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Artistas brasileiros, como Anitta, fazem campanha para mobilizar o voto adolescente nas eleições

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Stickers criados pela campanha “Olha o barulhinho”, para engajar adolescentes | Ilustração: Giovana Fleck/Global voices

Em outubro [1], brasileiros vão às urnas eleger presidente, governadores de 26 estados e do distrito federal, além de deputados e senadores.

Há poucos meses do pleito, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país soou um alerta: o número de jovens registrados para votar é o mais baixo das últimas décadas [2], e mostra tendência de queda.

No Brasil, desde a Constituição de 1988 [3], a primeira após a ditadura militar, o voto de jovens a partir de 16 anos é facultativo, acima de 18 anos é obrigatório — quem não pode votar por motivos de viagem ou trabalho, por exemplo, precisa justificar à Justiça Eleitoral.

O TSE realizou um apelo virtual [4] que deu início a uma campanha nacional, envolvendo influenciadores [5]. Com foco nos usuários do Twitter e Instagram, a hashtag #RolêdasEleições [6] foi criada para promover a “Semana do Jovem Eleitor”: em uma semana, mais de 96 mil títulos foram solicitados por todo o país.

Só no estado do Rio Grande do Sul, de acordo com o jornal Zero Hora [7], o número de pessoas acima de 16 anos com título de eleitor teve aumento de 86% em um mês.

Famosos brasileiros também decidiram usar suas redes sociais para compartilhar informações sobre como fazer o registro e prazos para adolescentes correrem atrás — até 4 de maio.

Lázaro Ramos, ator e o diretor, foi uma das personalidades a publicarem sobre a campanha no Twitter [8]:

A cantora Anitta, que chegou ao número um do ranking mundial do Spotify [11], no fim de março, também compartilhou c0m seus 16,5 milhões de seguidores no Twitter [12]:

Ela chegou a ser citada pelo ator norte-americano Mark Ruffalo, conhecido pelo papel de Hulk e ativista nos Estados Unidos, que se colocou contra o presidente Jair Bolsonaro e compartilhou ainda outra campanha brasileira:

Em 2020, os norte-americanos só derrotaram Donald Trump porque eleitores em número recorde usaram seus direitos democráticos, especialmente jovens. Para derrotar Bolsonaro, brasileiros com idades entre 16 e 17 anos, precisam se registrar para votar nas próximas eleições. Eles têm até o dia 4 de maio para fazer isso

Vem Pirililili

Movimentos também foram criados para a mobilização, entre eles o “Olha o barulhinho” [17] (em referência ao barulho feito pela urna, quando o voto está finalizado) e o SeuVotoImporta [18], criado por ativistas, como Helena Branco, 19 anos.

Ao podcast O Assunto [19], ela contou que começou a se interessar pelo tema nas eleições municipais de 2020. Elas se deram conta que a maioria das pessoas desconhecia prazos e informações sobre como tirar o título.

“O TSE está fazendo seu trabalho, mas como a gente leva para os adolescentes essa mensagem de uma maneira diferente? Então, desenvolvemos uma campanha que foi pensada para ser divertida, descolada e falasse a língua da galera que ia tirar o título, que estava nessa faixa etária”, conta ela.

No “Olha o barulhinho”, futuros eleitores podem encontrar tutoriais com estética jovem e referências às trends do TikTok [20] e memes, além de stickers para serem usados no Telegram ou WhatsApp.

De acordo com levantamentos [21] do TSE e do IBGE, a participação dos jovens e adolescentes nas urnas vem caindo no Brasil.

Com base nos dados recolhidos pelo Censo 2010 e em PNADs de 1994 a 2022, nas eleições presidenciais de 2014, a porcentagem de jovens participantes era de 19,5%. Para o ano de 2022, o eleitorado entre 16 e 17 anos havia caído para 10% no primeiro dia do ano.

Entre os possíveis fatores estão a inversão da pirâmide etária [22] brasileira — a população está ficando mais velha [23] — e a relação com a política — seis em cada 10 jovens [24] tem medo de falar sobre o tema e serem cancelados, como mostrou uma pesquisa do instituto Ipec no ano passado.

A pesquisa mostrou ainda que 20% dos jovens desconhece o Congresso Nacional ou o STF (Supremo Tribunal Federal).

À direita

Flávio Bolsonaro, senador [25] pelo Rio de Janeiro e filho do presidente Jair Bolsonaro, comentou a iniciativa em seu perfil no Twitter, em tom de deboche:

Ele publicou outra mensagem abaixo tentando explicar o teor do texto:

As redes sociais também passaram a ter manifestações de jovens declarando voto [28] no atual presidente — a hashtag #SouJovemSouBolsonaro [29] foi usada por quem queria defender a posição do voto nele.

Entre as postagens com a frase, havia críticas a artistas que pedem publicamente a saída de Bolsonaro.

À esquerda

Artistas que se apresentaram na edição brasileira do festival Lollapalooza [30], entre os dias 25 e 27 de março em São Paulo, também lembraram aos jovens sobre a importância do título e de ir às urnas.

A apresentação da cantora Pabllo Vittar [31], porém, levou a discussão para o campo dos candidatos. Pabllo pegou uma toalha de um fã [32], com a foto do ex-presidente Lula, e gritou “Fora, Bolsonaro”.

O ato foi um dos citados por advogados do partido [35] de Bolsonaro, o PL (Partido Liberal), que acionaram a justiça eleitoral alegando que se tratava de campanha antecipada.

Um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Raul Araújo, proibiu [36] então artistas de se manifestarem politicamente no tempo restante do festival — um dia — sob pena de multa, o que levou a ainda mais manifestações contrárias ao atual presidente brasileiro e à censura.

A banda de rock Fresno abriu o último dia, quando a decisão já era pública, exibindo “Fora Bolsonaro” no telão e entoou críticas ao presidente no microfone. Em uma das músicas [37] da banda, no início do show, o vocalista Lucas Silveira [38] puxou os versos:

E o prеsidente, basicamente, quer te exterminar
E o ideal fascista já conquistou teu núcleo familiar
F****!

O ministro voltou atrás [39] à decisão no dia seguinte, uma segunda-feira, com o festival já terminado.

Um balanço divulgado no dia 25 de março [40] pelo TSE diz que, entre os dias 14 e 18 de março, 96.425 mil jovens tiraram títulos de eleitor pela primeira vez. Dentre eles, 52.561 pessoas são do gênero feminino e 43.864 do masculino.