Quando Pantera Negra, filme americano de super-herói baseado no personagem homônimo da Marvel Comics, estreou em 2018, foi um marco importante por ser um dos primeiros heróis negros em filmes de super-heróis americanos convencionais. Com seu enorme sucesso, o longa também destacou o vazio representacional sobre como os africanos são retratados em Hollywood e no gênero das histórias em quadrinhos.
Embora os quadrinhos de super-heróis produzidos localmente e escritos por africanos para africanos tenham conquistado adeptos desde o final da década de 1980, a popularidade dos quadrinhos disparou em 2016, principalmente devido ao aumento dos filmes de super-heróis, como os da Marvel Studios.
Capitão África foi a primeira história em quadrinhos africana de super-herói a se tornar global. Escrito e ilustrado pelo ganês Andy Akman na década de 1980 e publicado pela editora nigeriana, African Comics Limited, sua aclamação foi decaindo lentamente na década de 1990 até que caiu silenciosamente no esquecimento.
Apesar de seu desaparecimento, Capitão África se tornou a base que inspirou uma nova geração de artistas e editores de histórias em quadrinhos independentes de todo o continente. Estes criadores de quadrinhos africanos têm contado histórias que atraem um público africano real que anseia por mais diversidade, representação e autenticidade em suas histórias.
Pantera Negra quebrou o teto de vidro dos super-heróis africanos e estabeleceu um precedente sobre como os criadores de quadrinhos africanos negros poderiam “passar” seus heróis de quadrinhos do desenho para as telas e aproveitar um crescente mercado de fãs e uma legião de fãs globais.
Quadrinhos “BLACK”
Em outubro de 2020, a Warner Bros anunciou que faria uma adaptação cinematográfica de “BLACK”, história em quadrinhos criada por Kwanza Osajyefo e Tim Smith 3. “BLACK” conta a história de como um jovem sobrevive a um acontecimento violento e se dá conta de que tem poderes. Ele logo é perseguido por um consórcio secreto que quer controlar suas habilidades. A trama explora uma dupla realidade na qual apenas os negros têm poderes de super-heróis.
If you’ve not read BLACK by Kwanza Osajyefo, Tim Smith 3, and Jamal Igle, you should order a copy now. It’s a book perhaps more than any other made for this moment, supposing what would happen in the real world if Black people and only Black people suddenly manifest superpowers. pic.twitter.com/Qgt37ps4rO
— Comics Bookcase (@ComicsBookcase) June 3, 2020
Se você não leu BLACK, de Kwanza Osajyefo, Tim Smith 3 e Jamal Igle, deveria comprar um exemplar agora. Foi feito mais do que qualquer outro para este momento, supondo o que aconteceria no mundo real se os negros e somente os negros de repente manifestassem superpoderes.
Kwanza, quem começou sua carreira como estagiário na Marvel Entertainment, surgiu com o conceito de “BLACK” há mais de dez anos e pôde imprimir as seis edições da história em quadrinhos após uma campanha de “Kickstarter” que o ajudou e a seus cocriadores a arrecadarem 90 mil dólares para lançar o projeto.
A série recebeu elogios da crítica e se tornou um exemplo de diversidade e representação nos quadrinhos. Os criadores já estão trabalhando na sequência, “WHITE”, que explora o que acontece quando os Estados Unidos descobrem que existem negros com poderes de super-heróis.
“Aya de Yopougon”
“AYA” é um filme de animação francês de 2013, dirigido por Marguerite Abouet e Clément Oubrerie e baseado na graphic novel “Aya de Yopougon”.
Antes de sua adaptação ao cinema, “Aya de Yopougon” se tornou uma série extremamente popular traduzida em 15 idiomas sobre a vida em Abiyán durante a década de 1970, na Costa do Marfim. A série foi publicada entre 2005 e 2010 e conta com seis volumes que reúnem as memórias da infância de sua autora, Marguerite Abouet. Marguerite cresceu em Yopougon, bairro operário nos arredores de Abiyán.
Depois de sua estreia, tornou-se uma mistura vitoriosa de romance e comédia, o que garantiu à obra uma indicação ao prêmio César francês de melhor desenho animado em 2014.
“Malika”
“Malika” é uma graphic novel de fantasia histórica africana inspirada em uma guerreira real da África Ocidental do século 16, a rainha Amina de Zazzau.
A adaptação cinematográfica de “Malika” estreou no YouTube em outubro de 2019 após uma campanha de Kickstarter que ajudou a arrecadar 10 mil dólares de 285 patrocinadores. Embora não tenha tido o sucesso avassalador de adaptações como o de Aya, recebeu ótimas críticas e aclamação dos fãs.
