Quem são os atletas africanos competindo nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim?

No dia 4 de fevereiro, os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 começaram em Pequim, na China. Atletas de todo o mundo participaram do evento e a África não foi uma exceção. Embora a maioria dos países do continente africano tenha pouca ou nenhuma neve, o que cria um ambiente desafiador para o treinamento para os Jogos Olímpicos de Inverno, os atletas africanos estão superando as adversidades. Até agora, nenhum deles ganhou uma medalha nos Jogos Olímpicos de Inverno. Será que a África, este ano, mudará esse quadro?

Apenas cinco países africanos estarão presentes em Pequim, uma queda em relação aos oito países que participaram dos Jogos de Pyeongchang na Coreia do Sul em 2018. Ao contrário do que ocorreu naquele ano, África do Sul, Togo e Quênia não serão representados devido à falta de tempo de qualificação e de fundos. 

Estes são os cinco países e atletas africanos que erguem suas bandeiras nos jogos deste ano.

Madagascar 

A nação insular está enviando Mathieu Neumuller, enquanto Mialitiana Clerc retorna para sua segunda Olimpíada de Inverno após sua estreia nos Jogos de 2018 em Pyeonchang, na Coreia. Ambos participarão dos eventos de esqui alpino. Clerc é a única esquiadora do continente nos Jogos deste ano depois da saída da queniana Sabrina Samider. A atleta disse aos organizadores das Olimpíadas que espera “inspirar os africanos”, acrescentando:

I’m trying to be the first [African] woman who will make a World Cup podium and bring back a gold medal from the Olympics. I want to be one of the best skiers in the alpine skiing world. And at the Olympics in Beijing, I want to be in the top 40.

Estou tentando ser a primeira mulher [africana] a subir ao pódio da Copa do Mundo e a trazer uma medalha de ouro das Olimpíadas. Quero ser uma das melhores esquiadora do mundo do esqui alpino. E, nas Olimpíadas de Pequim, quero estar entre as 40 melhores.

Clerc nasceu na capital de Madagascar, Antananarivo, e cresceu na França. Começou a esquiar aos três anos de idade na região de Haute-Savoie, ao longo dos Alpes franceses. Por meio de seu amor pelo esporte e pura determinação, se classificou para os Jogos de Pyeongchang de 2018, quando tinha apenas 16 anos. A atleta também participou de outras competições de esqui na América do Sul e na Europa nos últimos quatro anos. Seu sucesso serviu de motivação para seu compatriota, Mathieu Neumuller, que nasceu em Madagascar, mas também cresceu na França.

Eritreia 

Shannon Abeda competirá no evento de esqui alpino representando a Eritreia. Shannon retorna para sua segunda participação nos Jogos Olímpicos depois de sofrer racismo, xenofobia e uma enxurrada de abusos on-line durante os últimos jogos. O atleta havia desistido e só tentou se classificar no final de 2021. Diz que deseja inspirar a próxima geração de esquiadores da Eritreia. Além disso, quer deixar de esquiar e começar a participar de competições de bobsleigh. Ele publicou um vídeo intitulado “Dear Shannon”, no Instagram, sobre sua jornada para encontrar a motivação para participar dos Jogos e superar o abuso que enfrentou ao crescer no Canadá. O vídeo é sobre sair de sua zona de conforto e a escolha de voltar aos Jogos Olímpicos mais uma vez. O eritreu atribuiu esta última ao seu sistema de apoio e àqueles que o cercam.

Marrocos

Marrocos será representado por Sami Lamhamedi, esquiador das provas masculinas de esqui alpino e slalom. O atleta está procurando melhorar o desempenho que teve nos campeonatos mundiais anteriores. Seu pai é marroquino e sua mãe, canadense, mas ele optou por disputar pelo Marrocos ainda em 2010. Foi medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude de 2012 em Innsbruck, na Áustria, e passou a representar Marrocos nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi, na Rússia. Ele espera melhorar suas atuações nos Jogos de Inverno.

Nigéria 

Samuel Ikpefan Uduigowme, da Nigéria, participará do evento de esqui cross-country. É o primeiro esquiador de cross-country do país e o único representante africano que não participa da competição de esqui alpino. Em 2016, o esquiador acionou sua mudança de dupla cidadania de francês para nigeriano e foi obrigado a viajar para Abuja, na Nigéria, a fim de provar suas habilidades à Federação de Esqui do país. Ele já está ajudando a diminuir o abismo com outros esquiadores nigerianos no exterior que desejam representar seu país de origem e espera garantir um maior número de competidores nos Jogos Olímpicos de 2026, em Milão e Cortina.

