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“Ainda posso ouvir suas vozes”: Três mulheres que lutaram pelos mais vulneráveis na Jamaica

Categorias: Caribe, Jamaica, Direitos Humanos, Lei, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero, Política, The Bridge

Da esquerda para a direita: advogada Nancy Anderson, dra. Glenda Simms (fotos por Emma Lewis, usadas sob permissão) e Evelyn Smart, cofundadora do Partido das Mulheres da Jamaica (foto por Carol Narcisse, usada sob permissão). Cada uma destas mulheres lutou pelos vulneráveis e marginalizados, na Jamaica e além.

Publicado originalmente no blogue Petchary [1], abaixo segue uma versão editada do texto, publicada sob permissão. 

Março, o mês em que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres [2], parece ser o momento ideal para prestar homenagem a três mulheres que defenderam a justiça — para homens e mulheres — na Jamaica e além.

É engraçado, mas, mesmo após as pessoas partirem, ainda posso ouvir suas vozes ecoando em minha cabeça. A voz da advogada e defensora dos direitos humanos Nancy Anderson [3] era suave e persistente, com uma entonação originada do seu sotaque “jamaicanizado”, tendo nascido em Michigan e chegado à Jamaica em 1969 como voluntária do Corpo da Paz dos Estados Unidos. Ela também tinha uma bela risadinha e um senso de humor irônico. 

Anderson participou de vários casos importantes de direitos humanos em jurisdições locais e regionais. Ela representou Shanique Myrie [4], que processou com sucesso o governo de Barbados por prisão ilegal, em um caso de grande repercussão [4] julgado no Tribunal de Justiça do Caribe.

Além de ser uma forte voz pela justiça, era também uma mentora e professora incrível, inspirando muitos advogados iniciantes na Faculdade de Direito Norman Manley [5]. Ela se preocupava especialmente com a situação dos detentos em nossas prisões – uma causa nada “sexy”, mas que ela abraçou com muita dedicação – e nunca se vangloriou de nada. Anderson faleceu em 29 de novembro de 2021.

Outra mulher cuja voz nunca vou esquecer é da dra. Glenda Simms [6]. Sua voz era profunda e firme, às vezes um pouco rouca, mas ressoava longe, melodiosa. Embora pudesse parecer intimidadora para alguns, essa forte mulher da zona rural de St. Elizabeth [7] era calorosa e muito empática.

Em 2005, ela foi uma das primeiras pessoas a falar sobre o tráfico humano na ilha, e conseguiu com que a polícia desse um fim no que acabou sendo um “mercado” semanal de mulheres jovens para o trabalho em boates no sudeste da Jamaica [8]. Naquela época, poucos jamaicanos sabiam que isso estava acontecendo, ou dos perigos desse comércio mortal para as mulheres vulneráveis. Como chefe da Secretaria de Assuntos da Mulher [9], trabalhou ao lado da primeira mulher a ser primeira-ministra da Jamaica, Portia Simpson-Miller [10]. Ela viveu para o trabalho, com “T” maiúsculo, e morreu em 2021, no Réveillon, aos 82 anos.

Evelyn Smart [11], cofundadora do Partido das Mulheres da Jamaica (JWPC), morreu em 11 de março de 2022, aos 93 anos. Eu me lembro do seu grande compromisso com o JWPC e com o empoderamento das mulheres para que elas assumissem cargos políticos.

Ela era focada e determinada, e sua voz era bem “professoral” (no bom sentido). Com ela, aprendi muito sobre a situação das mulheres jamaicanas; ela era “likkle” em estatura, mas “tallawah” em espírito [12].

Para mim, perder três mulheres fortemente dedicadas em um espaço de tempo tão curto só reforça o fato de que, seja o Dia Internacional das Mulheres ou não, devemos celebrar as grandes mulheres ao encontrá-las; encorajá-las e apoiá-las onde e sempre que pudermos.

Como a cineasta afro-americana Ava DuVernay disse [13], “Ignore o teto de vidro e faça seu trabalho. Se estiver focando no teto de vidro, focando no que você não tem, focando nas limitações, você se limitará”.

Acredito que essas três mulheres concordariam. De alguma forma, posso ouvir suas vozes encorajando a próxima geração de mulheres a continuar bravamente pelos caminhos que elas ajudaram a construir.