- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

O retorno do calau-de-pescoço-ruivo ao Nepal

Categorias: Sul da Ásia, Nepal, Boas Notícias, Fotografia, Meio Ambiente, Mídia Cidadã

Dois calaus-de-pescoço-ruivo. Imagem [1] do usuário do Flickr Ron Knight, CC BY 2.0 [2].

Levou quase 200 anos para estabelecer a existência do calau-de-pescoço-ruivo [3] (Aceros nipalensis) no Nepal, visto pela última vez [4] no país em 1829. O fotógrafo da vida selvagem, Deven Kharel [5], encontrou e fotografou dois exemplares de calaus machos em 21 de dezembro de 2021 em Sim Dhap, no município de Suryodaya, distrito de Ilam [6], no leste do Nepal. O naturalista Brian Hodgson [7] descobriu essa ave no Nepal em 1829 [4] e criou o nome científico Buceros nipalensis. Antes da descoberta de Kharel, essas aves foram consideradas extintas no Nepal, embora ainda fossem encontradas na Índia, Butão, China, Mianmar, Laos, Tailândia e Vietnã.

“É uma das maiores conquistas na minha carreira de fotógrafo da vida selvagem”, disse Kharel à Global Voices por telefone do distrito de Ilam, no leste do Nepal. Ele também mencionou que:

Nobody had photographed this bird in Nepal before this. I have also photographed other birds for the first time in Nepal, including the green imperial pigeon [8] and scarlet-backed flowerpecker [9].

Ninguém havia fotografado esse pássaro no Nepal antes disso. Também fotografei outros pássaros pela primeira vez no Nepal, incluindo o pombo-imperial-verde [8] e o pica-flor-de-dorso-vermelho [10].

Kharel fotografou quatro espécies de calaus [11] encontrados no Nepal: o calau-grande em Besibazar, Mechinagar [12] no distrito de Jhapa; o calau-de-face-branca na Floresta Comunitária [13] de Bansbari, Mechinagar, Jhapa; o calau-cinzento indiano em Kakarvitta, Mechinagar, Jhapa; e sua recente descoberta no município de Suryodaya de Ilam.

Calaus do Nepal: (da esquerda para a direita) calau-de-pescoço-ruivo, calau-grande, calau-cinzento indiano e calau-de-face-branca, fotografados no leste do Nepal. Todas as imagens por Deven Kharel. Usada sob permissão.

O analista de biodiversidade Kamal Maden [14] escreveu no jornal diário Nayapatrika sobre a descoberta de alguns calaus-de-pescoço-ruivo em 1850 e criticou os autores de Um Guia para as Aves do Nepal [15] (em inglês, A Guide to the Birds of Nepal) por declararem a ave provavelmente extinta no país. Em resposta às críticas [16] de Maden em relação à falta de pesquisas sobre calaus-de-pescoço-ruivo, Carol Inskipp, uma das autoras do livro, escreveu no Facebook [17]:

Considering the complete absence of Rufous-necked Hornbill from Nepal for nearly 200 years, the 2021 sighting of this globally threatened species, by D. Kharel is an important record, which should be published in a peer-reviewed journal with the original photographs. In addition, further surveys are required to establish whether the species is resident in the country or merely an occasional visitor and of the extent of suitable habitat.

Carol Inskipp, Tim Inskipp and Dr Hem Sagar Baral

Considerando a completa ausência do calau-de-pescoço-ruivo no Nepal há quase 200 anos, o encontro em 2021 dessa espécie globalmente ameaçada por D. Kharel é um registro importante o qual deve ser publicado em um periódico revisado por pares com as fotografias originais. Além disso, mais pesquisas são necessárias para definir se a espécie é residente no país ou apenas um visitante ocasional, e também para definir a extensão do seu apropriado habitat.

Indicador da saúde de uma floresta

Quando a descobriu, Hodgson escreveu [4] sobre essa bela ave, em 1833:

This remarkable and very large species, which I have the advantage of contemplating at leisure in a live specimen, measures from the point of one wing to that of the other, four feet five inches; and from the tip of the beak to the extremity of the tail, three feet six inches, whereof the beak is eight inches, and the tail, one foot five inches.

Esta espécie notável e muito grande, que tenho a sorte de contemplar à vontade em uma amostra viva, mede da ponta de uma asa à outra 134,62 centímetros, e da ponta do bico até a extremidade da cauda 106,68 centímetros, tendo o bico 20,32 centímetros e a cauda 43,18 centímetros.

A fundação Nature inFocus, da Índia, tuitou:

#NiFHiveFeature [18]: Bibaswan Sarkar fotografou um #calau [19] de pescoço ruivo em Latpanchar, #BengalaOcidental [20].

Como o nome sugere, os calaus machos têm cabeça, pescoço e partes inferiores de cor ruiva, enquanto as fêmeas são predominantemente de cor preta.

O usuário do Twitter, Trooper (@pnkjshm), mencionou:

Um dos maiores calaus da ordem Bucerotiforme. Vulnerável na lista vermelha da IUCN com menos de 10.000 adultos na natureza selvagem.

Calau-de-pescoço-ruivo (Aceros nipalensis)

Encontrado no nordeste da Índia e sudeste da Ásia. Localmente extinto no Nepal devido à caça e à perda de habitat.

O calau-de-pescoço-ruivo é classificado como “vulnerável” [29] pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Essas aves residentes não migratórias são monogâmicas por natureza e fazem ninho em buracos naturais e cavidades em árvores antigas e altas. Como exigem grandes extensões de florestas com grandes árvores para os ninhos, sua presença indica a boa saúde [30] de uma floresta. Eles também desempenham um papel importante na dispersão de sementes.

O usuário do Twitter, GoneBirding (@Staring_Space), compartilhou:

O belo calau-de-pescoço-ruivo. Aqui visto carregando um pequeno fruto para alimentar a fêmea. Essa prática de levar comida durante o ritual de acasalamento é comum entre as aves, assim como entre os humanos.

Essas aves estão ameaçadas [35] pela degradação e fragmentação do habitat, desmatamento, caça e captura para o comércio de animais de estimação. No entanto, conservá-los não apenas ajudará a salvar as florestas, como também trará enormes perspectivas de turismo para o distrito de Ilam, como ocorreu [36] em Latpanchar, uma pequena aldeia no vizinho distrito de Darjeeling [37], na Índia.