Podem os países da África Lusófona tornarem-se solução para a crise energética na Europa?

Com a guerra na Ucrânia, os países ocidentais estão tentando diversificar sua dependência do gás da Rússia e até recorrendo aos países africanos produtores de gás como uma alternativa viável. Imagem: Giovana Fleck/Global Voices

Quando o conflito entre a Rússia e a Ucrânia eclodiu, vários foram os questionamentos feitos sobre os impactos que tal poderia representar em termos económicos, sobretudo no sector energético. Se por um lado temia-se a subida dos preços de alimentos como o trigo, igualmente colocou-se ao debate a possibilidade de escassear gás e seus derivados para vários países da Europa. Por esta razão, países ocidentais tentam diversificar a dependência de gás da Rússia, por meio da perspectiva de que os países africanos produtores de gás possam ser uma alternativa viável.

Sobre este assunto, no dia 12 de Maio de 2022, a analista Marisa Lourenço, da entidade Control Risks, que acompanha as economias de língua portuguesa, disse à Lusa que Angola é o país africano com mais potencial para satisfazer as necessidades energéticas da Europa, que procura afastar-se da Rússia:

Angola tem o maior potencial para satisfazer as necessidades energéticas da União Europeia a curto prazo; é um dos poucos países da região que já exporta gás para mercados internacionais, incluindo Brasil, Japão, China e Coreia do Sul.

A capacidade de aumentar a produção de gás, juntamente com a bem estabelecida cadeia de abastecimento, faz deste país [Angola] o vencedor imediato da mudança geopolítica provocada pela guerra na Ucrânia, com a Guiné Equatorial, República Democrática do Congo, Mauritânia e Senegal bem posicionados para beneficiar nos próximos dois a três anos.

Angola não só tem uma infra-estrutura de exportação que lhe confere uma vantagem sobre os seus pares regionais, permitindo à União Europeia aceder às cadeias de abastecimento, como as grandes companhias petrolíferas não têm de investir tanto capital para aceder às reservas e são capazes de aumentar a produção.

Um dos destaques é o facto de Angola possuir uma empresa própria que gere os seus recursos, a Sonangol, razão pela qual a pesquisadora elogiou tal aspecto, sublinhando que é uma entidade competente que pode atrair trabalhadores estrangeiros altamente qualificados, destacando que os países europeus já estão a olhar para Angola como um parceiro a ter em conta.

Refira-se ainda que as oportunidades para Angola podem surgir a partir dos laços históricos com Portugal, ou ainda do reforço das relações com a Alemanha e França, desde que João Lourenço chegou ao poder em 2017. Sublinhe-se que o Presidente Angolano visitou vários países Europeus nos últimos meses.

Em Abril deste ano, foi reportado que a Itália quer mais gás angolano para diminuir dependência da Rússia. Para tal, Itália e Angola assinaram um acordo no domínio da cooperação energética que visa, entre outros objectivos, aumentar as exportações de gás a partir de Angola e diminuir a dependência do país europeu face ao abastecimento russo.

Sabe-se ainda que a 18 de Maio deste ano, os principais Produtores e Exportadores de Petróleo de África reuniram-se em Luanda, a capital angolana. Procuravam soluções para aumentar o investimento no sector petrolífero e a transição energética.

Sobre as perspectivas para a Guiné Equatorial e Moçambique, outros dois países africanos de língua portuguesa, foi referido que um deles será um dos maiores produtores de gás do mundo até ao final desta década:

Moçambique, tal como a Nigéria, não poderá agarrar a oportunidade, a primeira devido à situação de segurança volátil e a segunda devido ao desenvolvimento limitado do sector do gás e a um quadro regulamentar confuso.

A insurreição militar na província de Cabo Delgado em Moçambique está a atrasar o progresso do país, de um pequeno produtor que vende a maior parte da sua produção para a África do Sul a um exportador global, com exportações que deverão começar em 2026, “mas esta data ainda está sujeita ao ambiente volátil de segurança.

Em Março do presente ano, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália, Luigi Di Maio, visitou Moçambique, tendo garantido ainda que os investimentos levados a cabo pela Eni para a exploração de gás natural em Cabo Delgado prosseguem, acreditando-se que venham a ser uma mais-valia para as economias de Moçambique e da Itália. Segundo se sabe, a Eni prevê iniciar este ano a exploração de gás na Área 4 da bacia do Rovuma, num projecto que consiste em poços submarinos e plataforma flutuante com produção de 3,4 milhões de toneladas por ano.

Já para o caso da Guiné Equatorial, a análise refere que o país deveria beneficiar da sua ligação com Espanha, que é o seu maior parceiro comercial:

O que significa que terá a oportunidade de reanimar campos de gás adormecidos para servir outros mercados na União Europeia nos próximos dois a três anos”.

A Guiné Equatorial, tal como Angola, tem a infra-estrutura de exportação pronta, com carregamentos não só para Espanha mas também para o Chile e os Estados Unidos, mas uma burocracia ineficiente dificulta a atractividade do mercado, embora o aumento da procura e a oportunidade para as grandes companhias petrolíferas se afastarem da Rússia possa motivar melhorias no ambiente empresarial.

Sabe-se que para além dos países lusófonos em África, existem outras linhas de busca de gás em acção. Por exemplo, em Abril deste ano, a terceira maior economia da UE, a Itália, garantiu um acordo com a Argélia para mais importações de gás natural. O país do norte da África já fornece gás para a Europa por meio de três gasodutos, um dos quais vai para a Itália. Os outros dois oleodutos estão ligados à Espanha.

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