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Alhassan Alidu está revigorando a língua more ao levá-la para a internet

Categorias: Burquina Fasso, Gana, Língua, Mídia Cidadã, Rising Voices

 

Imagem fornecida por Alhassan Alidu e usada sob permissão.

Este post é parte de uma série de entrevistas com nossos convidados da campanha rotativa no Twitter @DigiAfricanLang [1] na Rising Voices.

Alhassan Alidu está realmente empenhado em levar a língua more [2] para o mundo digital. O more é uma das duas línguas regionais oficiais de Burkina Faso, na África. É falada principalmente pelo mossi como Alhassan. O povo mossi representa o maior grupo étnico de Burkina Faso, com aproximadamente 6 milhões de mossi vivendo atualmente no país e mais vivendo em outros países como Gana e Costa do Marfim. Em 1896, os franceses colonizaram Burkina Faso, e permaneceram lá até a independência em 1960. Devido a isso, o francês é tecnicamente a língua oficial do país. O more é amplamente falado, mas, como Alhassan enfatiza, o legado da colonização age como uma barreira para a implementação digital do more e de outras línguas regionais.

Como diretor executivo da Comunidade more na Wikimedia [3] Alhassan está proporcionando ao more uma plataforma digital a despeito da mídia e idiomas ocidentais (como francês e inglês), e permitindo uma difusão maior e mais acessível da língua. Ele também criou uma página no YouTube [4] com recursos úteis detalhando como usar a Wikimedia, assim como uma conta no Instagram [5] com dicas do idioma e destaques de contribuições de membros da Wikimedia em more. Você pode seguir Alhassan no Twitter em @Hasslaebetch [6] e a Moore Wikimedia Community em @Moore_Wikimedia [7]. Com esses recursos, Alhassan espera dar ao idioma more uma presença digital permanente que possa ser usada pela comunidade more em todo o mundo e no futuro.

Rising Voices (RV): Fale sobre você e seu trabalho com idioma.

Alhassan Alidu (AA): I am Alhassan Alidu, my username is Hasslaebetch, and my Twitter handle is @Hasslaebetch [6]. I am a Moore (Mossi) by tribe and I speak Moore, Dagbani and English. Burkina Faso is the homeland of my parents but they relocated to Ghana and so I was born in Ghana and as such I am a Ghanaian by nationality. I edit in Dagbani and Moore. Even though I have not studied Moore in my university education, it behooves me to assist my language to come on deck in the digital space. I collaborate with language experts so that our mother tongue can also have a space at the right time in the digital environment. My experience in editing in Dagbani gave me the zeal to forge ahead to reaching a goal possible together with the Moore community and the Moore people at large.

Meu nome é Alhassan Aidu, meu nome de usuário é Hasslaebetch, e meu Twitter é @Hasslaebetch. Sou more (mossi) por tribo e falo more, dagani e inglês. Burkina Faso é a terra natal de meus pais, mas eles se mudaram para Gana e eu nasci em Gana, sou ganês por nacionalidade. Edito em dagani e more. Apesar de não ter estudado more na universidade, cabe a mim ajudar minha língua a ter um lugar no espaço digital. Colaboro com especialistas em idiomas para que nossa língua materna também possa ter um espaço no tempo certo no ambiente digital. Minha experiência editando em dagani me deu o entusiasmo para seguir em frente em direção a um objetivo possível junto com a comunidade more e o povo more em geral.

RV: Qual é o situação atual de sua língua on-line e off-line?

AA: There are many factors hindering the existence of the Moore language in digital spaces. Online, the language is unheard — this is as a result of French and English barriers. Moore is largely spoken in Burkina Faso but Burkina Faso is a Francophone country — they speak more of French than English — and as a result the language is lost in the English digital space. Moore speaking people in surrounding countries like Ghana make better use of the English language than French. Offline, there is a lot of progress in archiving the language in books and magazines. Lots of writers have emerged and they have done a lot of work on the language. Hopefully, these writers will translate that into the digital space for generations yet unborn to fully utilize the language.

Existem muitos fatores atrapalhando a existência da língua more nos espaços digitais. On-line, a língua não é ouvida – isso é resultado de barreiras colocadas pelo francês e inglês. O more é amplamente falado em Burkina Faso, mas Burkina Faso é um país francófono – eles falam mais francês do que inglês – e como resultado a língua se perdeu no espaço digital em inglês. Falantes de more nos países vizinhos como Gana fazem melhor uso do inglês do que do francês. Off-line, há muito progresso em registrar a língua em livros e revistas. Muitos escritores surgiram e trabalharam bastante no idioma. Com sorte, esses escritores vão traduzir isso no espaço digital para que as gerações ainda não nascidas utilizem a língua.

