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Portugal pede desculpa pelo massacre colonial em Moçambique

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Portugal, História

António Costa, Primeiro-Ministro de Portugal | Foto Flickr [1] Partido Socialista 2022

No dia 2 de Setembro, o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, pediu desculpas pelo massacre [2] de Wiriamu. O massacre foi revelado pela imprensa inglesa em 1973 e, durante muitos anos, ignorado em Portugal. Costa classificou [3] como um “acto indesculpável que desonra” a História de Portugal, num acto raro e histórico de reconhecimento [4] deste episódio que matou cerca de 400 civis desarmados. 

Costa afirmou, perante o Presidente da República de Moçambique, em Maputo:

Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História.

Sobre o acto, as reacções não tardaram. Como conta [5] o Jornal Público, Maria Paula Meneses, moçambicana, antropóloga e historiadora classificou [5] o pedido de desculpas do primeiro-ministro de “corajoso”.

A pesquisadora diz ainda que este acto srurge em linha com o que já fizeram outros países europeus e defende que é necessário criar “comissões de verdade e reconciliação” sobre os crimes de guerra. Maria Paula Meneses lembrou [6] igualmente que a seguir a Wiriamu, em Moçambique, há mais massacres:

Há muitos outros contextos de massacres, e na mesma região, de que não se fala. E há toda a questão de Goa e do Brasil. A questão colonial está intimamente ligada à violência e destruição, e uma outra violência que é a destruição da história do outro lado.

Outros internautas fizeram questão de relembrar todos quem foram vítimas do massacre:

Demais reacções seguiram para sublinhar o exemplo dado pelo Primeiro-Ministro de Portugal:

A história sobre o Massacre

Tudo começa [13] em 16 de Dezembro de 1972, quando em Wiriamu, Moçambique, cerca de 400 civis desarmados foram mortos por militares portugueses. Conta-se que o massacre [14] foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo [15] do jornal The Times, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriamu.

Sabe-se ainda que a investigação [16] do historiador Mustafah Dhada, nascido em Moçambique e radicado nos EUA, ​concluiu que as tropas portuguesas dizimaram um terço dos 1350 habitantes de cinco povoações (Wiriamu, Djemusse, Riachu, Juawu e Chaworha), integradas numa área que ele chama triângulo de Wiriamu, que tem 40 povoações, e que foram afectadas 216 famílias.