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Na Guatemala, ancestrais são lembrados com comida, marimba e “flores dos mortos”

Categorias: América Latina, Guatemala, Arte e Cultura, Indígenas, Mídia Cidadã, Religião

Foto de Estuardo Tunche para Prensa Comunitaria

Esta história é uma fusão e republicação de dois artigos de Elías Oxom [1]Joel Pérez [2] na Prensa Comunitaria.

No dia 1º e 2 de novembro, guatemaltecos em todo o país comemoraram o Dia de Finados com diferentes expressões religiosas e culturais para lembrar de seus antepassados, seus entes queridos que partiram. Nos cemitérios e nas casas foram colocadas fotografias, flores, alimentos e água para os santos falecidos.

Os altares foram decorados com folhas de pacaya [3]e Oq'ob’ (também conhecidas como folhas da árvore liquidâmbar [4]) e adornados com tutz’ (calêndula, a “flor dos mortos” [5]). Também foram colocadas frutas, diferentes tipos de comida, velas, folhas com aroma pinheiro e resina da árvore copal [6] (também conhecida como “pom” na língua maia).

Essas práticas são realizadas com profunda solenidade por aqueles que ainda as seguem, pois, com o passar dos anos, o costume vem perdendo força. No entanto, apesar de alguns cemitérios ainda terem restrições à entrada de visitantes, as pessoas não deixaram de celebrar a vida. A pandemia deixou muita dor em decorrência das mortes por Covid-19.

Foto de Guadalupe Figueroa para Prensa Comunitaria

Por exemplo, antes da pandemia de Covid-19, a cada 2 de novembro, centenas de famílias costumavam visitar o cemitério municipal de Ixcán, Quiché, no noroeste da Guatemala, onde a igreja católica celebrava uma missa.  

Foto de Prensa Comunitaria, Ixcán, Quiché

Embora as autoridades sanitárias tenham anunciado que durante os dias 1º e 2 de novembro o acesso ao cemitério municipal estaria restrito, era evidente que não havia um grande controle. Assim, algumas famílias foram visitar seus entes queridos no dia 2 de novembro.

Foto de Prensa Comunitaria, Ixcán, Quiché

Em Alta Verapaz, essa expressão cultural aproximou famílias e a atividade se tornou uma reunião familiar. Além de dividirem o alimento sagrado, as pessoas compartilharam a bebida de caldo de cana (b'oj) e oraram por aqueles que se foram. O povo Maya Kaqchikel de San Pedro Sacatepéquez celebrou o Dia de Finados no parque central, onde foi construído um altar em homenagem aos mortos. Também houve apresentações de marimba e violinos, e uma exposição de arte.

Foto de Feliciana Herrera para Prensa Comunitaria

Da mesma maneira, no território de Maya Ixil, na capital municipal de Nebaj, as famílias visitaram seus falecidos entre 28 e 30 de outubro, visto que o cemitério estaria fechado no domingo. Várias comunidades recordaram de seus antepassados com marimba e comida. Também foram realizadas  atividades familiares e comunitárias.

Da mesma forma, na cooperativa Nuevo Horizonte, na região norte de Petén, desde de manhã cedo, as famílias decoraram os túmulos de seus entes queridos com flores coloridas e também com doces e comidas que os falecidos gostavam. Em San Juan Comalapa, no distrito de Chimaltenango, no centro da Guatemala, a família de Doña Zoila Girón preparou “fiambre, [7]“, um prato tradicional do país, feito com carnes curadas e vegetais. Eles enfatizam que é uma tradição culinária familiar do Dia de Finados. No município de Todos Santos Cuchumatán, próximo da fronteira com o México, foi realizada uma tradicional corrida de cavalos.

Embora os dois anos de pandemia tenham afetado a visitação de famílias aos cemitérios, muitas comunidades seguiram homenageando seus ancestrais e comemorando a vida.