A deterioração da Nigéria em uma nação perigosamente insegura  

Policiais em Kaduna, centro-sul da Nigéria. Imagem de Allan LEONARD/MrUlster, 8 novembro de 2013. (CC BY-NC 2.0)

Nigéria, o país mais populoso e uma das maiores economias da África, se tornou um lugar perigoso e inseguro. De bandidos armados no noroeste ao terrorismo jihadista do Boko Haram no nordeste, a insegurança piora no país mais populoso da África. 

A ironia dos atuais desafios da segurança é que o país fez, e contínua a fazer, enormes investimentos de recursos financeiros, humanos, materiais e militares para promover o desenvolvimento da África, a paz e a segurança no continente. Isso explica o porquê “os países africanos continuam a admirar a Nigéria” apesar de suas “falhas como nação”, afirma John Usanga, embaixador da Nigéria na Guiné Bissau. Entretanto, atualmente a Nigéria é o 17º país menos pacífico do mundo, de acordo com o Índice Global da Paz de 2022. 

Trem Kaduna-Abuja

Em 28 de março de 2022, um trem que fazia o trajeto entre Kaduna-Abuja foi atacado por terroristas, e, pelo menos 62 pessoas foram mantidas reféns e nove foram mortas. Em um vídeo gravado antes de um dos reféns ser liberado, os bandidos teriam dito que “o governo deveria se apressar em se reunir conosco antes que transformemos esse lugar em matadouro, porque matar essas pessoas não é nada para nós”. Porém, o mais chocante foi a afirmação do bandido de que “Não é por dinheiro. Não fazemos isso por dinheiro. O governo sabe o que queremos”, de acordo com o jornal nigeriano Vanguard. Esse ato de violência aparentemente foi motivado por uma disputa pessoal entre os bandidos e funcionários do governo. Em meio a esse cenário político, não surpreende que a população esteja aterrorizada e que 242.326 nigerianos tenham fugido do país apenas no fim de 2019, de acordo com a divisão de Migrantes e Refugiados do Vaticano. 

Boko Haram

O grupo terrorista Boko Haram, fundado em 2002 no nordeste de Maiduguri, tem sido a grande ameaça dos militares nigerianos ao longo dos anos. O grupo terrorista teria sido responsável pela morte de mais de 350.000 nigerianos desde 2009, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU). Em 2014, o grupo terrorista, cujo nome “Boko Haram” significa “educação ocidental é proibida”, sequestrou 276 alunas entre 16 e 18 anos, em sua maioria cristãs da Escola Secundária para Meninas do governo da cidade de Chibok, no estado de Borno, na Nigéria. Estima-se que 109 meninas ainda estejam em cativeiro. Mais recentemente, em 6 de junho, terroristas do Boko Haram incendiaram três caminhões na popular estrada de Damaturu-Maiduguri, em Borno, no nordeste da Nigéria, informou a agência nigeriana de notícias Sahara Reporters. 

Os nigerianos temem por sua segurança e com razão. Em 2019, foram registradas cerca de 12 mortes para cada 1.000 habitantes na Nigéria, e em 2018, registrou-se 838 casos de sequestro no país, segundo a empresa de coleta de dados alemã Statista

Normalização da violência?

Entretanto, a situação da segurança no país não é ameaçada apenas por bandidos armados ou pelo terrorismo, mas também pelos cidadãos.  

Em 29 de março, no Estádio MKO Abiola em Abuja, capital da Nigéria, após o apito final, torcedores invadiram o campo e destruíram o estádio. Este violento ataque seguiu-se à derrota da Nigéria na Copa das Nações Africanas, competição em que, supostamente, eram favoritos, diz a ESPN. Além disso, o país não se classificou para a Copa do Mundo pela segunda vez na história (a primeira vez foi em 2006). Torcedores ganenses foram supostamente forçados a entrar em campo após vários ataques nas arquibancadas. A violência pode ter desencadeado um ataque cardíaco no Dr. Joseph Kabungo, o oficial de doping do jogo Abuja-Gana, que morreu logo após o fim do jogo.  

Da mesma forma, em 16 de abril, no Sani Abacha Stadium de Kano, torcedores do Kano Pillar enfurecidos invadiram o campo aos 82 minutos de jogo, destruindo veículos, atacando outros torcedores, fazendo jogadores e árbitros fugirem, forçando o jogo a terminar antes do tempo. O incidente aconteceu a menos de um mês depois das terríveis cenas das eliminatórias da Copa do Mundo da Nigéria, no jogo contra Gana no Estádio MKO Abiola, em Abuja. 

Isso mostra que os cidadãos nem sempre são as vítimas, mas também podem ser agressores violentos. Desta forma, a insegurança na Nigéria continuará a se deteriorar com os agentes de má fé, que agravam a situação, consciente ou inconscientemente. Em contrapartida, em um relatório anual do Índice Global da Paz, países africanos como Maurício, Botsuana, e até mesmo Gana, vizinhos da Nigéria, são considerados países muito mais seguros. Maurício e Gana estão, respectivamente, em 28º e 38º lugares na lista de países mais seguros do mundo. 

Quase todas as partes do país são perigosas. Esta instabilidade é resultado direto de civis, entidades governamentais e pessoal da segurança nacional envolvidos em atividades semelhantes a terrorismo. A Nigéria deve agir imediatamente como uma frente unificada (cidadão e governo) para implementar uma estratégia não apenas para retardar, mas para reverter esse movimento, defendendo seu povo e sua nação para que possa continuar a ser uma Nigéria “unida” para as futuras gerações. 

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