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Consumidores de Trinidade e Tobago estão chocados com etiquetas de preço dos legumes

Categorias: Caribe, Trindade e Tobago, Alimentação, Economia e Negócios, Mídia Cidadã

Foto de etiqueta de supermercado amplamente divulgada mostra os preços de uma berinjela cultivada localmente em Trinidade e Tobago.

Na metade de julho, fotos de itens de alimentação em oferta nas Lojas Massy, uma das redes de supermercado mais populares de Trinidade e Tobago, começaram a circular nas redes sociais. O que atraiu a atenção das pessoas foram as etiquetas de preço dos itens: uma libra (aproximadamente meio quilo) de berinjela (conhecida localmente como melongene ou baigan) custava TT$ 30,00 (US$ 4,41). As berinjelas estavam sendo vendidas entre TT$ 50,00 e 75,00 (US$ 7,34-11) a unidade, deixando compradores intrigados com o aumento drástico do preço do produto que é cultivado localmente.

Algumas semanas antes, o Banco de Desenvolvimento do Caribe (BDC) [1] havia tuitado [2] sobre um relatório de 2020 do Banco Mundial sobre segurança alimentar regional [3], sugerindo que aquela região enfrentaria uma grave crise alimentar, caso as nações não introduzissem reformas agrícolas urgentemente.

À medida que se espalhava o protesto nas redes sociais, uma postagem o veículo de comunicação Loop News sugeriu que o aumento do preço era resultado de chuvas fortes que causaram enchentes em áreas agrícolas. Wayne Inniss,  presidente da Corporação Nacional de Marketing e Desenvolvimento Agrícola (National Agricultural Marketing and Development Corporation, NAMDEVCO) classificou a situação [4] como um caso de “Economia básica: a demanda é muito maior que a oferta e, com a escassez da oferta, os preços dispararam”.

A página do Facebook Newsauce não engoliu essa lógica [5]:

It is 2022…and Im still hearing adverse weather conditions as a reason for food price fluctuation…as if farming techniques have not evolved since 1492.

Estamos em 2022… e eu ainda estou ouvindo que condições climáticas adversas são a razão para variação dos preços de alimentos… até parece que técnicas agrícolas não evoluíram desde 1492.

Inniss sugeriu que consumidores comecem a cultivar os seus próprios legumes [4] para ajudar na redução dos custos com alimentação [6].

Logo em seguida, as Lojas Massy informaram [7] que os preços nas fotos tratavam-se de um engano; os itens tinham sido precificados incorretamente, e que uma vez que a empresa tomou conhecimento do engano os produtos foram “removidos”, […] precificados novamente e substituídos”.

Nem todos os usuários das redes sociais engoliram isso. A usuária do Facebook, Natasha Alfred, comentou em um tópico de um grupo [8]:

I believe Massy deliberately put that price on the melongene to ‘test the waters’ and the public exploded! Now there is a pic of a cauliflower at Massy's Westmoorings branch with a $70 price tag on it…is that a mistake too???

Eu acredito que a Massy deliberadamente colocou o preço no melongene para “ver se colava” e o público explodiu! Agora tem uma foto de uma couve-flor na filial da Massy em Westmoorings com uma etiqueta de preço de US$ 70,00… isso é um erro também?

Logo em seguida, Newsauce postou fotos [9] da couve-flor infratora, junto com uma pitaia que apresentava uma etiqueta de preço de TT$ 168,17 (US$ 24,40), simplesmente perguntando: “Erros?”

[9]

Imagens amplamente divulgadas de couve-flor e pitaia nas Lojas Massy, em Trinidade e Tobago, repostado por Newsauce no Facebook [9].

Os internautas não resistiram. Yolande Dick perguntou, usando um trocadilho [10]:

So the price gun fall and bounce it head? Come nah man Massy

Então a arma do preço caiu e disparou direto na cabeça? Qual é Massy.

Annmarie Tafari acrescentou [11]:

How come the mistake wasn’t a cheaper price instead of a higher one

Como é que não erraram o preço para menos em vez de para mais?

Sobre o preço exorbitante da pitaia, Jenelle Mayers debochou [12]:

Saw the dragon fruit price about two weeks ago and simply asked ‘HOW?’ especially since that fruit tastes like failed hopes and dreams. There was no mistake there!

