Cidadã Nigeriana é impedida de entrar em Moçambique e reacende debate sobre a mobilidade em África

Aeroporto Internacional de Maputo. Foto: Wikimedia sob licença CC BY-SA 2.0

A pandemia de COVID-19 tornou o deslocamento humano tema central do debate público. Muito disso se deve às diferentes medidas e restrições de viagens em cada país. Recentemente, a restrição de circulação para alguns países da África Austral levantou acusações de racismo e nacionalismos exagerados.

Desde o eclodir da pandemia em Moçambique não foi diferente. Foi precisamente em Março de 2020 que surgiu o primeiro caso, tendo as autoridades locais passado não só a limitar a forma como se deve entrar no país, mas igualmente passaram a impor impõem condições como apresentação de testagem ou ainda a realização de quarentena, mesmo que a vacinação não seja obrigatória.

Contudo, em 2022, o debate sobre as restrições deu lugar à relatos de maus tratos que são alegadamente perpetrados pelas autoridades de migração do país. O último caso data de 23 de Janeiro, quando a cidadã Nigeriana Pamela Aide foi impedida de entrar em Moçambique.

As autoridades alegaram que ela não tinha documentação completa para entrar no país. Além disso, seu visto não podia ser obtido no momento de chegada, contrariando a informação que obtivera dos serviços de migração do seu país.

Por outro lado, diz ela que foi informada que devia dispor de uma carta-convite ou uma referência de onde estaria hospedada. Estando já de volta ao seu país, Pamela decidiu expor o caso, numa publicação que tornou-se viral no Twitter, com mais de 9000 retweets, mais de 1000 comentários e acima de 15000 likes, Pamela Aide conta a versão na primeira pessoa:

Deixei Lagos para Moçambique na semana passada. Planejei estar lá durante cerca de uma semana e regressar à Nigéria. Como sempre faço antes de viajar, investiguei os requisitos de viagem e visto. O que descobri para os cidadãos da Nigéria é que podemos obter visto à chegada.

De qualquer modo, gostaria de vos poder dar informação sobre como evitar que isto lhe aconteça, mas não posso e isso é a coisa mais frustrante de tudo isto. Tudo o que posso dizer por agora é, não vá a #Moçambique. Eles não são nada amigáveis…pelo menos não para pessoas como eu.

O debate não passou despercebido para vários moçambicanos, que reagiram para condenar o que tinha sucedido, prestando assim solidariedade com a viajante.

Vi há pouco um tópico sobre outra má experiência com os serviços de imigração moçambicanos e não tenho realmente muito a dizer. É lamentável que alguém tenha passado por uma experiência tão stressante ao tentar visitar #Moçambique.

…a parte triste é que eu tenho testemunhado tais coisas a acontecer, é tão frustrante. Eu sou Moçambicana, e quase me perdi ao tentar ajudar alguém. parece que o visto à chegada só funciona para viajantes dos EUA ou da Europa!

Alguns internautas chegaram mesmo a indicar uma lista de países onde são considerados como estando na ”lista negra”:

Lugares que não aconselharei a nigeriana a visitar.

1. África do Sul
2. Uganda ( Lembre-se da prisão de Tems)
3. Moçambique ( Aprender com esta experiência)
4. De facto não visite nenhum país africano, é melhor visitar um país europeu com racismo e mais oportunidades.

No meio dos comentários, ficou novamente levantado o debate sobre as dificuldades existentes para realizar viagens dentro do continente, o que é caracterizado muitas vezes pela solicitação de vários documentos que em nada ajudam na mobilidade interna dos Africanos.

Lamento imenso que isto lhe tenha acontecido. Este é um dos maiores problemas em viajar através de África como africano. É tão difícil obter a informação de que necessita e depois a maioria dos funcionários não são suficientemente instruídos para saber como tratar os turistas.

Espero realmente que a África mude!

É por isso que nós, os africanos, temos de aprender a teoria racial crítica com a diáspora negra. O trabalho burocrático desnecessário que acontece nos nossos gabinetes governamentais é directamente descendente do colonialismo. Obrigado pela sua publicação e pelas respostas úteis que está a receber.

Destas reclamações surgiram soluções e propostas, como foi o caso de quem se ofereceu a ajudar para quem queira viajar da próxima vez para Moçambique:

Como moçambicano, lamento muito que isto lhe tenha acontecido. O meu pai é um antigo embaixador de Moçambique, por isso, se alguma vez considerar voltar a Moçambique, por favor não hesite em contactar-me e farei com que a sua viagem a Moçambique não seja senão encantadora. Mais uma vez, lamento.

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