Esta reportagem é baseada na cobertura original da Meta.mk. Uma versão editada é republicada aqui sob um acordo de parceria de conteúdos entre a Global Voices e a Metamorphosis Foundation.
Em 2015, a Macedônia do Norte aderiu ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), um estudo mundial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Desde então, tem recebido pontuações baixas. Os últimos dados de 2018 posicionam o país em último lugar na Europa em três áreas fundamentais: matemática, ciência e leitura. Isso também afeta o nível de letramento midiático no país. O caso de um prodígio matemático da Escópia exemplifica a necessidade de reformas sistêmicas para resolver o problema da baixa qualidade do sistema educativo.
Ylli Morina não é um garoto que passa o tempo jogando futebol com seus amigos. Ele tem apenas 13 anos de idade, vive no subúrbio de Shuto Orizari na Escópia e passa quase todo o seu tempo resolvendo exercícios e problemas de matemática e física. Diferentemente de seus colegas, devido aos seus conhecimentos, frequenta aulas no 8º ano do ensino básico em vez do 7º ano. Ele compartilha seus saberes livremente no seu canal do YouTube, razão pela qual vários estudantes universitários de arquitetura, física, economia e outras ciências relacionadas à matemática já ouviram falar desse prodígio.
Estudantes universitários da Macedônia do Norte e de outros países têm procurado sua ajuda. Ylli Morina dá aulas particulares para alguns deles em sua casa, como o estudante de economia Bunjamin Bahtijari. Numa declaração para a Meta.mk, Bahtijari disse:
“I study here with Yilli. It’s a little odd, because Yilli is a kid, but he knows a lot of math and knows how to explain the exercises very well. He explains the exercises and the problems that my professor can’t explain to me well, better than her.”
‘Eu estudo aqui com Ylli. É um pouco estranho, porque Ylli é uma criança, mas sabe muito de matemática e explica muito bem os exercícios. Ele explica os exercícios e problemas que a minha professora não consegue explicar bem, melhor do que ela.’
Ele acredita que seu jovem professor tem um futuro brilhante pela frente.
“Ele é muito talentoso. Provavelmente um dia será como Elon Musk, já que é igualmente talentoso”, disse Bahtijari.
Viver em Shuto Orizari, um dos municípios mais pobres do país, tem sido uma desvantagem para Ylli. Como as escolas primárias dependem diretamente do financiamento dos governos locais, a falta de recursos e/ou de priorização por parte dos tomadores de decisão resulta em pouco apoio básico para elas.
Uma vez que a sua escola primária carece de aulas e livros didáticos adequados às suas necessidades e talento, Ylli tem ampliado seus conhecimentos na internet, ouvindo professores do exterior.
Sua mãe, Imrane Morina, no intuito de ajudá-lo, optou por uma mudança de carreira e até desistiu dos seus estudos de medicina. Ela diz que Ylli sabia ler e escrever desde muito pequeno. Quando ele tinha apenas quatro anos, apaixonou-se pela matemática e, desde então, não parou de resolver problemas matemáticos. Ele começou então a divulgar seus conhecimentos e a gravar vídeos educativos por conta própria.
O jovem matemático explicou:
“When I was 9, I started a channel for math exercises and problems. In the beginning, I posted videos about solving some easier problems and exercises. But when I was solving the problems, I wasn’t always sure, so I consulted a professor from Kosovo, professor Skender Kastrati. Then, while I was still consulting him, I began to upload the math problems that I solved on Youtube. But I was also watching other professors from India, Pakistan, America, Kosovo, wherever from I could. The problems they were giving I solved and posted them on Youtube. This is how I learned. Then I began working with professor Musa Zuka and I also started participating in contests.”
‘Quando eu tinha 9 anos, comecei um canal para exercícios e problemas de matemática. No início, postava vídeos sobre a resolução de alguns problemas e exercícios mais fáceis. Mas quando estava resolvendo os problemas nem sempre tinha certeza, por isso consultei Skender Kastrati, um professor do Kosovo. Depois, enquanto ainda estava consultando-o, comecei a fazer upload no YouTube dos problemas matemáticos que eu resolvia. Mas também observava outros professores da Índia, do Paquistão, da América, do Kosovo, de onde quer que eu conseguisse. Eu resolvia os problemas que eles davam e publicava no YouTube. Foi assim que eu aprendi. Depois comecei a trabalhar com o professor Musa Zuka e também passei a participar de concursos.’