RV: Quais são suas motivações para ver sua língua presente nos espaços digitais?

AA: My motivation is driven by my passion to put the language in the limelight so that it will be accessible to those who are far from the indigenous speakers and still want to learn or continue to get in touch with their mother language. Future generations must not lose the quality of the language as a result of our negligence to duly archive the language. The digital space gives a very good environment for one to be able to preserve his/her language, culture and national identity. All these elements give relief and motivation to me for seeing my language present in the digital space. But beyond this, one can be sure that future generations would work tirelessly to improve upon the content being published in Wikipedia and all its sister projects.

Minha motivação é fruto da minha paixão de colocar o idioma nos holofotes para que seja acessível àqueles que estão longe dos falantes nativos e ainda querem aprender ou continuar em contato com sua língua materna. As gerações futuras não devem perder a qualidade da língua como resultado de nossa negligência em registrar devidamente o idioma. O espaço digital fornece um bom ambiente para alguém preservar sua língua, cultura e identidade nacional. Todos esses elementos me dão alívio e motivação para ver minha língua presente no espaço digital. Mas, além disso, podemos garantir que gerações futuras trabalhariam incansavelmente para melhorar o conteúdo sendo publicado na Wikipédia e nos projetos irmãos.

RV: Descreva alguns dos desafios que impedem que sua língua seja amplamente utilizada on-line. 

AA: Lack of understanding of one’s language can discourage a person from trying to utilize the language. Most people do not see reasons why they need to learn their language because the language is not used in any official communication with the state agencies. Additionally, the French/English mix is somewhat challenging. Some Moore speakers also speak either English or French. As these languages are international languages, they are given much more priority than the Moore language. African countries colonized by the Western world adopted foreign languages as the means of all official communication to the government and all government establishments. The media and privately owned enterprises do not make use of the local language. This resulted in a reduction in interest in speaking the local language to children by parents and as a result, the coming generations are gradually losing their language.

Não entender propriamente uma língua pode desencorajar uma pessoa de tentar usá-la. A maior parte das pessoas não vê motivos para aprender sua língua porque ela não é usada em nenhuma comunicação oficial com agências estatais. Além disso, a mistura de francês/inglês é desafiadora. Alguns falantes de more também falam inglês ou francês. Como essas línguas são internacionais, elas ganham mais prioridade do que a língua more. Países africanos colonizados pelo mundo ocidental adotaram línguas estrangeiras como meio de comunicação oficial para o governo e todas as instâncias governamentais. A mídia e empresas privadas não usam a língua local. Isso resultou em uma redução do interesse dos pais em falar a língua local com os filhos e, como resultado, as próximas gerações estão perdendo seu idioma.

RV: Quais medidas concretas você acha que podem ser tomadas para encorajar jovens a começar a aprender a língua ou a continuar usando o idioma?

AA: In this globalized world, being able to speak your native language is something that we need to value. Speaking the language frequently and studying the language will enable one to master the language and have the zeal to utilize it. Inability to speak a good language doesn’t encourage the speaker to speak. People normally will always speak the language they are fluent at rather than what may be challenging to speak. People must find entertainment in the language they speak. Media houses like TV stations, radio stations must have programs that would entertain people in their dialects. Movies, music, poems and news items could have sessions of local language for people to have the zeal in learning the language. Language courses could also be organized for interested people or it could be added to the curriculum to aid learning the language. More so, online tools could be developed to assist people to practice short phrases, learn new vocabulary and even try pronunciation and subsequent speaking.

Neste mundo globalizado, ser capaz de falar sua língua nativa é algo que precisamos valorizar. Falar a língua frequentemente e estudar a língua permite dominá-la e ter a capacidade de utilizá-la bem. Falta de habilidade em falar bem uma língua não encoraja o falante a falar. As pessoas normalmente falam a língua em que são fluentes, e não aquela que pode ser desafiadora para falar. As pessoas precisam encontrar entretenimento na língua que falam. Empresas de mídia como canais de TV e estações de rádio devem ter programas que divirtam as pessoas em seus dialetos. Filmes, música, poemas e notícias poderiam ter sessões de idioma local para pessoas que querem aprender a língua. Cursos de idioma também poderiam ser organizados para pessoas interessadas ou isso poderia ser adicionado ao currículo para ajudar a aprender a língua. Além disso, ferramentas on-line poderiam ser desenvolvidas para ajudar as pessoas a praticar frases curtas, aprender vocabulário e até tentar pronúncia e conversação.