- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Curandeira afro-equatoriana: ‘A medicina ancestral oferece uma nova esperança de vida’

Categorias: América Latina, Equador, Indígenas, Mídia Cidadã, Saúde

María Eugenia Quiñónez Castillo. Foto de seu arquivo, utilizada com permissão.

No Equador, a saúde ancestral ou tradicional é chamada de medicina dos diferentes povos e nacionalidades originárias que habitam esse território, e a Constituição equatoriana garante [1] seu reconhecimento, respeito e divulgação. No entanto, María Eugenia Quiñónez Castillo — curandeira ancestral do povo afro-equatoriano do Centro Médico Ancestral “La Fe” [2] e docente no Instituto Superior Tecnológico los Andes de Estudios Sociales (ILADES) [3] — explica que ainda há um longo caminho por percorrer para chegar a uma verdadeira convergência de saberes e práticas no país. Nesta entrevista, ela convida as pessoas a uma aproximação com a medicina ancestral.

Belén: Poderia me contar um pouco sobre você e seu trabalho?

María Eugenia: Yo soy una mujer que se siente feliz de haber vivido, y quiero dar esta felicidad a otras personas. Soy sanadora ancestral del pueblo afroecuatoriano y llevo muchos años en este recorrido. En realidad, he estado en este camino casi toda mi vida. Yo digo que empecé mi carrera a los cuatro años en Esmeraldas, mi provincia natal ubicada en la costa ecuatoriana. Cuando mis amigos o hermanos se golpeaban o estaban enfermos, yo les sanaba con las hierbas y plantas que estaban a mi alcance, siguiendo el ejemplo de mi mamá y mi papá porque ellos también son sanadores. Ellos me decían que yo tengo el don de sanar, como dice la Biblia en Corintios 12: 4,7-10, y me ayudaron a despertar este don espiritual en mí. Luego me preparé académicamente, pero mis padres fueron mis primeros y mejores maestros. Y es que la maravillosa universidad de la vida es donde los sanadores ancestrales aprendemos lo que nadie más nos enseña. Después yo usé este conocimiento para sanar a mis siete hijos cuando ellos se enfermaban, y ahora ellos también hacen lo mismo porque nuestra medicina está basada en sabiduría que se transmite de generación en generación.

María Eugenia: Eu sou uma mulher que se sente feliz por ter vivido, e quero dar essa felicidade a outras pessoas. Sou uma curandeira ancestral do povo afro-equatoriano e estou nesta jornada há muitos anos. Na verdade, estou nesse caminho quase toda a minha vida. Costumo dizer que comecei a minha carreira aos quatro anos em Esmeraldas, minha província natal, localizada na costa equatoriana. Quando meus amigos e irmãos estavam feridos ou doentes, eu os curava com ervas e plantas que estavam ao meu alcance, seguindo o exemplo da minha mãe e do meu pai, pois eles também eram curandeiros. Eles me diziam que eu tenho o dom de curar, como diz a Bíblia em Coríntios 12: 4,7-10, e me ajudaram a despertar esse dom espiritual em mim. Então me preparei academicamente, mas meus pais foram meus primeiros e melhores professores. E é na maravilhosa universidade da vida onde os curandeiros ancestrais aprendem o que ninguém mais ensina. Depois eu usei esse conhecimento parar curar os meus sete filhos quando ficavam doentes, e agora eles também fazem o mesmo, pois nossa medicina se baseia nos saberes que são transmitidos de geração em geração.

María Eugenia Quiñónez Castillo. Foto de seu arquivo, utilizada com permissão.

Belén: E qual a base desta medicina?

María Eugenia: La medicina ancestral nace con la creación divina y es la esperanza de salud y vida. Lo certifica la Biblia en Jeremías 6:16. El amor con que Dios hizo la creación y la fe en el creador ofrece la mejor esperanza de vida porque es la certeza de lo que se espera y la convicción de lo que no se ve (Hebreos 11:1). Por mi gran misión y por mi gran amor, yo recibo a mis pacientes en mi casa. Ellos aquí viven una nueva vida y adquieren una nueva familia porque toda mi familia es familia de la persona que llega acá. Aquí compartimos la misma casa, compartimos la misma mesa, compartimos bailes, música, risas, y gozamos. Es otro tipo de vivencias.  ¿Qué médico occidental invita a sus pacientes a vivir en su casa hasta que se sanen? Cuando usted está con un médico ancestral, toda la casa es suya también. Mientras me quede un aliento de vida, difundiré esta esperanza y la compartiré con en el mundo entero.

