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Google remove anúncios do YouTube com interrogatórios de prisioneiros políticos bielorrussos

Categorias: Europa Oriental e Central, Belarus, Ativismo Digital, Censorship, Direitos Humanos, Eleições, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Política, Protesto, Tecnologia, GV Advocacy, Belarus In Turmoil

O Google e o YouTube supostamente removeram anúncios de vídeo polêmicos com cenas de interrogatórios de prisioneiros políticos bielorrussos promovidos por canais pró-governo da Bielorrússia no YouTube.

Os anúncios foram vistos pela primeira vez em maio de 2021 por bielorrussos e jornalistas e ativistas internacionais. Tadeusz Giczan, jornalista e pesquisador bielorrusso, postou [4] sobre a descoberta no Twitter:

Curiosidade: por quase um ano, a agência de notícias estatal bielorrussa BelTA tem usado vídeos de reféns como o de Roman Protasevich como anúncios pagos no YouTube com links para sua rede pró-governo do Telegram. Tentamos de tudo, mas o YouTube diz que não há nada de errado nisso.

Os vídeos curtos apresentam membros da oposição e jornalistas independentes presos pelo regime de Lukashenka no que parecem ser confissões forçadas. Os anúncios foram usados ​​para promover o noticiário pró-governo BelTA e vincular a vídeos mais longos publicados pelo canal do YouTube [7] “Belarus – a country for life”, vinculado à rede estatal de canais do Telegram, segundo uma investigação do EUvsDisinfo [8]. Aparecem nos vídeos Roman Protasevich, jornalista independente e ex-administrador do canal do Telegram NEXTA Live [9], e sua namorada Sofia Sapega, que foi presa depois que a Bielorrússia forçou a aterrissagem de um avião da Ryanair [10] em maio de 2021.

A Bielorrússia já havia usado vídeos de confissões forçadas para desacreditar dissidentes, incluindo a líder oposicionista exilada Sviatlana Tsikhanouskaya. Em agosto de 2020, logo após o início dos protestos antigovernamentais [11] no país depois de uma eleição fraudulenta, o estado publicou um vídeo [12] de Tsikhanouskaya dizendo a seus apoiadores “para não arriscarem a vida” e não se juntarem a protestos em massa. Tsikhanouskaya deixou a Bielorrússia pouco depois e tem feito campanha pela libertação de todos os presos políticos.

Grupos de direitos humanos condenaram [13] a promoção dos vídeos de confissões forçadas [13], com ativistas destacando [14] que eram contra as políticas das plataformas do Google e do YouTube e que elas também violaram a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura. De acordo com alguns dos detidos [15], que foram posteriormente libertados, os serviços de segurança do Estado empregaram tortura e violência física e psicológica para obter os depoimentos registrados.

Em maio de 2021, um porta-voz do Google disse [16] ao Rest of World, que a empresa “identificou ambos os anúncios (que incluíam Pratasevich e Sapega – GV) e agiu contra eles de acordo com sua política de conteúdo impróprio”. As Políticas de Publicidade do YouTube proíbem explicitamente [17] anúncios que “identificam alguém por abuso ou assédio; conteúdo que sugere que um evento trágico não aconteceu ou que as vítimas ou suas famílias são atores ou cúmplices no encobrimento do evento”. As diretrizes da comunidade [18] da plataforma também proíbem discurso discriminatório, exploração, assédio e conteúdo que promova comportamento violento, perigoso ou ilegal.

No entanto, os canais pró-governo bielorrussos continuaram a publicar [14] anúncios de vídeo semelhantes no YouTube, contendo confissões forçadas de outros prisioneiros políticos e propaganda pró-governo.

Em 21 de dezembro de 2021, a líder da oposição Tsikhanouskaya, agindo em nome do Conselho de Coordenação da oposição e das famílias dos detidos, enviou uma carta aberta [14] ao CEO do Google, Sundar Pichai, solicitando que o Google e o YouTube removessem os vídeos ofensivos, bloqueassem a inserção de anúncios semelhantes no futuro e restringissem o acesso ao serviço às pessoas responsáveis ​​pelo conteúdo.

Em 3 de janeiro deste ano, Tsikhanouskaya relatou que recebeu uma resposta de Karan Bhatia, vice-presidente de Assuntos Governamentais e Políticas Públicas do Google.

Após a minha carta, o @Google [19] removeu os anúncios com interrogatórios políticos, prisioneiros. De acordo com a carta de resposta, as contas que veiculam esses anúncios agora estão restritas. Os vídeos de testemunhos forçados violam a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura. Obrigada, @Google [19], por apoiar a Bielorrússia.

Na carta [22], Bhatia disse que o Google removeu os anúncios sinalizados por “violação de nossas políticas” e “restringiu as contas de anúncios responsáveis ​​pela veiculação de mais anúncios”. A plataforma também confirmou que quaisquer novos anúncios vinculados a vídeos ou páginas de destino restritos “não apareceriam” no YouTube.

De acordo com a organização de direitos humanos Viasna 96, existem atualmente 968 indivíduos [23] classificados como presos políticos na Bielorrússia e esse número continua a crescer. A maioria dos presos ou detidos foi alvo de processo criminal com motivação política relacionada à constante turbulência após a eleição presidencial e aos protestos em massa de agosto de 2020. Vários presos políticos de alto perfil, incluindo o blogueiro e jornalista Ihar Losik, e Syarhey Tsikhanouski, ex-candidato presidencial e marido de Tsikhanouskaya, foram recentemente condenados [24] a longas penas de prisão.