Novo projeto portuário impulsionado pela China enfrenta oposição de moradores locais e ecologistas no Peru

Protesto contra o porto em 2019. Foto de Miriam Arce. Usada com autorização.

Organizações civis peruanas alertam sobre o grave impacto à saúde humana e ao meio ambiente que a construção do Terminal Portuário Multifuncional de Chancay, projeto promovido pela empresa chinesa COSCO e pela empresa extrativista peruana, Volcan Compañía Minera, pode causar.

A COSCO pretende transformar o porto de Chancay “em um centro nevrálgico da América do Sul e uma porta de entrada para o Pacífico”, já que o porto fica a 58 quilômetros ao norte de Lima, capital política e empresarial do Peru. Autoridades portuárias de Chancay afirmaram que o projeto irá gerar mais de 9.000 empregos, 90% dos quais serão preenchidos pela população local.

O ex-presidente do Peru, Martín Vizcarra, disse em 2019 que, graças a este projeto, espera-se que o país ofereça “uma das melhores ofertas portuárias da América do Sul”.

No início de 2019, a COSCO adquiriu 60% da participação da Volcan no porto de Chancay, cujo valor é de 225 milhões de dólares dos Estados Unidos, de acordo com as mídias estatais chinesas XinhuaChina Daily. Trata-se do primeiro projeto de terminal controlado pela COSCO na América do Sul. A previsão é de que as operações portuárias comecem em 2013 e incluam terminais multipropósitos, terminais de contêineres e instalações de infraestrutura relacionadas, com uma capacidade total anual de um milhão de TEU (tráfego marítimo de contêineres). É um porto de tamanho médio, considerado um grande avanço para a região.

Após uma série de protestos, iniciados em 2019, ativistas e moradores locais pediram a modificação do plano de construção em agosto de 2020. Meses depois, a COSCO e a Volcan apresentaram algumas alterações. Contudo, apesar das constantes críticas, as autoridades peruanas aprovaram a construção em dezembro de 2020. Uma vez dado o sinal verde, a COSCO investirá um adicional de 1.300 milhões de dólares dos EUA para realizar a primeira fase do projeto, cuja construção está prevista para o início de abril.

A natureza depende de relatórios tendenciosos?

Protesto com distanciamento social em 2020. Foto de Miriam Arce. Usada com autorização.

As organizações locais afirmam que a consultora contratada pela COSCO e Volcan escondeu a magnitude dos perigos do novo porto.

O Peru é um dos países com maior biodiversidade do mundo. O impacto nas zonas úmidas, as altas emissões de poluentes tóxicos, a poluição sonora, a alteração da linha de costa, a mortalidade massiva da fauna e da flora do local, são algumas das 50 observações que a ONG local Mundo Azul formulou em 2020. A entidade analisou os documentos de impacto ambiental apresentados pela COSCO e pela Volcan às autoridades ambientas peruanas.

Stefan Austermühle, biólogo e diretor executivo da Mundo Azul, afirma que a avaliação ambiental apresentada pela COSCO e Volcan traz informações questionáveis e incompletas.

“A avaliação de impacto ambiental esconde os verdadeiros perigos e não deve ser aprovada pelo governo em seu estado atual”, declarou Austermühle à Global Voices. “No entanto, dada a posição do governo, dos grupos de pressão e a influência dos investidores do projeto, parece pouco provável que o governo dê ouvidos à nossa opinião”. Ele disse que o projeto terá um sério impacto ambiental e afetará a saúde da população local.

A construção do terminal exigirá uma dragagem profunda da terra, o que alterará as correntes marítimas e a direção das ondas, afetará a fauna marinha e provocará uma mortalidade massiva das espécies marinhas durante o processo de construção, disse Austermühle. Também afetará o ecossistema natural do pântano de Santa Rosa, um importante centro de biodiversidade.

A população teme ser deslocada

Foto de Miriam Arce de um protesto em 2019, usada com autorização.

Os moradores locais afirmam que suas casas nas falésias envolventes serão afetadas pela grave alteração da zona. Infelizmente, suas perguntas ficaram sem resposta.

“Não nos deram nenhuma garantia de que os moradores e proprietários de imóveis desta área serão compensados financeiramente se houver danos ou perdas devido ao impacto do projeto”, disse à Global Voices, Miriam Arce, presidente da Associação em Defesa da Habitação e Meio Ambiente do Porto de Chancay.

“Ao longo da história do Peru, não há critério para os investimentos, desde que tragam dinheiro, e o estado ou o governo permitem que isso aconteça”, continuou Arce. Ela protesta contra os projetos de expansão do porto desde 2008.

“É uma área povoada, temos nossa história, nossa biodiversidade particular, alguns vivem do setor de turismo. Se o projeto continuar, tudo mudará para sempre, nunca iremos nos recuperar disso”, afirma.

O projeto também inclui a diminuição da altura do morro vizinho, Cerro Cascajo, de 8 para 4 metros. “Eles justificam dizendo que o barulho e a poeira emitidos serão atenuados ao baixar a altura, mas e quanto às pessoas que moram no morro?”, perguntou à imprensa local, Williams Jurado, presidente do Comitê de Vigilância do Pântano Santa Rosa de Chancay. “Até 5 famílias moram aqui”.

Enquanto isso, moradores, ativistas e organizações locais continuam realizando reuniões virtuais com as autoridades para exercer pressão sobre o caso.

Miriam Arce entre outros criaram páginas na rede social Facebook (ChancaySostenibleCoordinadora en defensa de los intereses de Chancay) na esperança de obter mais apoio para anular a decisão do governo de permitir a expansão do projeto do Terminal Portuário de Chancay em abril. Unindo forças com outras organizações, Arce entrou em contato com membros do Congresso, até agora sem muito sucesso.

Foto de Miriam Arce de um protesto em 2019, usada com autorização.

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