Ele passou por um rigoroso processo de qualificação para os Jogos em 2021, quando as autoridades nigerianas o fizeram voltar ao país para demonstrar suas habilidades usando esquis sobre rodas. Ele treina nos Alpes franceses, onde cresceu. Ainda, participou da Copa do Mundo na Suécia, em 2021, para confirmar sua vaga, onde estreou no esqui cross-country.

Gana

O ganês Carlos Maeder é o esquiador alpino mais velho nos Jogos e apenas o terceiro esquiador de Gana. Adotado e criado na Europa, procurou representar seu país de origem,

To set a good example and show young people in Switzerland and Ghana that you can do anything with the necessary will and effort — ain’t no mountain high enough!

Para dar um bom exemplo e mostrar aos jovens na Suíça e em Gana que você pode fazer qualquer coisa com a vontade e o esforço necessários – não há montanha alta demais!

CLASSIFICADO PARA PEQUIM 2022!
Estou muito orgulhoso de ter participado com Gana do slalom gigante olímpico e me sinto muito honrado de levar a bandeira na cerimônia de abertura.
Foi uma longa e difícil viagem, mas emocionante, nos últimos quatro ou cinco anos. Estou muito agradecido de ter podido viver todas estas experiências incríveis e ter feito amizades para toda a vida.
Muito obrigado a todos os que me apoiaram neste caminho.

Usando seu blogue, o atleta explica que, embora tenha sido dado para adoção por sua mãe, manteve-se conectado à sua cultura e raízes ganesas. Ex-jogador de futebol, reacendeu seu interesse pelo esqui em 2017 e se classificou para os Jogos de 2018, embora não tenha competido. Decidiu honrar sua classificação participando dos Jogos deste ano.

Sabrina, do Quênia, não consegue financiamento

A única representante do Quênia, Sabrina Samider, uma esquiadora que estaria competindo no esqui alpino por sua segunda Olimpíada consecutiva, não conseguiu obter financiamento do Comitê Olímpico Nacional do Quênia (NOC-K). Essa é uma triste reviravolta, já que, em 2018, o NOC-K garantiu seu financiamento e até a acompanhou aos Jogos daquele ano. Nenhuma explicação foi dada sobre o motivo pelo qual o NOC-K não conseguiu garantir o financiamento este ano.

A história da África nos Jogos Olímpicos de Inverno

Há seis décadas, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1960, em Squaw Valley, Califórnia, a África do Sul se tornou o primeiro país africano a representar a África nos Jogos de Inverno. Um quarto dos atletas africanos eram patinadores artísticos, incluindo Marcelle Matthews, que foi a mais jovem participante dos Jogos aos 11 anos. Ela se juntou a Patricia Eastwood, 12, Marion ‘Penny’ Sage, 16, e Gwyn Jones, 20.

Essa foi a última vez que a África do Sul participaria dos Jogos Olímpicos de Inverno nos 34 anos seguintes, depois de, inicialmente, ter sido impedida de participar, em 1964, devido à recusa da Federação Olímpica Nacional em condenar o apartheid. Por fim, o Comitê Olímpico Internacional (COI) expulsou os atletas sul-africanos como forma de protesto contra o apartheid e as políticas de discriminação racial do país. Desde então, 15 países representaram a África nos Jogos Olímpicos de Inverno, cerca de 28% dos 54 países do continente. 

Ao contrário das Olimpíadas anteriores, nas quais houve equipes competindo no bobsleigh, este ano, todos os participantes africanos estão competindo em eventos de participação individual.

Esses participantes enfrentam desafios únicos com oportunidades de preparação limitadas. A maioria dos esquiadores tem fortes laços com os países cobertos de neve do hemisfério norte, como França, Suíça e Alemanha. Muitos dos atletas olímpicos nasceram de pais com heranças africanas e europeias ou foram adotados por famílias europeias. Outros deixaram o continente em busca de oportunidades educacionais ou de carreira e treinamento.

Esses desafios representam um fator motivacional para muitos dos esquiadores. Para os atletas, esses jogos são uma oportunidade de inspirar e encorajar as futuras gerações de atletas olímpicos africanos.


 

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