A história em quadrinhos em três volumes, publicada em março de 2016, segue as façanhas de Malika, rainha da nação e comandante militar, que luta para manter a paz em seu império em constante expansão.
A história em quadrinhos foi criada por Roye Okupe, originário de Lagos (Nigéria). Sua paixão pela animação o levou a fundar a YouNeek Studios em 2012, empresa que o permitirá ir atrás de seu sonho de criar uma biblioteca diversa de super-heróis.
Desde então, YouNeek arrecadou mais de 70 mil dólares no Kickstarter para adaptar suas outras séries de quadrinhos, como “E.X.O.”, “WindMaker” e “Iyanu”, em filmes.
Ireti
Ireti é apresentado como o primeiro longa-metragem de uma “super-heroína africana“. A empresa nigeriana Comic Republic, maior editora de histórias em quadrinhos independentes da África, assinou um acordo de produção com a Emagine Content e a JackieBoy Entertainment para dar luz verde ao filme.
“Ireti”, obra de Michael “Balox” Balogun com ilustrações de Yussuf Adeleye, conta a história de Ireti Bidemi, universitária de Ibadan (Nigéria) que luta contra o crime com estilo após ser agraciada com os poderes de uma antiga rainha guerreira.
Embora Ireti seja o primeiro do catálogo da Comics Republic que será adaptado para o cinema e televisão, há muitos outros quadrinhos em preparação, como “Aje”, trama de fantasia inspirado na espiritualidade e no misticismo iorubá, e “The Vanguards”, inspirado em uma equipe de super-heróis ao estilo Vingadores.
Série “Supa Strikas”
A série “Super Strikas” é considerada uma das histórias em quadrinhos de maior circulação no mundo, com mais de 1,4 milhões de exemplares vendidos em 16 países por mês. Tem uma temática pan-africana futebolística que está em publicação desde 2000.
Foi publicada pela primeira vez na África do Sul, com distribuição em toda a África Subsaariana em 2002. Pode-se dizer que é a primeira história em quadrinhos a conquistar um imenso sucesso comercial em forma de manchetes globais, patrocínios, colocação de produtos e anúncios de página inteira.
O título se tornou uma série de televisão animada em 2009, produzida na Malásia pela Animasia Studio e pela sul-africana Strika Entertainment.
“Supa Strikas” combina humor, ação, tecnologia e exploração no contexto das partidas de futebol. A história tem por foco o atacante mais jovem da equipe, Shakes, que muitos consideram o melhor atacante do mundo. Os temos explorados são a autorrealização, o jogo limpo, o trabalho em equipe e o respeito.
“Strike Guard”
“Strike Guard” é uma série de histórias em quadrinhos ambientada em Lagos, na Nigéria, que gira em torno de um personagem fictício chamado Bolaji Coker, universitário possuído pelo semideus iorubá Ajagbeja. Ele tem a oportunidade de voltar à vida com o espírito de Ajagbeja usando seu corpo como hospedeiro. O jovem Ayodele aceita e se torna o combatente do crime de Lagos, Strike Guard.
A série está enraizada na espiritualidade e na cultura iorubá, além de incorporar o estilo de vida africano contemporâneo. É criação de Ayodele Elegba, veterano do setor nigeriano das histórias em quadrinhos e da animação, que começou sua carreira como roteirista em 1999.
O primeiro curta de animação de Strike Guard foi produzido pela SPOOF! Animation em 2016. Estreou na Comic-Con de Lagos de 2017.
Yasuke
Embora “Yasuke”, série de anime da Netflix sobre um samurai africano que estreou em abril de 2021, não se enquadre estritamente nesta categoria de quadrinhos adaptados para o cinema, ela é digna de ser mencionada.
Yasuke era um africano que se tornou o samurai de um dos senhores da guerra mais famosos do Japão medieval do século 16, o Japão Feudal. Ele se transformou ao longo dos séculos na mítica lenda que aparece em inúmeros mangás e em um ícone da cultura popular fora do Japão.
Depois de sua estreia, a série da Netflix sobre Yasuke foi aclamada como um “momento de plenitude” entre os fãs de anime negro. Sua importância como ponto de virada na representação de um herói de animação negro reavivou o discurso sobre a representação e a caracterização estereotipada dos personagens negros no cinema.
Este artigo havia creditado erroneamente Somto Ajuluchukwu como criador da série Strike Guard, mas foi atualizado para creditar Ayodele Elegba como criador.