Vi o preço da pitaia cerca de duas semanas atrás e perguntei “COMO?” especialmente porque essa fruta tem o sabor de esperanças e sonhos fracassados. Não teve erro aqui!

Valerie Bowen, outra usuária do Facebook, postou uma imagem de um pacote de abóbora fatiada com uma etiqueta de preço de TT$ 40,58 [13] (US$ 5,96) e acusou o supermercado de “fura-olho”, alegando que mercados de agricultores vendem o mesmo produto por TT$ 6,00 (US$ 0,88) por libra (aproximadamente meio quilo). Porém, logo em seguida, comentários questionaram a lógica de Bowen [14], considerando que o preço anunciado pelas Lojas Massy era de TT$ 5,96 (US$ 0,87) por libra.

La Toya Hart sugeriu [15]:

This pumpkin from Massy is slightly cheaper per pound that the price you quoted from the Farmers Market. There's obviously not 7 pounds of pumpkin in that tray so there's an error in the labelling.

Essa abóbora da Massy está um pouco mais barata por libra que o preço que você citou do Mercado dos Agricultores. Obviamente não tem 7 libras de abóbora naquela bandeja, então não tem erro na etiqueta.

Newsauce concordou, dizendo [16]:

Massy taking this for a joke now?
This doesn't look like 6.5 lbs of pumpkin to me.

Massy levando isso na brincadeira agora?                                                              Isso não parece uma abóbora de 6,5 libras para mim.

Depois de ler um artigo do Toronto Star, que alegava que supermercados no Canadá têm aumentado os preços [17] mais rápido do que o mercado e lucrado em cima da inflação, Newsauce também aconselhou [18]:

Keep an eye on prices at your local groceries and see if they are doing the same thing.

Fiquem de olhos abertos para os preços dos seus mercados locais e veja se eles estão fazendo a mesma coisa.

Embora não haja atualmente nenhum dado que corrobore as alegações de aumento de preço desproporcional em Trinidade e Tobago, fica claro que consumidores locais estão sentido no bolso [19]. As grandes e imprevisíveis mudanças de preço também corroeram a boa-fé do público [20] que se sente insuficientemente apoiado [21] por organizações como a Divisão de Assuntos do Consumidor do Ministério do Comércio e da Indústria [22], que possui como atribuição a defesa e proteção dos interesses dos consumidores.

Enquanto isso, muitos tobaguianos usuários de redes sociais têm compartilhado notícias [23] sobre a iniciativa de Bds$ 17,5 milhões da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, para redução do alto custo de vida na ilha [24], instigando Janae Campbell a comentar:

Here [come] the Trinis comparing our country to Bim [Barbados]. Bear in mind we already have a truck load of subsidies. Bear in mind Barbados’s cost of living is one of the highest in the the Caribbean region if it isn’t number 1. So with that being said, I’m glad the move was taken but I still maintain we were blessed in TT.

Lá [vêm] os Trinis comparar o nosso país com Bim [Barbados]. Tenha em mente que nós já temos um caminhão carregado de subsídios. Tenha em mente que o custo de vida de Barbados é um dos mais altos do Caribe, senão o mais alto. Assim, eu estou feliz pela iniciativa, mas ainda acredito que fomos abençoados em TT.

Nann DeGool retrucou [25]:

At least she is doing things SUBSTANTIAL to benefit persons that […] fall on a particular socio economic scale. […] At least she is doing something…anything to alleviate the financial burdens of her ppl!

Pelo menos ela está fazendo coisas SUBSTANCIAIS para beneficiar as pessoas que […] se enquadram em uma escala socioeconômica específica. […] Pelo menos ela está fazendo alguma coisa… qualquer coisa para aliviar o peso financeiro sobre o povo dela!

A primeira-ministra Mottley confirmou [26] que todas as partes da cadeia de suprimentos – agricultores, supermercados, e atacadistas-distribuidores – concordaram em manter a margem de lucro em certos produtos essenciais em não mais que 15% em um esforço para ajudar a aliviar a tensão financeira sobre os cidadãos.

Em Trinidade e Tobago, dados do Escritório Central de Estatística (Central Statistical Office, CSO) revelaram [27] que o custo de alimentação havia aumentado em 0,3% em apenas um mês, de abril a maio de 2022.