Em 6 de agosto, a Jamaica celebrou o jubileu de diamante da independência da Grã-Bretanha, e a República de Trinidade e Tobago está em seu encalço; as ilhas gêmeas irão celebrar seu próprio 60º aniversário de independência em 31 agosto. Ambas as nações caribenhas estão comemorando a ocasião com pompa e circunstância.
A Jamaica organizou um evento itinerário que começou no dia da Emancipação (1º de Agosto) e durou até o dia da Independência, culminando com um desfile de carros alegóricos muito concorrido e uma grande gala no estádio nacional, no qual houve uma exibição de drones e show de luzes, conforme noticiado, o primeiro do tipo na região, e que foi muito bem recebido. Descrito como “o zênite das celebrações”, os drones tomaram a forma de algumas das personalidades amadas da Jamaica, incluindo a poeta Louise Bennett, ícone do reggae Bob Marley e o astro Usain Bolt:
#Jamaica60 Jamaica Land We Love! pic.twitter.com/hycwSiT1Cr
— Delroy Williams (@MayorWilliamsJA) August 7, 2022
Jamaica60 Jamaica terra que amamos!
Watching this unfold was nothing short of amazing! There’s something inspiring about witnessing the combination of creativity and innovative technology. Hopefully we’ll be able to do shows like this locally with our own talent and resources.
— Cesar B. (@cezbuelto) August 8, 2022
Ver isso acontecer foi simplesmente incrível! Há algo inspirador em testemunhar a combinação de criatividade e inovação tecnológica. Esperamos pode fazer shows como este com nossos próprios talentos e recursos.
Alguns ficaram chateados pelo fato de que muito dinheiro parece ter fluido para fora do país para suplementos estrangeiros:
Suh all of the money from Grand gala gone a Farrin? Didn't even think about who was doing this drone show. Full disclosure of the expenditure for this event might be necessary.
— Christopher McCatty (@donmackia) August 8, 2022
Todo o dinheiro da Grande Gala foi para Farrin? Nem se pensou em quem estava fazendo esse show de drones. A divulgação completa das despesas deste evento pode ser necessária.
Muitos de seus cidadãos compartilharam seus sentimentos sobre a ocasião nas redes sociais. Houve várias mensagens de congratulação:
60 yrs of #independence from the grips of British colonial rule..
(+ 184 years free from the savagery of slavery)
No matter how vastly far we are from our potential as a nation, we still have much to #celebrate.
Today we acknowledge our greatness
🖤💚💛 pic.twitter.com/JEO5A4JQvz
— HumeReports (@DrHumeJohnson) August 6, 2022
JAMAICA | 6 de agosto
60 anos de independência das garras, do domínio colonial britânico.
(+ 184 anos livres da escravidão)
Não importa o quanto estamos longe do nosso potencial como nação, temos muito a celebrar.
Hoje reconhecemos nossa grandeza.
No entanto, também havia preocupações sobre a decisão do governo de gastar tanto quanto gastou, 200 milhões de dólares jamaicanos (pouco mais de USD 1,3 milhão) nas celebrações:
Jamaica 60 grande gala custa por volta de 200m dollars jamaicanos.. pic.twitter.com/JHktq60V8Q
— HagleyJam (@HagleyJam) 9 de Agosto, de 2022
Jamaica 60, festa de gala custa cerca de 200 m dólares jamaicanos…
Isso é o quê? Mais de um milhão de dólares, aonde foi tudo isso? Contabilidade completa, por favor.
Trinidade e Tobago, enquanto isso, tinha planejado um extenso calendário de eventos em homenagem à ocasião, incluindo a produção de um selo e moeda comemorativos, concertos e exibições, um desfile de tambores típicos, e ainda uma série de televisão, que explora a jornada pré e pós-independência do país.
Houve também uma recomendação apresentada pela Ordem dos Advogados Criminais para que o governo considere a libertação de 60 prisioneiros “merecedores” como uma iniciativa pelo 60º aniversário de independência, e há um projeto de embelezamento para a capital, Porto de Espanha.
Contudo, na Jamaica havia preocupações sobre as prioridades do país. Como destacou um editorial do Trinidade e Tobago Express, a pandemia da COVID-19 ainda não terminou e a ameaça da varíola dos macacos está no horizonte. Além disso, o setor público está em meio a negociações salariais, o custo de vida está aumentando e os crimes são uma grande preocupação. No entanto, ao elogiar pontos positivos como “um sistema público de saúde gratuito”, “educação gratuita para todos”, “uma democracia vibrante, mesmo que ainda esteja em desenvolvimento” e “uma unidade nacional ao nível do povo”, o editorial opinou:
[W]e have reason to celebrate this Independence anniversary as a milestone achievement. Our democracy has endured and we have gained, among other things, significant control of our natural resources and deployed them to improving the lives of our citizens.
