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Liberdade de imprensa em Hong Kong cai mais um nível com desaparecimento de agências de notícias

Categorias: Leste da Ásia, Hong Kong (China), Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã
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Captura de tela de vídeo de reportagem do SCMF no YouTube em 17 de janeiro de 2022: Chineses no Reimo Unido organizam manifestação reivindicando liberdade de imprensa após fechamento do jornal Stand News.

 Este post foi escrito por Hillary Leung e publicado na Hong Kong Free Press (HKFP) em 23 de setembro de 2022 [2]. Uma versão editada é publicada na Global Voices de acordo com política de compartilhamento de conteúdo.

O índice de liberdade de imprensa de Hong Kong caiu mais um nível pelo terceiro ano consecutivo, repórteres questionam a legitimidade da mídia como fiscalizador em um ambiente cada vez mais desafiante para o setor.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA) publicou o índice em 23 de setembro de 2022. O índice anual apresenta duas séries de dados baseados em duas pesquisas – um questionário foi entregue a profissionais do setor dos meios de comunicação e outro a cidadãos.

A classificação de liberdade de imprensa, que representa opiniões de profissionais de comunicação, ficou em 26,2 este ano, abaixo dos 32,1 do ano passado. O declínio é a queda mais acentuada desde que a HKJA começou a compilação dos dados em 2013.

Mais de metade dos entrevistados do grupo de cidadãos afirmou que a liberdade de imprensa regrediu após 2020.

Em um comunicado, a HKJA declarou que o ambiente jornalístico em Hong Kong “tem se deteriorado drasticamente desde o ano passado”. O grupo citou o encerramento do jornal Apple Daily em junho passado, bem como da agência de notícias Stand News, em dezembro passado, e do site Citizen News em janeiro deste ano. Executivos e editores do Apple Daily e do Stand News estão atualmente enfrentando processos sob a legislação de segurança nacional ou “lei da era colonial de conspiração”, depois que suas redações foram invadidas. A declaração dizia:

As a direct consequence of a shrinking news industry, less information of public interest is now available, and those that remain accessible become more homogenous than diverse.

Como consequência direta do encolhimento da indústria midiática, existe uma menor disponibilidade de informações de interesse público e, as que se encontram disponíveis são mais parecidas do que diversas.

A HKJA entrevistou em maio 169 profissionais da indústria midiática e 1.016 cidadãos. O grupo destacou que 737 questionários foram enviados, obtendo uma taxa de resposta de 22,9%. Em contrapartida, a taxa de resposta no ano passado foi de 82,8%. O grupo explicou:

Some journalists we approached for the survey said they fear the HKJA has come in the crosshairs of authorities and therefore they fear retribution for filling out a questionnaire conducted by the HKJA.

Alguns jornalistas abordados na pesquisa disseram temer que a HKJA tenha chegado à mira das autoridades e, por consequência, temem sua retaliação se preencherem um questionário conduzido pela HKJA.

Meios de comunicação apoiados pelo governo atacaram a HKJA, chamando-a [5] de “falso sindicato” que “causou o caos em Hong Kong”.

A pesquisa também constatou que 97% dos profissionais de mídia acreditam que a liberdade de imprensa “piorou muito” no ano passado, enquanto 53,5% responderam que a liberdade é a mesma.

A HKJA acrescentou que a atuação de uma imprensa em um “ambiente livre e seguro” é “crucial” para a manutenção do status de centro financeiro internacional de Hong Kong.

A divulgação do índice ocorreu um dia após o presidente John Lee ter discursado para profissionais da mídia [6] durante evento de celebração do Dia Nacional Chinês no qual ele disse a jornalistas previamente selecionados para entregarem a “mensagem correta de Hong Kong” ao mundo.

O acesso ao evento, que era somente a convidados, foi negado a HKFP. Depois de citar inicialmente os regulamentos da COVID-19 e declarar incorretamente que o evento era apenas para a mídia chinesa, um funcionário do comitê de organização acabou falando que apenas “meios de comunicação tradicionais” foram convidados, sem maiores explicações. Meios de comunicação estatais e o jornal South China Morning Post (SCMP) participaram do evento.

Durante seu discurso, Lee alertou os repórteres para que distinguissem o certo do errado e mantivessem distância da “mídia falsa” e dos “elementos ruins” que “destroem a liberdade de imprensa”.

As autoridades disseram que estão tentando decretar uma lei contra “notícias falsas” para combate de desinformação. Críticos afirmam que tal legislação poderia ser usada como arma na repressão de meios de comunicação e maior sufocamento da liberdade de imprensa.