Cresce a tensão em Karabakh enquanto países trocam acusações

Foi um mês tenso no disputado território de Karabakh, uma área de 4.400 quilômetros quadrados no sul do Cáucaso, após acusações de que o Azerbaijão violou um acordo de cessar-fogo e reacendeu as tensões desde o início de março. Alguns analistas apontam a nova onda de tensões em Karabakh como um reflexo da guerra na Ucrânia.

Em 2020, a Armênia e o Azerbaijão travaram uma guerra de 44 dias por Karabakh. A área tem estado sob o controle de sua população étnica armênia como um Estado autodeclarado desde que uma guerra travada no início dos anos 90 terminou com o cessar-fogo em 1994 e a vitória militar armênia. Após a primeira guerra, foi estabelecida uma nova República Nagorno-Karabakh de facto, não reconhecida internacionalmente. Sete regiões adjacentes foram ocupadas pelas forças armênias. Como resultado dessa guerra, “mais de um milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas”: os azerbaijanos fugiram da Armênia, de Nagorno-Karabakh e dos territórios adjacentes, enquanto os armênios deixaram suas casas no Azerbaijão”, segundo o International Crisis Group, uma organização independente que trabalha para evitar guerras e moldar políticas.

Após a segunda guerra de Karabakh em 2020, o Azerbaijão recuperou o controle sobre grande parte das sete regiões anteriormente ocupadas. O Azerbaijão também capturou um terço do próprio Karabakh, como resultado da segunda guerra.

Em 10 de novembro de 2020, Armênia e Azerbaijão assinaram um acordo de cessar-fogo mediado pela Rússia. Entre vários pontos do acordo, Armênia e Azerbaijão concordaram com a presença de 1.960 forças russas de paz nas regiões de Karabakh “não reconquistadas pelo Azerbaijão e um estreito corredor que liga a Armênia através do distrito de Lachin, no Azerbaijão”. Existem 27 postos russos de manutenção da paz dentro do Azerbaijão.

Desde o acordo assinado em novembro de 2020, houve múltiplos relatos de violações de cessar-fogo, e um lado culpa o outro pelas explosões. Mas o avanço do exército do Azerbaijão desde fevereiro e o cerco à aldeia estratégica Farrukh, no leste de Karabakh, protegida pelas forças de paz russas, em 25 de março de 2022, provocaram acusações de violação do cessar-fogo feitas contra o Azerbaijão por Erevan e Moscou.

Pelo menos três soldados armênios morreram e quinze ficaram feridos desde 24 de março, segundo relatou o serviço da BBC do Azerbaijão, citando as informações divulgadas pelo exército de autodefesa de Karabakh. O exército de autodefesa também afirmou que houve vítimas do lado azerbaijano, o que foi refutado pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão. Enquanto isso, em uma declaração emitida em 25 de março, o Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão disse que não havia necessidade de histeria ao se referir à escalada das tensões na linha de contato, e que o Azerbaijão estava esclarecendo “as posições e locais [de sua força armada] no terreno”.

No início deste mês, “as autoridades de facto em Nagorno-Karabakh acusaram o Azerbaijão de cortar o fornecimento de gás natural para o território de Nagorno Karabakh pela segunda vez em um mês”, de acordo com o relatório da Eurasianet. O gás para o Karabakh é fornecido pela Armênia, mas o gasoduto passa agora pelo território controlado pelo Azerbaijão, que foi recuperado durante a segunda guerra. A primeira interrupção foi relatada em 8 de março e, embora tenha sido restaurada em 19 de março, o fornecimento foi novamente interrompido em 21 de março. A interrupção foi causada por danos a um gasoduto que abastecia Karabakh em 5 de março. “Temos motivos suficientes para supor que, durante os reparos do gasoduto, o lado azerbaijano instalou uma válvula que interrompeu o fornecimento de gás por algumas horas”, disse o governo de facto de Karabakh em uma declaração, de acordo com o relatório da Eurasianet. Baku negou as acusações. Em um comunicado emitido em 25 de março, o Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão disse que a Armênia estava “usando intencionalmente a situação como instrumento de manipulação política”, e que, em vez disso, culpava o clima frio e os problemas técnicos pelos transtornos no fornecimento de gás.

Em 26 de março, em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu que a Armênia e o Azerbaijão agissem com comedimento. A declaração também fez referência ao boletim informativo do Ministério de Defesa russo, datado de 26 de março de 2022, no qual o Ministério das Relações Exteriores da Rússia dizia: “As Forças Armadas do Azerbaijão entraram na zona de responsabilidade da missão russa de manutenção da paz em Nagorno-Karabakh e lançaram quatro ataques às formações armadas de Nagorno-Karabakh, usando um drone TB2 Bayraktar, perto da aldeia de Furukh”, e acusou o Azerbaijão de violar o cessar-fogo de 10 de novembro.

Em resposta, o Ministério da Defesa do Azerbaijão disse que a declaração era unilateral, repetindo o compromisso oficial de Baku com a declaração conjunta assinada em 10 de novembro de 2020.

O #Ministério da Defesa da República do #Azerbaijão lamenta a declaração unilateral do Ministério da Defesa da #Federação Russa de 26 de março de 2022, que não reflete a realidade. pic.twitter.com/xtsWHfvb50

- Azerbaijão MOD (@wwwmodgovaz) 26 de março de 2022

Em 27 de março, o Ministério da Defesa russo disse que o Azerbaijão retirou sua presença militar de Farrukh, o que foi rapidamente refutado pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão, o qual confirmou que as posições permanecem inalteradas. “Notificamos com pesar que a declaração do Ministério da Defesa russo de 27 de março é falsa”. As posições das forças armadas do Azerbaijão na vila de Farrukh e nas alturas próximas, que são uma parte inseparável de nosso país, permanecem intactas”, disse a declaração divulgada pelo Ministério da Defesa do Azerbaijão.

#BREAKING Rússia acusa Azerbaijão de violar acordo de cessar-fogo em Karabakh pic.twitter.com/6bk4cJuC9B

- Agência de Notícias AFP (@AFP) 26 de março de 2022

Em uma declaração emitida na segunda-feira, 28 de março, o Ministério das Relações Exteriores da Armênia disse esperar que o contingente russo de tropas de manutenção da paz tome medidas concretas para deter e assegurar o retorno das forças de Baku às posições originais, informou a agência de notícias estatal russa TASS.

Esta foi a segunda vez, desde o acordo de novembro de 2020, que a Rússia acusou o Azerbaijão de violar o cessar-fogo em Karabakh.

Enquanto isso, segundo a agência de notícias estatal APA, a AzeriGaz disse que restabelecerá o fornecimento de gás natural na região econômica de Karabakh até 29 de março. O serviço em língua armênia da Radio Liberty confirmou que o fornecimento de gás a Khankendi [Stepanakert em armênio] foi restabelecido em 29 de março.

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