
António Costa, Primeiro-Ministro de Portugal | Foto Flickr Partido Socialista 2022
No dia 2 de Setembro, o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, pediu desculpas pelo massacre de Wiriamu. O massacre foi revelado pela imprensa inglesa em 1973 e, durante muitos anos, ignorado em Portugal. Costa classificou como um “acto indesculpável que desonra” a História de Portugal, num acto raro e histórico de reconhecimento deste episódio que matou cerca de 400 civis desarmados.
Costa afirmou, perante o Presidente da República de Moçambique, em Maputo:
Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História.
Sobre o acto, as reacções não tardaram. Como conta o Jornal Público, Maria Paula Meneses, moçambicana, antropóloga e historiadora classificou o pedido de desculpas do primeiro-ministro de “corajoso”.
A pesquisadora diz ainda que este acto srurge em linha com o que já fizeram outros países europeus e defende que é necessário criar “comissões de verdade e reconciliação” sobre os crimes de guerra. Maria Paula Meneses lembrou igualmente que a seguir a Wiriamu, em Moçambique, há mais massacres:
Há muitos outros contextos de massacres, e na mesma região, de que não se fala. E há toda a questão de Goa e do Brasil. A questão colonial está intimamente ligada à violência e destruição, e uma outra violência que é a destruição da história do outro lado.
Outros internautas fizeram questão de relembrar todos quem foram vítimas do massacre:
António Costa, hoje: “Não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História”. A lista possível das vítimas a que devíamos este pedido de desculpa: pic.twitter.com/miUC3SBDMq
— Joana Moura Gomas (@Joalita) September 2, 2022
Demais reacções seguiram para sublinhar o exemplo dado pelo Primeiro-Ministro de Portugal:
O reconhecimento e pedido de desculpas do Primeiro Ministro em relação às atrocidades cometidas em Wiriamu são para mim motivo de orgulho nacional, honram o ímpeto descolonizador da transição democrática portuguesa e dignificam a função de líder do governo.
— João Patrício (@jpatrcio00) September 5, 2022
Não vi muita atenção dada a isto, mas parece-me um passo muito significativo e positivo dado pelo Governo português.
António Costa pede desculpa por massacre de Wiriamu: “Acto indesculpável que desonra a nossa História” https://t.co/uj5wgco3wC
— Safaa Dib (@SafaaDib) September 3, 2022
Muito bem o Dr. António Costa a pedir desculpa pela operação Marosca, organizada pelo moçambicano Chico Kachavi, que culminou no massacre de Wiriamu. Não esqueceremos!
— Zé Nabo, Presidente (@ZeNabo1974) September 3, 202
A história sobre o Massacre
Tudo começa em 16 de Dezembro de 1972, quando em Wiriamu, Moçambique, cerca de 400 civis desarmados foram mortos por militares portugueses. Conta-se que o massacre foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo do jornal The Times, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriamu.
Sabe-se ainda que a investigação do historiador Mustafah Dhada, nascido em Moçambique e radicado nos EUA, concluiu que as tropas portuguesas dizimaram um terço dos 1350 habitantes de cinco povoações (Wiriamu, Djemusse, Riachu, Juawu e Chaworha), integradas numa área que ele chama triângulo de Wiriamu, que tem 40 povoações, e que foram afectadas 216 famílias.