, já que o sistema militar continua a perseguir jornalistas e membros da sociedade civil.

Revolta contra leis de blasfêmia anacrônicas

Desde sua fundação em 1947, o Paquistão deveria ser um país secular, mas hoje, o país é visto pela maioria de seus cidadãos como um estado islâmico, com seculares sendo a minoria. Princípios seculares foram abandonados devido à influência islâmica exercida ao longo do tempo. Em particular, o ditador militar islâmico Zia-ul-Haq incluiu no Código Penal Paquistanês as leis de blasfêmia mais duras e controversas entre os países de maioria islâmica nos anos 1980.

“Como essas leis não se importam com provas, tornaram-se as piores ferramentas de opressão. Elas tiraram muitas vidas e também se tornaram uma dádiva para o crescimento do extremismo religioso na sociedade paquistanesa”, comenta Osman. Muitos paquistaneses falaram contra essas leis afirmando que “leis de blasfêmia no Paquistão são arbitrárias, injustas e letais” e “aglomerações religiosas violentas são tratadas com impunidade no Paquistão [5].

Em 2022, houve ainda linchamentos e assassinatos extrajudiciais, onde a punição é levada a cabo por grupos que se apoderam da lei antes de prisões ou julgamentos. Aqueles apoiando violência extrajudicial afirmam que “justiça de grupo contra criminosos é um ato de coragem e correção.

Outras narrativas relevantes, que estão circulando no Paquistão: