O Google e o YouTube supostamente removeram anúncios de vídeo polêmicos com cenas de interrogatórios de prisioneiros políticos bielorrussos promovidos por canais pró-governo da Bielorrússia no YouTube.
Os anúncios foram vistos pela primeira vez em maio de 2021 por bielorrussos e jornalistas e ativistas internacionais. Tadeusz Giczan, jornalista e pesquisador bielorrusso, postou sobre a descoberta no Twitter:
Fun fact: for almost a year Belarusian state news agency BelTA has been using hostage videos like the one with Roman Protasevich as paid ads on YouTube with links to their network of pro-govt telegram channels. We tried everything but YouTube says there’s nothing wrong about it. pic.twitter.com/suFn3ISdPi
— Tadeusz Giczan (@TadeuszGiczan) May 25, 2021
Curiosidade: por quase um ano, a agência de notícias estatal bielorrussa BelTA tem usado vídeos de reféns como o de Roman Protasevich como anúncios pagos no YouTube com links para sua rede pró-governo do Telegram. Tentamos de tudo, mas o YouTube diz que não há nada de errado nisso.
Os vídeos curtos apresentam membros da oposição e jornalistas independentes presos pelo regime de Lukashenka no que parecem ser confissões forçadas. Os anúncios foram usados para promover o noticiário pró-governo BelTA e vincular a vídeos mais longos publicados pelo canal do YouTube “Belarus – a country for life”, vinculado à rede estatal de canais do Telegram, segundo uma investigação do EUvsDisinfo. Aparecem nos vídeos Roman Protasevich, jornalista independente e ex-administrador do canal do Telegram NEXTA Live, e sua namorada Sofia Sapega, que foi presa depois que a Bielorrússia forçou a aterrissagem de um avião da Ryanair em maio de 2021.
A Bielorrússia já havia usado vídeos de confissões forçadas para desacreditar dissidentes, incluindo a líder oposicionista exilada Sviatlana Tsikhanouskaya. Em agosto de 2020, logo após o início dos protestos antigovernamentais no país depois de uma eleição fraudulenta, o estado publicou um vídeo de Tsikhanouskaya dizendo a seus apoiadores “para não arriscarem a vida” e não se juntarem a protestos em massa. Tsikhanouskaya deixou a Bielorrússia pouco depois e tem feito campanha pela libertação de todos os presos políticos.
Grupos de direitos humanos condenaram a promoção dos vídeos de confissões forçadas, com ativistas destacando que eram contra as políticas das plataformas do Google e do YouTube e que elas também violaram a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura. De acordo com alguns dos detidos, que foram posteriormente libertados, os serviços de segurança do Estado empregaram tortura e violência física e psicológica para obter os depoimentos registrados.
Em maio de 2021, um porta-voz do Google disse ao Rest of World, que a empresa “identificou ambos os anúncios (que incluíam Pratasevich e Sapega – GV) e agiu contra eles de acordo com sua política de conteúdo impróprio”. As Políticas de Publicidade do YouTube proíbem explicitamente anúncios que “identificam alguém por abuso ou assédio; conteúdo que sugere que um evento trágico não aconteceu ou que as vítimas ou suas famílias são atores ou cúmplices no encobrimento do evento”. As diretrizes da comunidade da plataforma também proíbem discurso discriminatório, exploração, assédio e conteúdo que promova comportamento violento, perigoso ou ilegal.
No entanto, os canais pró-governo bielorrussos continuaram a publicar anúncios de vídeo semelhantes no YouTube, contendo confissões forçadas de outros prisioneiros políticos e propaganda pró-governo.
Em 21 de dezembro de 2021, a líder da oposição Tsikhanouskaya, agindo em nome do Conselho de Coordenação da oposição e das famílias dos detidos, enviou uma carta aberta ao CEO do Google, Sundar Pichai, solicitando que o Google e o YouTube removessem os vídeos ofensivos, bloqueassem a inserção de anúncios semelhantes no futuro e restringissem o acesso ao serviço às pessoas responsáveis pelo conteúdo.
Em 3 de janeiro deste ano, Tsikhanouskaya relatou que recebeu uma resposta de Karan Bhatia, vice-presidente de Assuntos Governamentais e Políticas Públicas do Google.
Following my letter, @Google removed the ads with interrogations of polit. prisoners. By the response letter, the accounts running those ads are now restricted. The videos of forced testimonies violate the UN Convention against Torture. Thank you @Google for standing by Belarus. pic.twitter.com/qJITO19o2z
— Sviatlana Tsikhanouskaya (@Tsihanouskaya) January 3, 2022
Após a minha carta, o @Google removeu os anúncios com interrogatórios políticos, prisioneiros. De acordo com a carta de resposta, as contas que veiculam esses anúncios agora estão restritas. Os vídeos de testemunhos forçados violam a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura. Obrigada, @Google, por apoiar a Bielorrússia.
Na carta, Bhatia disse que o Google removeu os anúncios sinalizados por “violação de nossas políticas” e “restringiu as contas de anúncios responsáveis pela veiculação de mais anúncios”. A plataforma também confirmou que quaisquer novos anúncios vinculados a vídeos ou páginas de destino restritos “não apareceriam” no YouTube.
De acordo com a organização de direitos humanos Viasna 96, existem atualmente 968 indivíduos classificados como presos políticos na Bielorrússia e esse número continua a crescer. A maioria dos presos ou detidos foi alvo de processo criminal com motivação política relacionada à constante turbulência após a eleição presidencial e aos protestos em massa de agosto de 2020. Vários presos políticos de alto perfil, incluindo o blogueiro e jornalista Ihar Losik, e Syarhey Tsikhanouski, ex-candidato presidencial e marido de Tsikhanouskaya, foram recentemente condenados a longas penas de prisão.