Trágica morte de adolescente em escola de Baku provoca ira contra falido sistema do Azerbaijão

Momento do suicídio de Elina Haciyeva- ilustração de Meydan tv

Elina Hajiyeva. ilustração cedida por Meydan TV e usada sob permissão.

O chocante suicídio de uma menina de 14 anos em uma escola estadual em Baku, capital do Azerbaijão, trouxe à tona o estigma acerca do bullying escolar no país ex-soviético e provocou pedidos para que os funcionários sejam responsabilizados.

A mãe de Elina Hajiyeva, Sevil Hüseynova, diz que sua filha reclamou, diversas vezes, estar sofrendo bullying na escola nº 162, em Baku, na qual ela foi recentemente matriculada, mas alegou que a diretora da escola, Sevinj Abbasova, ignorou as queixas e insistiu que tudo estava bem.

A relutância deliberada em se envolver com alegações de bullying não é incomum nas escolas do Azerbaijão e, nesta ocasião, teve consequências trágicas.

No dia 4 de abril, Hajiyeva se jogou de uma janela do terceiro andar da escola e morreu após ser hospitalizada.

Os extremos a que Abbasova, ao que parece, chegou para encobrir a morte revelaram um ponto de inflexão para muitos azerbaijanos, que postaram notícias e opiniões sobre a morte de Elina com as hashtags #BullinqəSon (fim do bullying) e #ElinaÜçünSusma (Não se cale sobre Elina).

Durante toda a semana, ativistas, como Nijat Mammadbayli, deram o impulso inicial para ampliar a história, que se tornou tendência, nas redes sociais do Azerbaijão.

A saber, Abbasova foi acusada de coagir uma das colegas de classe de Elina a não falar com a imprensa sobre o incidente e também pressionar jornalistas a cobrir o evento de forma favorável à escola.

A primeira das acusações foi feita pela própria colega de classe em entrevista ao jornalista independente, Nurlan Libre.

A segunda surgiu depois que o site de notícias Mövqe.az divulgou o que parecia ser uma gravação de Abbasova dizendo a um dos jornalistas do site para “escrever assim”:

Write it in this way. She is a child of an immoral, failed family. Her mother got married for the second time and has other children and she does not care about her (Elina).

Escreva assim. Ela é filha de uma família imoral e fracassada. A mãe se casou pela segunda vez, tem outros filhos e não se importa com ela (Elina).

No dia 12 de abril, Abbasova, sua assistente, Lala Maharramov, e a psicóloga escolar, Konul Agayeva, foram demitidas. Muitos usuários pediram para que elas fossem processadas.

O blogueiro Alikhan Rajabov fez um clipe comovente sobre a morte de Hajiyeva, que foi bastante compartilhado.

A vida de Elina poderia ter sido salva?

No dia 11 de abril, Hijran Huseynova, presidente do Comitê Estadual do Azerbaijão para Assuntos da Família, Mulheres e Crianças, disse que o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, havia assumido pessoalmente a investigação sobre a morte de Hajiyeva.

Ainda assim, o incidente já está gerando repulsa ao sistema autoritário que ele supervisiona, principalmente devido a alegações de que funcionários da escola demoraram para levar Elina ao hospital para tentar limitar os danos, e que funcionários do hospital violaram procedimentos enquanto ela estava sob seus cuidados.

O site Eurasianet, com foco regional, relatou:

Videos have emerged on social media that show an injured Hajiyeva in the office of the principal after the incident. In these videos, administrators try to make a half-conscious Hajiyeva admit to suicidal tendencies and place the blame on family difficulties rather than bullying issues at the school. Nearly two hours after the initial attempt, an ambulance was finally called.

Surgiram vídeos nas redes sociais que mostram Hajiyeva ferida na sala da diretora após o incidente. Nesses vídeos, os administradores tentam fazer com que uma Hajiyeva semiconsciente admita tendências suicidas e culpe as dificuldades da família, em vez de problemas de bullying na escola. Quase duas horas após a primeira tentativa, uma ambulância foi finalmente chamada.

