#FreeOurDaughters: pelo fim da mutilação genital feminina na Nigéria

“É possível, nesta geração, acabar com uma prática que atualmente afeta cerca de 130 milhões de meninas e mulheres em 29 países”, afirma Ban Ki-moon, ex-secretário-geral das Nações Unidas, durante o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina de 2014. Imagem do Wikimedia Commons, por  Olivier Asselin / UNICEF, 6 de fevereiro de 2015, (CC BY-SA 2.0).

When men are oppressed, it’s a tragedy. When women are oppressed, it's tradition – Letty Lottin Pogrebi.

Quando homens são oprimidos, é uma tragédia. Quando mulheres são oprimidas, é tradição.

Estima-se que 200 milhões de meninas e mulheres são vítimas de práticas de mutilação genital feminina (MGF) em 30 países da África, do Oriente Médio e da Ásia; como resultado, dois terços delas morrem todos os dias, o que demanda ações imediatas dos governos para acabar com tais práticas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com uma estimativa de 19,9 milhões de sobreviventes, a Nigéria tem o terceiro maior número em todo o mundo de meninas e mulheres que foram submetidas à MGF.

A mutilação genital feminina é uma prática em que a genitália externa de uma garota é parcial ou completamente removida por questões culturais e não médicas. Embora existam muitas razões para essa prática, a verdade é que a MGF é um sinal de profunda desigualdade de gênero, como reconhecido pela OMS. “Cultura e tradição são fatores importantes que alimentam sua existência”, afirma o dr. Epundu e outros cinco pesquisadores de saúde pública no Hospital Universitário da Universidade Nnamdi Azikiwe, no sudeste da Nigéria. O PubMed, banco de dados de citações e resumos de artigos sobre biomedicina, afirma que a MGF perdura para “controlar a sexualidade feminina”. Outros motivos, de acordo com o PubMed, incluem “o desejo de ser socialmente aceita e o medo da rejeição social”. A MGF é “um crime contra as mulheres” com um alto “custo financeiro e para a saúde”, que muitas vezes leva à morte, enfatiza o dr. Epundu.

Os efeitos adversos da MGF incluem sangramento intenso, dificuldade em urinar, formação de cistos, infecções e problemas psicológicos. Há também complicações no parto e um risco maior de morte de recém-nascidos. É prejudicial ao corpo e causa danos ao tecido genital saudável e normal. O tratamento da MGF é muito caro e muitas dessas mulheres não podem pagá-lo, correndo assim mais riscos de infecções.

A MGF e outras formas de violência de gênero tornaram-se puníveis com a Lei de Proibição da Violência contra Pessoas na Nigéria em 2015. Entretanto, houve poucas condenações devido à baixa conscientização pública e à não adoção da lei por 17 dos 36 estados da Nigéria, estando a maioria localizada na região norte, segundo o Nigerian Tribune.

“O doloroso procedimento resultou em cicatrizes.”

Não à violência doméstica!
Não ao casamento infantil e forçado!
Não à mutilação genital feminina!
Sim aos direitos dos jovens!
Sim à educação!
Sim à igualdade!)
Cartaz “Não à circuncisão feminina!”
Imagem por Rufai Ajala, 26 de outubro de 2010, (CC BY 2.0).

Lucy Osuizigbo, jornalista do Premium Times, um jornal on-line, relatou a triste história de Rosaline Nkwo (pseudônimo para proteger sua privacidade), uma sobrevivente da MGF:

I am in my late 50s with shattered aspirations; no husband, no children or a family of my own due to the barbaric practice of female genital mutilation that was carried out on me when I was a two-year old. My mother told me that my case was a peculiar one because it was done without Anaesthesia and I struggled so hard when I could not stand the searing pain arising from the bad cut that had to be stitched. This barbaric act led to an irritating formation of Keloids and scar tissues around my genitals which scared men whenever they tried to get intimate with me. This crashed my two marriages and made me become lonely, angry, useless, lost, abandoned and hopeless.

Estou no fim dos meus 50 anos com sonhos despedaçados; sem marido, sem filhos e sem uma família própria por causa da prática bárbara de mutilação genital feminina que foi feita em mim quando eu tinha 2 anos. Minha mãe disse que meu caso foi peculiar por ter sido feito sem anestesia, e eu sofri muito por não suportar a dor decorrente do péssimo corte que precisava ser suturado. Esse ato bárbaro ocasionou uma irritante formação de queloides e cicatrizes ao redor de minha genitália, o que assustava os homens sempre que tentavam ter intimidade comigo. Isso acabou com meus dois casamentos e me tornou solitária, revoltada, inútil, perdida, abandonada e sem esperança.

Nkwo, aos 57 anos na data de publicação, em 2016, teve consciência da gravidade de sua posição quando seu marido se divorciou dela após ver sua genitália na noite de núpcias. Ela alega que não passou pela cirurgia corretiva porque não pôde arcar com as despesas. Desde então, ela vive em raiva, miséria e melancolia. Essa técnica destruiu toda sua vida e qualquer oportunidade que ela poderia ter. Nkwo é uma das muitas mulheres que tiveram experiências parecidas como resultado da MGF. Ela é uma das milhões de nigerianas que perderam tudo. 

Osuizigbo, em colaboração com a Agência de Notícias da Nigéria, também relata a história de outra mulher, Nneoma, 36, mãe de dois, que fala sobre sua situação e como isso arruinou sua família e seu papel de esposa. Nneoma responsabiliza sua mãe por seus problemas conjugais e está dividida entre praguejá-la e perdoá-la:

I had my two children through caesarean section; the doctor said it was due to FGM, my vagina opening is so narrow. It made intercourse painful that I try to avoid sex as much as possible; and I cannot satisfy my husband sexually. When I hear people talk about sex as a pleasurable act, I still cannot understand it because my experience has been a painful one. I feel different and uncomfortable among other women. It has not been easy, but I have to accept and live with my husband’s extramarital affairs.

Tive meus dois filhos por cesariana; o médico disse que, por causa da MGF, a abertura da minha vagina é estreita. Isso torna as relações sexuais dolorosas e eu tento evitar sexo ao máximo; eu não consigo satisfazer sexualmente meu marido. Quando ouço as pessoas falarem de sexo como algo prazeroso, ainda não consigo entender, pois para mim é uma experiência dolorosa. Sinto-me diferente e desconfortável entre outras mulheres. Não tem sido fácil, mas tive que aceitar e conviver com os casos extraconjugais do meu marido.

Dada a gravidade da MGF na vida de muitas garotas inocentes, a UNICEF, em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ampliou as intervenções em muitos países, incluindo a Nigéria. O programa, atualmente em sua terceira fase, incentiva várias comunidades a mudar o paradigma e transformar normas sociais. A intervenção do UNFPA-UNICEF também está colaborando com o governo nigeriano para apoiar e incentivar leis que proíbem a MGF, e ao mesmo tempo garantindo que mulheres jovens tenham acesso a serviços de saúde e proteção infantil de alta qualidade.

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