Freedom House revela a influência da China no sector da comunicação em Moçambique

Amostra de jornais publicados em Moçambique | captada por Dércio Tsandzana e usada com permissão do autor – 23.08.2018

Em seu novo relatório intitulado Beijing's Global Media Influence 2022 (Influência Global dos Media de Pequim) na versão em língua inglesa, o Freedom House apresentou os contornos da influência da China no sector das comunicações em vários países do mundo, incluindo Moçambique.

A Influência Global dos Media de Pequim (BGMI) é a primeira avaliação global da Freedom House sobre a influência dos media do Partido Comunista Chinês e a resistência democrática a essa influência.

No geral, o projecto BGMI visa revelar as muitas formas que a influência dos meios de comunicação social de Pequim pode assumir — desde formas aceitáveis de diplomacia pública a tácticas encobertas, coercivas, ou corruptas que correm o risco de minar as liberdades democráticas.

A produção do relatório

O projecto examinou as respostas directas à influência dos meios de comunicação social CCP em cada país em análise, e a sua resiliência ou vulnerabilidade subjacente à influência problemática ou aos esforços de manipulação que emanam de Pequim.

Os factores relevantes considerados incluem leis e práticas que protegem a liberdade de imprensa, a extensão da cobertura noticiosa crítica e diversificada relacionada com a China e o investimento chinês na economia local, e iniciativas tanto genéricas como específicas da China por parte dos governos e da sociedade civil para contrariar a desinformação, fazer um rastreio dos investimentos nos meios de comunicação e nas indústrias digitais, aumento da transparência, protecção da liberdade de imprensa e a liberdade de expressão.

Os 30 países inclusos neste estudo foram seleccionados com base em vários critérios. Primeiro, como um estudo não só dos esforços de influência de Pequim mas também da resposta e impacto em cenários democráticos, a amostra para este projecto foi limitada aos países que são classificados como Livres ou Parcialmente Livres pelo índice Freedom House's Freedom in the World.

Em segundo lugar, para alcançar uma análise global robusta procurou-se uma amostra diversificada em termos de geografia (seis regiões abrangidas), língua (mais de 25 línguas locais), e natureza das relações bilaterais com a China (amigável versus adversária; membro ou não da Iniciativa de Cinturão e Estradas; China como parceiro comercial maior ou menor ou fonte de investimento).

Em terceiro lugar, procurámos países onde existiam provas claras da influência dos meios de comunicação social da China, e exemplos de resistência aos meios de comunicação social ou influência política do PCC. Quarto, considerou-se a importância estratégica e a dimensão populacional de um país, com preferência por países com populações relativamente grandes ou relevância estratégica.

O espelho geral da China no mundo da comunicação

No geral, é revelado que o governo chinês expandiu a sua influência mediática global: a intensidade dos esforços de influência mediática de Pequim foi designada como Alta ou Muito Alta em 16 dos 30 países examinados neste estudo, que abrange o período de Janeiro de 2019 a Dezembro de 2021. Em 18 dos países, os esforços do regime chinês aumentaram ao longo desses três anos.

É ainda avançado que o Partido Comunista Chinês (PCC) e os seus representantes estão a utilizar tácticas mais sofisticadas e coercivas para moldar narrativas dos media e suprimir reportagens críticas: a distribuição em massa de conteúdos apoiados por Pequim através dos principais meios de comunicação social, o assédio e intimidação de pontos de venda que publicam notícias ou opiniões não favorecidas pelo governo chinês, o uso de cyberbullying, os falsos relatos dos meios de comunicação social, e as campanhas de desinformação direccionadas, foram tidas como principais tácticas.

Mais ainda, revelou-se que em 23 países, líderes políticos lançaram ataques aos meios de comunicação social nacionais ou exploraram preocupações legítimas sobre a influência do PCC para impor restrições arbitrárias, visar pontos de venda críticos, ou alimentar sentimentos xenófobos.

Os resultados da influência da China em Moçambique

A presença do media estatal chinesa em Moçambique é mínima, e seu desenvolvimento é dificultado pelo facto de não produzir nenhum conteúdo em línguas locais além do português, que é falado por pouco menos da metade da população.

Banca de Jornais em Maputo. Foto: Manuel Ribeiro/GV (usada com permissão)

Foi constatado que a influência da mídia de Pequim em Moçambique iniciou através de uma série de partilha de conteúdos e acordos de cooperação com mídia estatal e privada antes do período de cobertura de 2019-2021. A maior parte do conteúdo do media estatal Chinesa que chega à audiência moçambicana é distribuída de forma indirecta, através de órgãos de comunicação locais. Contudo, os vectores da influência directa da mídia poderão aumentar à medida que a transição digital aumenta no país.

De forma concreta, os media chineses, cujos conteúdos visam alcançar o público moçambicano, criam somente conteúdos em Português, o que limita a potencial audiência. O Português, apesar de ser a língua oficial, é falado por menos da metade da população, estando a fluência concentrada entre a elite política e económica.

Igualmente, algumas consultas de opinião pública revelam que o apoio à China como modelo de desenvolvimento de estado reduziu desde 2015, e que o conhecimento geral sobre os investimentos Chineses ou ajuda ao desenvolvimento em Moçambique continua baixo.

Por fim, segundo Freedom House, não houve evidência de campanhas de desinformação apoiadas pelo Estado chinês que visaram ou alcançaram consumidores de notícias em Moçambique durante o período de cobertura.

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