A maioria dos vídeos no seu canal do YouTube é em albanês, sua língua materna, mas ele também produziu alguns em outros idiomas, incluindo o inglês.
Até o momento, Ylli Morina havia conquistado o primeiro lugar em vários concursos municipais, estaduais e regionais de matemática ou ciências. Mas ele também se orgulha dos sucessos dos estudantes universitários para os quais dá aulas particulares.
“Os estudantes entram em contato comigo sempre que precisam de mim, o que acontece duas ou três vezes por semana. E eles são bem-sucedidos. Por exemplo, dois estudantes que eu estava preparando para testes de matemática conseguiram ser aprovados. Um deles é do Kosovo, e o outro da África, a quem eu estava ajudando com Limites”, disse Ylli, acrescentando que escreveu dois livros com problemas que ainda não foram publicados.
Sua história foi apresentada em um documentário e na mostra de vídeo juvenil Shortcut, produzida em macedônio e albanês, todos destinados a aumentar a conscientização pública e promover a responsabilização e soluções por parte das autoridades competentes.
Ylli Morina espera poder continuar sua formação em um ginásio de matemática, em vez de tatear no escuro durante mais um ano estudando os materiais do ensino primário que já conhece. (Nota do editor: na Macedônia do Norte, a escola primária é constituída por 9 anos, sendo o 9º ano equivalente ao 8º ano de acordo com o antigo sistema clássico).
Sua professora da escola primária, Meral Riza, só tem elogios para Ylli. No entanto, ela disse que, infelizmente, os programas educacionais na Macedônia do Norte não estão preparados para crianças talentosas, o que muitas vezes constitui um problema tanto para essas crianças como para os pais.
A mãe de Ylli concorda. Ela disse que, como mãe, é frequentemente confrontada com problemas, devido à falta de programas adaptados para crianças talentosas. “Não podemos direcionar adequadamente os talentos neste sistema, porque os alunos tentam ser perfeitos apenas em relação às suas notas, mas não o suficiente para desenvolver seus verdadeiros talentos”, disse.
Morina refere-se à prática mantida por muitas escolas públicas e privadas de dar notas altas à maioria dos alunos, uma vez que a média geral alta ou “perfeita” é um pré-requisito para que eles possam escolher a escola secundária ou universidade da sua preferência. Os professores são vulneráveis a várias influências, desde coerção e corrupção por parte dos pais, até à compaixão, obrigando-os a atribuir notas mais elevadas a crianças que não atingem os resultados desejados.
A ausência de testes e critérios de classificação unificados cria situações em que diversas escolas primárias formam alunos “nota 10″ com níveis de conhecimento e competências muito diferentes, tanto a nível individual como escolar. A burocratização do sistema enfatiza os critérios formais em vez de adequar a experiência educacional às necessidades e talentos de cada criança. No passado, as tentativas por parte de regimes populistas de impor “testes externos” saíram pela culatra, uma vez que a implementação dava ênfase à formalidade e punição, incluindo a sanção de professores e a traumatização dos alunos, que se rebelaram em protestos. O governo cancelou o esquema em 2017.
Assim como outros países dos Bálcãs e da Europa Oriental, a Macedônia do Norte tem poucos recursos naturais e industriais, e os últimos dados do censo revelaram um rápido envelhecimento da população. O potencial de recuperação econômica do país é prejudicado pela fuga de cérebros. Isso inclui famílias com crianças com potencial de gênio — alguns pais preferem emigrar para a Europa Ocidental ou para os Estados Unidos para dar aos seus jovens prodígios uma melhor chance de realizar o seu potencial, matriculando-os em sistemas educacionais que apreciam esse tipo de diferença. Para Ylli e outros como ele, no entanto, a internet proporcionou um caminho alternativo para ganhar e transmitir conhecimento enquanto permanecem no país.