María Eugenia: A medicina ancestral nasce com a criação divina e é a esperança de saúde e vida. A Bíblia confirma isso em Jeremias 6:16. O amor com que Deus fez a criação e a fé no criador oferece a melhor esperança de vida, pois é a certeza do que se espera e a convicção do que não se vê (Hebreus 11:1). Devido a minha grande missão e ao meu grande amor, eu recebo meus pacientes na minha casa. Eles vivem aqui uma nova vida e adquirem uma nova família, pois toda a minha família é família da pessoa que chega aqui. Aqui partilhamos a mesma casa, partilhamos a mesma mesa, partilhamos danças, música, risadas e nos divertimos. É outro tipo de vivência. Que médico ocidental convida seus pacientes a viver em sua casa até que se recuperem? Quando você está com um médico ancestral, toda a casa é sua também. Enquanto eu tiver um sopro de vida, irei difundir essa esperança e a partilharei com o mundo inteiro.

Belén: E quais são as outras diferenças entre a medicina ancestral afro-equatoriana e ocidental?

María Eugenia: La medicina occidental ofrece una cura rápida para aliviar síntomas o tratar males urgentes, como una fractura o un dolor de cabeza, por ejemplo, mientras que la medicina ancestral busca el origen de la enfermedad. En los primeros tiempos la espiritualidad y la ciencia estaban tomadas de la mano, pero después la medicina occidental las separó y se enfocó solamente en el ámbito físico. La medicina ancestral aborda la totalidad de la persona, abarcando el campo del cuerpo, la mente y el espíritu del ser humano; es una técnica no invasiva del cuerpo de la persona. Otra característica muy importante es que en la medicina ancestral sanamos con hierbas y plantas, con lo que viene de la Madre Tierra, porque ella tiene todo lo que necesitamos para sanarnos.

María Eugenia: A medicina ocidental oferece uma cura rápida para aliviar sintomas ou tratar doenças urgentes, como uma fratura ou uma dor de cabeça, por exemplo, enquanto a medicina ancestral busca a origem da doença. No início, a espiritualidade e a ciência andavam de mãos dadas, mas depois a medicina ocidental as separou e passou a focar somente no físico. A medicina ancestral aborda a totalidade da pessoa, abrangendo o campo do corpo, da mente e do espírito do ser humano; é uma técnica não invasiva do corpo da pessoa. Outra característica muito importante é que na medicina ancestral curamos com ervas e plantas, com o que vem da Mãe Terra, pois ela tem tudo o que precisamos para nos curar.

María Eugenia Quiñónez Castillo. Foto de eu arquivo, utilizada com permissão.

Belén: Existe alguma ideia equivocada sobre a medicina ancestral afro-equatoriana que você gostaria de esclarecer?

María Eugenia:  Yo creo que las personas tienen miedo de la medicina ancestral porque nos alejaron y no la conocen, piensan que nosotros buscamos reemplazar una medicina por otra y no es así. Lo que buscamos es una convergencia de saberes. Son dos escuelas diferentes, pero igualmente válidas. ¿Por qué no las vamos a juntar? Es necesario que ambas avancen juntas para el bien de la humanidad y la felicidad. Ellos en su ciencia y nosotros en la espiritualidad, siendo humildes, debemos juntarlas para alcanzar una armonía en la salud integral.

María Eugenia: Eu acredito que as pessoas têm medo da medicina ancestral, pois nos afastaram e não a conhecem, pensam que nós buscamos substituir uma medicina por outra e não é assim. O que buscamos é uma convergência de saberes. São duas escolas diferentes, mas igualmente válidas. Por que não as juntamos? É importante que as duas avancem juntas para o bem da humanidade e da felicidade. Eles na sua ciência e nós na espiritualidade, sendo humildes, devemos juntá-las para alcançar uma harmonia na saúde integral.

Belén: O que falta para conseguir essa convergência?

María Eugenia: Hace falta apertura para conocer los aportes de la medicina ancestral. Se debería enseñar saberes ancestrales en las escuelas, colegios y universidades para que los alumnos puedan aprender que hay varias competencias y diferentes maneras de vivir, sentir, pensar y sanar. Algunas personas consideran que la medicina ancestral es peligrosa o es brujería solo porque es diferente a lo que han están acostumbradas, pero si le vamos a temer al cuco, conozcámoslos primero, ¿no es verdad?

María Eugenia: Falta abertura para conhecer as contribuições da medicina ancestral. As escolas, colégios e universidades deveriam ensinar os saberes ancestrais para que os alunos possam aprender que existem várias habilidades e maneiras diferentes de viver, sentir, pensar e curar. Algumas pessoas consideram a medicina ancestral perigosa ou como bruxaria, apenas porque é diferente de tudo o que estão acostumados, mas se vamos ter medo do bicho papão, que conheçamos ele primeiro, não é?

Belén: Há mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar antes de terminar?

María Eugenia: Me gustaría hacer una invitación para que no nos quedemos solo con una alternativa, no nos conformemos solo con lo que nos han enseñado. Abrámonos a probar varias formas de vida y salud, y veamos cómo nos va.

María Eugenia: Eu gostaria de fazer um convite para que não fiquemos apenas com uma alternativa, para que não nos conformemos apenas com o que nos ensinaram. Vamos nos abrir a experimentar várias formas de vida e saúde, e ver como nos saímos.