Temos motivos para celebrar este aniversário da Independência como uma conquista marcante. Nossa democracia persistiu e conseguimos, entre outras coisas, um controle significativo de nossos recursos naturais e os implantamos para melhorar a vida de nossos cidadãos.
Alguns usuários de redes sociais, no entanto, não parecem concordar, pelo menos ao saberem o preço das celebrações da independência. Chegando em 7,5 milhões dólares de Trinidade e Tobago (pouco mais de USD 1,1 milhão), o usuário do Facebook, Sheldon Awai, comentou:
No money to pay workers, contractors, etc. No money for healthcare and they want to play with people's pensions. No money to fix the nation's roads but they can find over $7 million just like that to have a parade.
Sem dinheiro para pagar trabalhadores, empreiteiros etc. Sem dinheiro para cuidados da saúde e eles querem brincar com as pensões das pessoas. Sem dinheiro para consertar as estradas da nação, mas eles podem encontrar mais de $ 7 milhões de dólares para fazer um desfile.
Em uma publicação privada no Facebook que a Global Voices recebeu permissão para citar, Jacqueline Scott, ponderou:
[H]ow much does 7.5 million mean in the scheme of things? It’s not a huge sum to spend on such an important celebration is it?
Well, not if that country was running successfully.
Decent education, medical care, people fed, clothed and jobs available. […]7.5 million is not a huge [sum] for a twin island state to spend.
Why not make it make a difference […] Plant trees! Dedicate community gardens, do SOMETHING that might actually benefit Trinidad and Tobago and our people for years to come.
[O] que 7,5 milhões significam no planejamento das coisas? Não é uma grande soma para gastar em uma celebração tão importante, é?
Bem, não se o país estiver funcionando bem.
Educação decente, assistência médica, pessoas alimentadas, vestidas e empregos disponíveis. […]7,5 milhões não é uma grande soma para um país insular.
Porque não fazer que seja diferente […] Plantar árvores! Dedicar a jardins comunitários, fazer algo que possa realmente beneficiar Trinidade e Tobago e nosso povo pelos próximos anos.
Assim que foi confirmado que haveria fogos de artifício nas celebrações, Vanessa Dalla Costa completou:
Can we pave 60 roads to celebrate independence instead of wasting money on fireworks to terrorize animals?
Podemos pavimentar 60 estradas para celebrar a independência em vez de desperdiçar dinheiro em fogos de artifício para aterrorizar animais?
A professora universitária e colunista Gabrielle Hosein, enquanto isso, sugeriu, zombando, que era conveniente usar este aniversário auspicioso para “reavivar a conversa sobre a descolonização da nossa paisagem de estátuas, ruas e parques”:
[To] be decolonial is to question everything about the postcolonial world from the perspectives of the marginalised and oppressed, those least remembered or valued, those seeking to right historical wrongs, and those who radically challenged social order as it was forcibly established over hundreds of years.
It is to champion care, freedom, justice and solidarity over mere continuity, whether in relation to law, governance, schooling, gender or sexuality. With these values in mind, everything about ourselves, our landscape and our institutions is up for renewed self-determination.
Ser um país descolonizado é questionar tudo sobre o mundo pós-colonial a partir das perspectivas dos marginalizados e oprimidos, aqueles menos lembrados ou valorizados, aqueles que buscam corrigir erros históricos, e aqueles que desafiaram radicalmente a ordem social como ela foi estabelecida à força ao longo de centenas de anos.
É defender o cuidado, a liberdade, a justiça e a solidariedade sobre a mera continuidade, seja em relação ao direito, governo, escolaridade, gênero ou sexualidade. Com esses valores em mente, tudo que se refere a nós mesmos, nossa paisagem e nossas instituições está em jogo em busca de uma autodeterminação renovada.
Nesse sentido, o jornalista PeterRay Blood enfatizou no Facebook:
Today, Thursday, August 11, is World Steelpan Day. The national instrument of Trinidad and Tobago needs to be legally proclaimed before the 60th anniversary of Independence on August 31.
Hoje, quinta-feira, 11 de agosto, é o Dia Mundial do Tambor Metálico. O instrumento nacional de Trinidade e Tobago precisa ser legalmente proclamado antes do 60º aniversário da Independência, em 31 de agosto.
Sem dúvida, 60 anos de independência é um marco que requer algum tipo de reconhecimento, mas em nações jovens como Jamaica e Trinidade e Tobago, que atravessaram os horrores da ocupação, escravidão e colonialismo, e lutaram por seu direito a um governo próprio, o futuro que a independência esperava forjar ainda é um trabalho em andamento.
Nas palavras de Hosein, “a independência não foi apenas um momento histórico, algo que aconteceu e acabou, mas um ato contínuo e coletivo de forjar uma nação de um amor sem desculpas pela liberdade, à medida que seu significado evolui ao longo do tempo”. Talvez até mais do que celebração, os 60 anos podem ser um momento de reflexão e regeneração.