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O que o Dia da Terra significa para a equipe caribenha da Global Voices

Categorias: Caribe, Bahamas, Domínica, Guiana, Jamaica, Trindade e Tobago, Fotografia, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Green Voices

Perpétuas, nas montanhas de Clarendon, na Jamaica. Foto de Emma Lewis, usada sob permissão.

O que você pensa quando ouve as palavras “Dia da Terra” [1]? Você não consegue parar de pensar nas muitas conversas sobre o meio ambiente e nas muitas maneiras, as quais, coletivamente não estamos fazendo o suficiente para protegê-lo? Você se sente impotente pela crise climática estar tão avançada [2] e mesmo assim, os governantes parecem estar enrolando para agirem de forma decisiva? Você desconsidera que os ativistas ambientais sejam exagerados, ou treme ao pensar no que a injustiça climática [3] está fazendo aos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID), como o Caribe [4]?

A Mudança climática talvez seja o problema mais urgente da nossa época, contudo a abundância de informações a respeito da questão, às vezes pode ter efeito contrário, tirando nossa sensibilidade, fazendo nos sentir distantes do ponto central da questão, que é, termos que encontrar maneiras de nos adaptar a um planeta em rápida mudança e viver em equilíbrio sustentável com ele.

A equipe caribenha [5] da Global Voices, que inclui ornitólogos, trilheiros, fotógrafos amadores e amantes de atividades ao ar livre em geral, entende que respeitar nossa terra não é negociável se quisermos sobreviver e muito menos prosperar. Para nós, a natureza é mais do que novas manchetes ou conferências das partes (COP) [6]; é real, tangível e com a maioria de nós vivendo em ilhas, é literalmente tudo a nossa volta. Neste Dia da Terra, por meio do compartilhamento de algumas das nossas partes prediletas do planeta, e que são significativas para nós, queremos lembrar a vocês, porque celebramos a ocasião e porque nosso planeta precisa de nós como aliados…

Tabatha [7], de Little Tobago

Little Tobago, uma pequena ilha perto da costa nordeste de Tobago e parte da nação composta por duas ilhas, Trinidade e Tobago, é um local importante para a reprodução de aves marinhas. Fotos de Tabatha Auguste, usadas sob permissão.

Little Tobago [8] também carinhosamente chamada de Ilha da Ave-do-Paraíso, é uma pequena ilha perto da costa nordeste de Tobago. Habitada na maior parte por fauna selvagem e várias espécies de aves, fiquei completamente encantada com isso quando fui a Tobago em 2021.

Apenas acessível por barco, alguns tobaguianos se ocupam com regularidade indo à ilha para dar néctar caseiro às várias espécies de aves. Turistas e observadores de aves, vêm de todas as partes do mundo para ver as espécies que habitam somente nesta ilha.

Um tesouro local, contudo, fiquei triste ao ver a única estrutura da ilha, arruinada e precisando com urgência de reestruturação. É de extrema importância fazer mais como comunidade e país, para preservar esses tesouros naturais que nos foram confiados, e hoje, no Dia da Terra, eu gostaria de destacar este santuário, na esperança de que receba os cuidados necessários que precisa com urgência, para preservar sua tão abundante beleza.

O canto dos pássaros de E [9]mma [9]

Pássaro-das-cem-línguas das Bahamas em Hellshire Hills, na Jamaica. Foto de Emma Lewis, usada sob permissão.

Esta foto, que eu tirei em uma incrível manhã observando pássaros com a BirdLife Jamaica [10], me deixa, porém, um pouco triste, seu canto era tão doce na época! Como seu nome sugere, o pássaro-das-cem-línguas das Bahamas é um residente permanente das Bahamas, mas também vive em algumas partes da Jamaica, onde fica restrito as florestas secas nas colinas de calcário do litoral sul.

Furacões, impactos das mudanças climáticas, e a expansão de moradias nesta área selvagem e seca, estão acabando com este lindo habitat de pássaros, um ecossistema muito seco, mas muito vibrante, que muitos jamaicanos consideram sem atrativo. Para mim, suas pedras de calcário alveolar, os cactos e a longa, esguia e espinhosa vegetação, tem um atrativo único.

Esta ave é um exemplo das muitas espécies caribenhas ameaçadas pela perda ou degradação dos locais para onde migram, se alimentam e se reproduzem, principalmente por causa da mudança climática e atividades humanas, como a construção de moradias e o desenvolvimento turístico. A propósito, Hellshire Hills é onde a iguana jamaicana [11] (que se pensava estar extinta) foi “redescoberta” em 1980; existe agora um programa de reprodução no Hope Zoo [12] em Kingston, e centenas de iguanas estão sendo reintroduzidas na natureza. Eu espero, de verdade, que esta incrível paisagem seja preservada para o futuro.

A floresta tropical de Skye [13]

Vista do topo da Turtle Mountain, na Guiana. Foto de Skye Hernandez, usada sob permissão.

No Dia da Terra, paramos para pensar a respeito do planeta em que vivemos, e dividimos com outros seres. Porém, isso não é tudo. Perguntamos a nós mesmos o que estamos preparados para fazer e garantir, pois “nenhum deles pode parar o tempo”, como cantou Bob Marley?