No entanto, de acordo com informações obtidas pela Meydan TV, a pessoa que questionou Hajiyeva no vídeo não era uma funcionária da escola, mas Khalida Bayramova, a vice-chefe da Autoridade Executiva do Distrito de Sabail e amiga da diretora da escola, Sevinj Abbasova.

O aparente envolvimento de um funcionário do governo em um país onde os funcionários de escola são vistos como beneficiados pelo clientelismo político e pelo nepotismo politizou ainda mais a tragédia.

As críticas públicas também se concentraram na equipe do hospital depois que um vídeo angustiante, filmado pela jornalista Gulnara Ramazanova no dia 7 de abril, mostrou cenas de revolta depois que o suporte vital de Hajiyeva foi desligado, supostamente sem o consentimento de seu pai.

“Onde estão os médicos? Onde estão os funcionários do hospital? Por que é a segurança (do hospital) que está falando com a gente?”, pode-se ouvir Ramazanova perguntando.

Uma postagem no Facebook do jornalista da Meydan TV, Habib Muntazir, indica os possíveis culpados pela morte de Hajiyeva.

The following persons, who either caused the suicide of Elina Hajiyeva, ignored her death or remained indifferent to it, and who lied to the public must be investigated. If they are found guilty, they must be punished accordingly: Sevinj Abbasova, director of School No.162; Chimnaz Hajiyeva, teacher of the schoolgirl; [name redacted due to status as a minor], a pupil of 11th grade at school No.162; Doctors at the hospital “Semashko”: surgeons Vagif Nagiyev, Ilgar Ibrahimov, Fazil Aliyev the reanimatologist, Azer Maqsudov, the Head of Toxicology Department; Adalat Dadashov, the Chief Medical Officer, Adil Salahov, the Deputy Chief Medical Officer of Clinical Medical Center No. 1; Parviz Abubakirov, the spokesman for the Health Ministry; the school psychologist and (Abbasova's) husband who is trying to save her from blame.

Deve-se investigar as seguintes pessoas que causaram o suicídio de Elina Hajiyeva, ignoraram sua morte ou permaneceram indiferentes a ela, e que mentiram para o público. Se forem consideradas culpadas, devem ser punidas de acordo: Sevinj Abbasova, diretora da escola nº 162; Chimnaz Hajiyeva, professora da aluna; [nome suprimido por ser menor de idade], aluno secundarista da escola nº 162; médicos do hospital Semashko: cirurgiões Vagif Nagiyev, Ilgar Ibrahimov, Fazil Aliyev, o chefe do departamento de Toxicologia, Azer Maqsudo; Adalat Dadashov, diretor médico; Adil Salahov, vice-diretor médico do Centro Médico Clínico nº 1; Parviz Abubakirov, porta-voz do Ministério da Saúde; psicóloga da escola e o marido (de Abbasova) que está tentando salvá-la das acusações.

No dia 11 de abril, pais de alunos da escola nº 162 realizaram um memorial para Hajiyeva em frente à escola e pediram a prisão da diretora. Uma mãe que protestava disse que, recentemente, havia questionado às autoridades locais sobre a falta de profissionalismo da direção da escola depois que seu próprio filho teve problemas dentro da instituição de ensino, mas foi ignorada.

A year ago, I complained to government agencies about the school administration. If these complaints had been considered, Elina would not be dead today.

Há um ano, reclamei com órgãos do governo sobre a administração da escola. Se essas queixas tivessem sido consideradas, Elina não estaria morta hoje.

A principal causa de suicídio é a depressão não tratada. A depressão tem tratamento e o suicídio pode ser prevenido. Você pode obter ajuda nos serviços de apoio confidenciais para suicidas e pessoas em crise emocional. Visite Befrienders.org para encontrar o número de telefone de uma linha de ajuda à prevenção de suicídio em seu país.

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