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Guerra na Ucrânia atinge trabalhadores imigrantes do Azerbaijão

Categorias: Ásia Central e Cáucaso, Europa Oriental e Central, Azerbaijão, Rússia, Ucrânia, Guerra & Conflito, Juventude, Mídia Cidadã, Migração e Imigração, Política, Trabalho

Imagem por Javier Vinals [1]. Uso livre sob Licença Unsplash [2].

Esse artigo foi publicado originalmente [3] em Chaikhana Media. Uma versão editada foi aqui republicada sob um acordo de colaboração de conteúdo.

Gerações de migrantes trabalhadores do Azerbaijão têm ido ao norte [4] à procura de trabalho e uma chance de ganhar mais dinheiro para suas famílias.

Hoje, porém, milhões de azerbaijanos que trabalham na Rússia e na Ucrânia se veem forçados a decidir entre seus empregos e sua segurança, enquanto a guerra da Rússia continua a prejudicar a economia de ambos os lados do conflito.

Elvin Magsudov, 33, preferiu a segurança e se mudou da Ucrânia para a Moldávia depois da invasão russa não provocada do país. Mas, diferente de sua vida na Ucrânia, a Moldávia é custosa e os salários são baixos. Conta:

My working conditions and living expenses in Ukraine were very good compared to Moldova. The difference in salary I make in Moldova is significantly lower while the cost of living is twice what it was in Ukraine.

Minhas condições de trabalho e o custo de vida na Ucrânia eram muito boas se comparadas com os da Moldávia. A diferença de salário que eu ganho na Moldávia é significativamente mais baixa, enquanto as despesas são o dobro do que eram na Ucrânia.

Apesar da dificuldade de se estabelecer na Moldávia, Elvin não tem planos de retornar ao Azerbaijão, onde também é difícil de encontrar um emprego com um bom salário, uma vez que sua família depende do dinheiro que ele envia.

O economista Natig Jafarli acredita que muitos dos estimados [5] dois milhões de Azerbaijanos que trabalhavam na Rússia, e meio milhão na Ucrânia, antes da guerra, provavelmente ficarão no país mesmo com as adversidades provenientes do conflito. Especialmente quando suas famílias em casa já estão sentindo o impacto das sanções impostas à Rússia e à estabilidade.

“Mão de obra, poder aquisitivo e renda diminuíram, e existem obstáculos a transferências”, relatou Jafarli em uma entrevista à Chaikhana Media, acrescentando que Azerbaijanos na Rússia não podem mais usar serviços de transferência bancária eletrônica internacional para mandar dinheiro para casa devido às sanções.

Em abril, o economista Gubad Ibadoglu contou [5] à Voice of America que 6o% das transferências para o Azerbaijão vieram da Rússia nos nove primeiros meses de 2021, acrescentou, ainda, que “se espera um declínio acentuado nestas transferências este ano”.

Em Bilajary, um subúrbio de Baku, capital do Azerbaijão, Yagana Mamishova, 42, e seus dois filhos já estão sentindo o impacto. Yegana trabalha como professora pré-escolar, mas seu salário mal sustenta a família. Assim, eles dependem do salário que o marido, Hafiz Mamishov, 48, um ex-soldado, manda da Rússia. Hafiz trocou o Azerbaijão pela Rússia por não encontrar um emprego ao retornar para casa depois de sair do exército.

My husband currently works in the construction industry in Russia. He has been working in Russia for the last 5 years and has been sending us money, but that is no longer possible.

Atualmente, meu marido trabalha na área da construção civil, na Rússia. Ele trabalha lá há cinco anos e vinha nos mandando dinheiro, porém isso não é mais possível.

Agora, eles estão economizando para viver com 400 mánates [6] (235 dólares) que Yegana ganha por mês.

Segundo os Dados do Banco Mundial [7], o desemprego no Azerbaijão era de 6,6% em 2021. Esse ano, de acordo [8] com algumas estatísticas, está pouco abaixo de 6%.

Entretanto, migrantes trabalhadores como Aliheydar Azimzade, 24, observam que pode ser difícil encontrar trabalho.

Depois de se formar na universidade, na Ucrânia, em 2015, Aliheydar ficou, comprou uma casa e abriu um negócio. Ele levou uma semana após a invasão para decidir voltar para o Azerbaijão. Mas, a transição não tem sido fácil. À Chaikhana Media, contou:

Although I am currently looking, I still cannot find a job. The biggest problem is unemployment. I plan to return to Ukraine if the war ends because my work and my house remain there.

Embora eu esteja procurando atualmente, ainda não achei. O maior problema é o desemprego. Penso em voltar à Ucrânia se a guerra terminar porque meu trabalho e minha casa estão lá.

Asaf Mishiyev, 29, também passa por dificuldades para recomeçar sua vida no Azerbaijão depois de retornar da Rússia cinco dias após o início da guerra.

Musicista por profissão, Asaf passou a maior parte dos últimos 11 anos morando e trabalhando em Moscou. No passado, tentou se reinstalar em Baku, mas acabou voltando à Rússia devido a melhores salários e oportunidades de seguir uma carreira musical.

There were more opportunities [in Russia], both in terms of income and music. I can give you a simple example that it is difficult to find musical instruments in Azerbaijan. Also, if Azerbaijan satisfied me, I would stay in my own country. In terms of work, this is a bit difficult.

Há mais oportunidades [na Rússia], tanto em termos de renda quanto de música. Posso te dar o simples exemplo de como é difícil encontrar instrumentos musicais no Azerbaijão. Além disso, se o Azerbaijão me correspondesse, eu ficaria no meu país. Em questão de trabalho, isso é um pouco difícil.

Asaf voltou para o Azerbaijão em 2017 e abriu uma lanchonete para jovens, no qual pudessem ouvir música ao vivo e assistir a filmes. Entretanto, o empreendimento durou apenas dois anos. “Fechei a lanchonete e voltei para a Rússia em busca de trabalho. Todo mundo precisa trabalhar para subsistir, por isso escolhi a Rússia”, contou à Chaikana Media.

 

Hoje, Asaf dá aulas de técnica vocal e de guitarra para ganhar a vida.

Para Sevdiyar Hadiyev, 57, a escolha é simples: assim que a guerra terminar, ele quer voltar para sua vida em Carcóvia, na Ucrânia, onde viveu por 30 anos.

Nativo do vilarejo azerbaijano de Lerik, Sevdiyar não conseguiu encontrar trabalho desde quando retornou para uma visita em setembro. Depois de uma vida inteira na Ucrânia, se viu empacado em seu vilarejo natal depois da guerra.