Penso muito hoje em dia sobre a Guiana, um lugar pelo qual me apaixonei durante uma visita de oito dias à floresta Iwokrama, [14] há alguns anos. Tirei estas fotos no rio Essequibo, perto da Fairview Village, uma comunidade indígena dentro da floresta, em um dia em que o rio estava baixo o suficiente para ver antigos petróglifos e para alguns meninos brincarem nas corredeiras, e do topo da Turtle Mountain, vê-se a “mata” que parece sem fim.

Esquerda-Direita: petróglifos ao longo do rio Essequibo e menino indígena em pé sobre uma pedra no rio, na Guiana. Fotos de Skye Hernandez, usada sob permissão.

Após décadas sendo considerada um “fim de mundo” tedioso, a Guiana está passando por uma transformação para os olhos caribenhos e do mundo. Desde a  descoberta de petróleo [15], a Guiana de repente tornou-se um centro de vitalidade, uma nova “terra de oportunidades”. Há pouco tempo, o presidente do país, dr. Mohammed Irfaan Ali falou [16] sobre outro tipo de riqueza que o país possui, como um “líder mundial em ecossistemas de mudança climática e biodiversidade”, com “18,3 milhões de hectares de floresta preservada”, com “valor estimado em US$ 500 bilhões”. Espero que a Guiana continue a valorizar sua floresta tropical, assim como as novas fontes de riqueza estão prontas para serem aproveitadas.

A estrada de tijolos amarelos de Janine [17]

No sentido horário: flor de hortênsia, cataratas de Trafalgar, aproveitando as fontes de enxofre e a vista da copa das árvores das fontes em Dominica. Fotos de Janine Mendes-Franco, usadas sob permissão.

Em 2006, cerca de seis meses após a morte do meu pai, fui a Dominica. Um caribenho autêntico, meu pai tinha visitado, morado ou trabalhado na maioria das ilhas do arquipélago, mas sempre falava da “ilha da natureza” com apego especial. No entanto, a maneira como falava era de causar certo medo (avião bimotor, decida íngreme em uma pista talvez mais curta do que deveria, montanhas imponentes à traseira do avião e um mar sem fim à frente), mas, de imediato estava integrada à ilha. Seu verde me fez sentir como a Dorothy na Cidade das Esmeraldas; quanto mais eu descobria, mais eu sentia como se este lugar mágico fosse a cobertura dourada no final da minha estrada de tijolos amarelos do luto.

A viagem me restaurou; não importava aonde eu ia, havia natureza, me fazendo lembrar a imensidão, o tempo impecável e a resiliência das coisas. O estrondo das espetaculares cataratas de Trafalgar [18]me fez sentir insignificante, contudo, o desafio da escalada das rochas até chegar às suas piscinas, pareceu irrelevante em comparação com o sentimento de renovação que senti ao chegar lá. Para qualquer lugar que eu me virasse, era a mesma lição: estamos todos conectados, entrelaçados, interdependentes. Seja respirando o ar da montanha ou nadando em Scott's Head [19], um lugar famoso para observação de baleias, a terra e eu estávamos em uma dança prazerosa de dar e receber.

Sentido horário: Scott's Head, a correnteza de um rio, vegetação e montanhas em Dominica. Fotos de Janine Mendes-Franco, usadas sob permissão.

Mas nós humanos temos tirado demais e o desequilíbrio está deixando tudo fora dos eixos. Quando em 2017, o furacão Maria devastou [20] Dominica, eu, assim como o restante da população, fiquei aflita [21]. Talvez, se começássemos a ver de verdade a natureza como mãe, aliada, apoiadora e protetora; começaríamos a respirá-la como a fonte de vida que ela é, e finalmente veríamos que não podemos viver sem ela. Assim, talvez, os países que são os maiores emissores de carbono, começariam a considerar [22] os efeitos que suas emissões estão causando aos países pequenos, nações da linha de frente como as nossas.

Neste fim de semana do Dia da Terra, saia e experimente as maravilhas da natureza. Caminhe com os pés descalços. Faça uma trilha. Siga o curso de um rio. Mergulhe em água salgada. Cure-se e use essa energia para fazer escolhas que curem nosso planeta.

A costa norte de Zico [23]

Vista da estrada da costa norte de Trinidade. Foto de Zico Cozier, usada sob permissão.

Ao longo do litoral norte de Trinidade encontram-se muitas praias inexploradas, inacessíveis ao público de carro. Nós as vemos quando dirigimos pela Cordilheira do Norte [24], a caminho de lugares conhecidos como a Baía de Maracas [25].

Só o passeio de carro já faz parte da experiência: janelas abertas, respirando ar fresco enquanto contemplamos as praias abaixo, indescritível ao nosso conhecimento; de tirar o fôlego ao contemplar.

Estas praias contrastam muito com os barulhentos e sujos locais de comércio, onde muitos convivem durante o dia. Elas nos fazem lembrar que com sua pureza, a cura da mãe terra é mais poderosa. Apenas a visão do seu esplendor pode fazer o espírito se elevar. Feliz Dia da Terra!