Os pioneiros da música highlife igbo na Nigéria

Yam Festival igbo em Dublin. Imagem por Ji-Elle via Wikimedia Commons. 30/08/2008. (CC BY-SA 2.0)

A música highlife nigeriana contribuiu fortemente para o cenário cultural do país desde a década de 1960, quando se tornou um dos gêneros musicais mais populares

Uma característica da música dessa época era o domínio dos instrumentos, que se destacava na maioria das canções. Isso era importante já que as interpretações eram, em geral, ao vivo. A mistura dos vocais acústicos com a rica instrumentação – guitarra ou piano com ogene, ichaka e oja — conferia ao gênero highlife uma característica distinta. Músicos igbos do highlife estavam na vanguarda das transformações desse gênero musical.    

Desde um dos compositores mais prolíficos até os mais inovadores, estas são algumas das figuras mais destacadas que deixaram uma marca importante no gênero highlife. 

Osita Osadebe

Imagem: Capa do álbum do chefe Osita Osadebe para ‘Osadebe ‘78 (Vol. 2)

Osita Osadebe (1936-2007), o rei do highlife nigeriano, foi pioneiro na transformação do tradicional modo de cantar igbo em highlife. O highlife de Osadebe combinava o repertório de chamada e resposta, com um ritmo rápido que estimula a dança. Sua música era geralmente para entretenimento, ganhando o título de “Doutor da Hipertensão”. À medida que amadurecia como músico, o tema de suas canções passou para as questões sociais e os desafios que enfrentava na vida.

Um compositor prolífico, Osadebe escreveu cerca de 500 canções, mas a sua genialidade estava no fato de que cuidava de cada aspecto de sua produção musical, da composição até as interpretações ao vivo. Isso se dava, segundo Osadebe, em razão da falta de diretores e produtores musicais na época. “Era basicamente o esforço de um homem só”, disse em uma entrevista. “Eu monto a base, componho as canções, faço o arranjo, escrevo as letras, faço as vozes e conduzo a banda”.

Muitas de suas canções, como “Nwanne m ebizina” (Irmão não chore) ou “Makojo” [anyi ga-ebi] (Não importa o quão ruim as coisas estejam [vamos continuar vivendo]) oferecem esperança diante das dificuldades. Um de seus sucessos mais conhecidos ‘Osondi, Owendi,’ engloba a sabedoria filosófica fortalecida com provérbios igbo:

Ife sozili onye sozi chi yá/ Na enu uwa nke a anyi no nu/ O bu onye ka zi Chukwu/
O gbanari chi ya na oso nu/ O na ebukwa chi ya uzo anaba nu/ Ife na aso gi/
Okwazi ya na aso zi onye ozo nu/ Mana afa egwu a m na etizi nu/ Osondi owendi
Maka Ka Ife uwa aso ndi ufodu nu/ Etu a Ka o na ewezi ndi ufodu/
Osondi owendi/ Osondi owendi/ Osondi owendi/ Osondi owendi/ Osondi owendi

É dito que o que apraz alguém, apraz seu chi (deus pessoal)/ Mas no mundo em que vivemos/ Quem é maior que Deus/ Aquele que corre mais rápido que seu chi/ Certamente irá afastar-se de seu chi/ Porque o que te apraz / Pode não aprazer os outros/ Mas o nome da música que eu faço é / Osondi owendi (assim como apraz alguns, aborrece outros)…

Oliver de Coque

Oliver de Coque album cover “Biri Ka Mbiri” (Live and let live, in Igbo language)

Oliver de Coque, nascido Oliver Sunday Akanite (1947-2008), foi um músico e guitarrista talentoso, com mais de 70 álbuns gravados. De Coque foi treinado por Piccolo, um guitarrista congolês que vivia na Nigéria. Seu estilo musical é caracterizado por todos os elementos do gênero highlife, mas com toque especial de guitarra. De fato, Coque fez o highlife com uma base de guitarra uma característica dominante do gênero. 

Como Osadebe, de Coque explorou profundamente o repertório da sabedoria de sua identidade igbo. Com canções como “Biri ka m biri” (Viva e deixe viver) e “Uwa bu aja” (Este mundo é apenas areia), ele enfatizou a verdade eterna de uma coexistência pacífica e harmoniosa com os outros, levando em conta a fugacidade da existência terrena.

No entanto, de Coque deixou sua marca ao popularizar a tendência, que ainda existe até hoje, de músicos exaltando membros ricos e famosos da sociedade. “Ana Enwe Obodo Enwe”(Existem aqueles que devem à cidade) e “Peoples Club of Nigeria” são indicativos do espírito igualitário igbo que valorizam a indústria, as viagens e a diplomacia como impulsionadores da prosperidade pessoal, que por sua vez lhes dá prestígio e fama.

Mike Ejeagha

Mike Ejeagha também foi um inovador da highlife igbo de akuko na egwu, que significa contar histórias, empregando música para contar o folclore igbo. Isso é evidente em canções como “Omekagu” (Aquele que se comporta como tigre) e “Enyi Ga Achi” (O elefante governará). As letras das canções de Ejeagha possuem um rico repertório de provérbios apresentados em estilo didático. Ele foi a primeira pessoa a empregar esse estilo na música highlife.

Em “Uwa mgbede” (A vida à noite), ele conta a história da vida: como alguém cresce, trabalha e depois terá que enfrentar a realidade da velhice (uwa mgbede). Portanto, as pessoas devem levar a vida com leveza.

Nico Mbarga

Nico Mbarga (1950-1997), um músico camaronês-nigeriano de highlife, nasceu em Abakaliki, estado de Ebonyi, no sudeste da Nigéria. Mbarga é famoso pela criação muito singular de um híbrido do estilo congolês e nigeriano. Seu single de 1976 ‘Sweet Mother’ foi um dos maiores sucessos da África, vendendo 13 milhões de cópias. Produzido em pidgin nigeriano, “Sweet mother” continua a ser um sucesso duradouro:

Sweet mother, I no go forget you/ For dey suffer we you suffer for me, yeah/ Sweet mother, I no go forget you/ For dey suffer we you suffer for me, yeah/ When I dey cry, my mother go carry me/ She go say my pikin wetin you dey cry, yeah, yeah/ Stop stop, stop stop, stop stop/ Make you no cry again oo/ When I wan sleep, my mother go pet me/ She go lie me well-well for bed/ She go cover me cloth say make you sleep/ Sleep sleep my pikin oooo

Querida mãe, eu não vou esquecê-la/ Por todo sofrimento que você suportou por mim/ Querida mãe, eu não vou esquecê-la/ Por todo sofrimento que você suportou por mim/ Quando eu chorar, minha mãe irá me carregar/ Ela vai dizer, meu filho por que você chora, sim, sim/ Pare pare, pare pare, pare pare/ Não chore mais/ Quando eu quiser dormir, minha mãe vai me acariciar/ Ela me deitará na cama/ Me cobriremos com uma manta, embalando meu sono/ Durma, durma, meu filho

Como enfatizou Joseph-Achille Mbembe, filósofo camaronês e intelectual público, “a música sempre foi uma celebração da perpetuidade da vida”. A música highlife da Nigéria enfaticamente enunciou essa alegria de viver.

Leia a segunda parte desta série sobre como a música highlife igbo deu esperança após uma guerra civil devastadora aqui.

Encontre a playlist do Spotify da Global Voices destacando outras canções nigerianas igbo do gênero highlife aqui. Para mais informações sobre música africana, consulte a nossa cobertura especial, A Journey into African Music.

Aqui está uma playlist de canções tradicionais de highlife igbo: 

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