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Orgulho ou vergonha? Influencers da Rússia e a guerra na Ucrânia

Categorias: Europa Oriental e Central, Rússia, Guerra & Conflito, Língua, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, RuNet Echo, Civic Media Observatory, Country Monitor Observatory 2021-2022

Ilustração criada pela Global Voices.

Essa história faz parte do Undertones, o boletim de notícias do Observatório de Mídia Cívica da Global Voices. Saiba mais sobre a nossa missão [1], metodologia [2] e dados públicos disponíveis [3]. Inscreva-se no Undertones [4].

A guerra contra a Ucrânia está entrando no terceiro mês, e os influencers da orgulhosa, patriótica e pró-guerra Rússia, continuam oprimindo outras vozes nas plataformas digitais de seu país. Alguns russos têm coragem de expressar a vergonha que sentem pelo seu país na guerra contra a Ucrânia, mas se eles moram na Rússia, arriscam a liberdade e a integridade física. As emoções estão fortes em ambos os lados do espectro.

Há pouca opinião pública em relação aos sentimentos dos russos sobre a guerra e, o que existe, deve ser visto de forma duvidosa em um país onde qualquer forma de opinião contrária é severamente reprimida. As plataformas de redes sociais revelam, embora pouco, o pensamento dos russos sobre a guerra na Ucrânia.

Celebridades, influencers e empresários falam para milhões de seguidores todos os dias por meio do Instagram, Telegram e do VK e, em menor proporção, do Facebook. As pessoas acessam sites Meta banidos, como o Instagram, utilizando redes privadas virtuais (VPNs).

Nossos investigadores mergulharam fundo nas publicações de famosos russos para esclarecer seus pontos de vista.

Polarização de opiniões

1. “Os Russos deveriam ter orgulho de si mesmos e de sua nação.”

Detalhes importantes dessa narrativa:

Exemplos demonstrando essa narrativa:

A produtora de música pop russa, Yana Rudkovskaya, publicou uma foto patriótica de sua família nos primeiros dias da invasão em seu Instagram. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, os ucranianos encheram as redes sociais com mensagens que retratavam negativamente os russos. O forte patriotismo dos russos foi uma defesa popular on-line. (Veja mais do subtexto e o contexto dessa postagem aqui [6]).

Captura de tela do post do Instagram de Yana Rudkovskaya.

Desde então, Rudkovskaya não mencionou a guerra e, em vez disso, tem mostrado seu estilo de vida luxuoso. O rapper russo Timur Ildarovich Yunusov, conhecido como Timati [7], compartilha um conteúdo parecido, variando entre patriotismo (análise aqui [8]) e luxo.

A ex-deputada da Duma Federal e atriz Maria Kozhevnikova [9], não parou de publicar conteúdo patriótico russo. Poucos dias após a invasão, ela declarou que ”não sente vergonha de ser russa” e insinuou que a guerra foi instigada pelo Ocidente (análise aqui [10]). No fim de abril, ela publicou uma imagem de doações para escolas, supostamente para crianças ucranianas, alegando que os russos são empáticos e solidários. Nossos investigadores escreveram que apesar dessa postagem ”ser dedicada à uma boa causa, ela carece de qualquer reflexão, em primeiro lugar, sobre o motivo pelo qual a ajuda é necessária, e por encobrir os erros dos russos” (análise aqui [11]). Alguns vão mais além, como a ”empresária e palestrante motivacional”, Polina Kitsenko, que comparou o sentimento anti-Rússia ao ”neofascismo”. Na visão dela, os russos estão sendo perseguidos (análise aqui [12]).

Captura de tela do post do Instagram de Nastya Ivleeva.

A apresentadora de TV e blogueira, Anastasia Vyacheslavovna Ivleeva, conhecida como Nastya Ivleeva, mudou seu discurso on-line depois de um tempo.  Para mais de 19 milhões de seguidores, ela chegou a pedir [13] que a Federação Russa acabasse com o conflito. Algumas semanas depois, ela declarou que os russos não tinham nada do que se envergonhar, em resposta à jornalista Ilia Krasilshchik, que escreveu [14] um editorial intitulado ”os russos falharam” como nação, para o New York Times (análise aqui [15]).

Curiosamente, o ex-parceiro de negócios e amigo de Ivleeva, o blogueiro de viagem ucraniano Anton Ptushkin, seguiu na direção oposta e dedicou [16] todo o seu conteúdo para reportar sobre a guerra.

Veja mais itens relacionados a essa narrativa aqui. [17]

2. “A invasão Russa na Ucrânia é motivo de vergonha para os russos” [18]

Detalhes importantes dessa narrativa:

Exemplos demonstrando essa narrativa:

Captura de tela do post do Instagram de Natalya Oshemkova.

Logo depois da invasão em fevereiro, alguns russos compartilharam sentimentos fortes de vergonha, como o gerente financeiro Andrei Movchan (análise aqui [21]) e a atriz Kseniya Aleksandrovna Rappoport (análise aqui [22]).

A ativista russa de direitos humanos, Maria Eismont, declarou que a guerra brutal na Ucrânia aconteceu por conta da repressão de pensamento livre da Rússia (análise aqui [23]). Mitya Aleshkovskiy, ex-diretor de uma grande instituição de caridade, afirmou que todos os russos carregam responsabilidade pela guerra na Ucrânia. Depois que surgiram evidências das atrocidades cometidas pela Rússia na cidade ucraniana de Bucha no começo de abril, ele escreveu que a falta de reflexão histórica e desestalinização levou à guerra. Ele diz que os russos decidiram ignorar o passado, resultando na guerra (análise aqui [24]).

De uma perspectiva feminista, a psicóloga Natalya Oshemkova escreveu no começo de abril que as atrocidades russas em Bucha são horríveis, mas não inesperadas, uma vez que as feministas observam a violência brutal do patriarcado russo há anos (análise aqui [25]). Oshemkova continua escrevendo postagens reflexivas sobre a guerra em seu perfil do Facebook.

Captura de tela do post do Instagram de Evgeny Chichvarkin.

O empresário Evgeny Chichvarkin [26], que foi considerado o homem mais rico da Rússia com menos de 35 anos, por ter fundado a maior varejista de telefone celular da Rússia, ”Euroset”, e atualmente encontra-se em exílio em Londres, tem criticado severamente a guerra. Sua primeira publicação depois da invasão afirma que ”ele nunca esteve tão envergonhado em toda a sua vida” (análise aqui [27]). Ele continua fazendo postagens relacionadas à guerra em seu perfil do Facebook.

Veja mais itens relacionados aqui. [18]

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