No Azerbaijão, o bullying nas escolas ainda é um problema

Imagem da “Anti-bullying Respect Tour 2009″ da Working Word usada sob licença CC BY-ND 2.0

Ali Malikov está no último ano do ensino médio em Baku e, também, é bissexual. Há anos, sofre bullying na escola. Agora, no último ano, Malikov está boicotando sua escola e se recusando a frequentar as aulas após a falta de ação da administração da escola e do Ministério da Educação, segundo relato pessoal que compartilhou no Facebook.

O testemunho que Malikov escreveu em seu perfil pessoal no Facebook detalha como, desde a 8ª série, ele enfrentou assédio e abuso de seus colegas e professores e como, apesar de inúmeras reclamações ao diretor da escola, ele foi repreendido.

It was in 8th grade when somehow students in my school learned about my sexual orientation. They would call me names in the hallways of the school. Later, someone shared pictures of me wearing make up on social media, revealing my home address and the school I was studying at. I was receiving threats. I spent my time at school in constant fear. My physics teacher would tear down my notebooks, and my necklace. In 10th grade, because of the pandemic, we switched to e-learning. The same time, a trans fried was stoned a street and was told that together with me, we were a disgrace.

Foi na 8ª série quando, de alguma forma, os alunos da minha escola souberam da minha orientação sexual. Eles me xingavam nos corredores da escola. Um tempo depois, alguém compartilhou fotos minhas usando maquiagem nas redes sociais, revelando o endereço da minha casa e a escola em que eu estudava. Recebia ameaças. Passei meu tempo na escola com medo constante. Meu professor de física destruía meus cadernos e meu colar. No 10º ano, por causa da pandemia, mudamos para o ensino a distância. Na mesma época, um transexual amigo meu foi apedrejado na rua e falaram que nós éramos uma desgraça.

De acordo com a Mikroskop Media, Malikov também reclamou com o Ministério do Interior. Em 26 de novembro, ele foi convidado a comparecer a uma delegacia para falar sobre a situação. Enquanto isso, Hüseynağa Hüseynov, representante do Məktəblinin Dostu (Amigo do Aluno), projeto do Ministério da Educação que busca criar um ambiente seguro nas escolas entre professores e alunos, e prestar assistência médica e psicológica em caso de emergência, disse em uma entrevista à Mikroskop Media que aconselhou Malikov a se censurar quando estiver na escola:

We can't just approach every single student at the school to stop harassing Ali. We have talked to every student Ali has complained to us about. But what Ali demands is that we remove students who harass him. There is no such law in the legislation. I have told Ali personally, that he should self-censor himself when at school. Instead, Ali took off his rainbow colored mask, and told me that if he is not wearing this mask, then he is already self censoring himself enough. I think, Ali is still a child, and is simply under the influence of certain groups.

Não podemos simplesmente abordar todos os alunos da escola para que deixem de assediar Ali. Conversamos com todos os alunos dos quais Ali se queixou. Mas o que ele exige é que expulsemos os alunos que o assediam. Não existe tal lei na legislação. Eu disse a ele pessoalmente que deveria se autocensurar quando estiver na escola. Em vez disso, Ali tirou sua máscara colorida de arco-íris e me disse que, se ele não estiver usando essa máscara, ele já está se autocensurando o suficiente. Acho que Ali ainda é uma criança e está apenas sob a influência de certos grupos.

O jovem de 17 anos discorda. Em sua resposta, Malikov escreveu no Facebook que uma das pessoas que instiga os ataques é o próprio Hüseynov. “Fui informado de que uma das pessoas que força meus colegas de classe a escrever postagens contra mim é esse amigo do aluno”. Um dos posts a que Malikov se refere alega que a escola está fazendo tudo o que pode para protegê-lo e que, em vez disso, ele está desonrando o nome dela. “Ao usar menores como ferramenta em seus jogos, você está se desonrando. Se aqueles que têm que combater o bullying fazem exatamente o oposto hoje, que assim seja. Eu continuarei”, escreveu Malikov em seu post mais recente como resposta à situação atual com outros alunos na escola.

“Hoje eu soube que o professor de russo da minha escola mostrou minhas fotos aos alunos dizendo que eu era gay e que estava arruinando a imagem da nossa escola e da nossa educação. Os alunos estão curtindo postagens que me humilham e ameaçam. Alguns até me acusam de ser um estuprador e valentão”, escreveu Malikov em sua conta de rede social.

“Sinto vergonha dos funcionários da escola.”

Em 2019, a história de Elina Hajiyeva, uma adolescente que se suicidou pulando do terceiro andar do prédio de sua escola, repercutiu no Azerbaijão, além de desencadear uma campanha nas redes sociais contra o bullying em um país onde o tema é raramente discutido. Também no caso de Elina, apesar de suas inúmeras reclamações ao diretor da escola, nenhuma ação foi tomada.

No Azerbaijão, onde não há registro oficial de casos de bullying, a falta de resposta da administração da escola não surpreende, escreveu a pesquisadora Lala Mahmudova em seu artigo sobre bullying nas escolas do Azerbaijão em 2019.

In Azerbaijan, one of the countries where homophobia is most prevalent, it is very common among students to insult each other with homophobic epithets and obscenities.

Due to the scarcity of statistical data on Azerbaijan, it is not possible to study the extent to which conditions which contradict the principles of social justice, such as bullying, homophobia, sexism, and hate speech, are prevalent in schools today.

No Azerbaijão, um dos países onde a homofobia é mais prevalente, é muito comum entre os estudantes insultarem-se com adjetivos e obscenidades homofóbicas.

Devido à escassez de dados estatísticos sobre o Azerbaijão, não é possível estudar até que ponto as condições que contrariam os princípios da justiça social, como bullying, homofobia, sexismo e discurso de ódio, são predominantes nas escolas hoje.

De acordo com um relatório de 2019 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Programme for International Student Assessment, PISA) publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development, OECD), “em Baku (Azerbaijão), 36% dos alunos relataram sofrer bullying pelo menos algumas vezes por mês, em comparação com 23%, em média, nos países da OCDE”.

O Azerbaijão não possui leis anti-bullying. Na época do suicídio de Elina Hajiyeva, as recomendações para elaborar um projeto de lei foram aprovadas. Em vez disso, algumas escolas começaram a remover as maçanetas das janelas e a instalar barras de metal para evitar que seus alunos tentassem algo semelhante. Enquanto isso, o Ministério da Educação divulgou um vídeo promocional sobre bullying, incentivando alunos, pais e professores a se manifestarem.

O vídeo recebeu respostas controversas. Segundo reportagem do Jam-News, alguns usuários aplaudiram o ministério pela iniciativa, enquanto outros o acusaram de fugir da responsabilidade.

Malikov pede às instituições governamentais relevantes que se responsabilizem pelo que está acontecendo em sua escola, incluindo a administração da escola. Em entrevista à OC Media, Malikov disse que, até que a escola tome as medidas apropriadas e impeça o bullying e o abuso não apenas contra ele, mas também contra outros alunos, ele continuará o boicote.

Inicie uma conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.