Este artigo foi escrito por Sean McCoon e originalmente publicado no Cari-Bois News. Uma versão editada é republicada aqui como parte de um acordo de compartilhamento de conteúdo com a Global Voices.
Uma brisa leve, mas pútrida, passando pelo manguezal da lagoa Petit Trou do sudoeste de Tobago, deu início a uma investigação matinal por uma equipe de ambientalistas da Organização Não Governamental Meio ambiente de Tobago. Algo estava desestabilizando os ecossistemas da área fazendo com que as árvores morressem, e era preciso saber o que era.
Desde agosto a ONG tem recebido diversos relatórios sobre o estado do manguezal. A investigação logo revelou que os manguezais estavam sofrendo um fenômeno conhecido como “seca de ponteiros” (em inglês, dieback), uma doença que afeta as plantas lenhosas e se caracteriza pela morte progressiva de ramos, galhos, brotos ou raízes, começando nas pontas.
A equipe encontrou vários fatores que ameaçam a saúde da floresta de mangue, incluindo o despejo de resíduos sólidos de fontes domésticas e comerciais, bem como o mau funcionamento de operações de contenção de esgoto residencial e comercial, e a superabundância de sargaço podre (uma macroalga marrom flutuante de rápida replicação, cujo nome vem do Mar dos Sargaços, de onde se originou). O sargaço é responsável pelo cheiro e pela degradação. Grandes depósitos de sargaço estavam se acumulando em espaços limitados, apodrecendo, emitindo gases nocivos e desestabilizando o ecossistema a ponto de os caranguejos de mangue antes abundantes, agora se tornarem raros.
De acordo com a professora Mona Webber, diretora do Centro de Ciências Marinhas da Universidade das Índias Ocidentais, Campus Mona, na Jamaica, o acúmulo de sargaço e algas marinhas nos manguezais torna-se tóxico quando começa a apodrecer, produzindo sulfeto de hidrogênio e matando os ecossistemas.
No caso do Petit Trou, a evidência da exposição a essas emissões gasosas é vista na descoloração dos pregos que prendem o adorado calçadão de madeira da área, que funciona como uma rede de acesso bem-organizada em todo o manguezal e margeia o empreendimento Tobago Plantations, uma região que abriga vários conjuntos de casas de férias e um campo de golfe. A visão e o cheiro dos manguezais em decomposição agora estão em justaposição nítida com as propriedades luxuosas ao redor.
Embora a equipe do Meio Ambiente de Tobago acredite que os ecossistemas e as áreas ambientalmente sensíveis dentro e ao redor do complexo devam ser cuidados da mesma forma que o resto da propriedade, a “dura realidade” de sua visita ao local não ofereceu essa garantia. A localização da lagoa ao longo da costa atlântica expõe seus manguezais a um influxo anual de depósitos de sargaço. Essa barragem gera diversos efeitos, alguns dos quais prejudiciais à sobrevivência dos manguezais e à biodiversidade existente nas áreas aquáticas do ecossistema.
O papel dos manguezais na ação climática
Os manguezais representam um recurso natural rico e diversificado, além de abrigar, de forma única, uma grande variedade de biodiversidade adaptada. Essa vegetação fornece um elo crítico entre os ecossistemas marinho e terrestre, oferecendo estabilidade não apenas para o habitat de mangue em si, mas também para outros ecossistemas costeiros, a exemplo das algas marinhas e dos recifes de coral, como é o caso da lagoa Bon Accord, também localizada na costa sudoeste da ilha.
Esses ecossistemas desempenham um papel importante na reposição de várias populações de peixes, tanto para as espécies costeiras quanto para as de lagoa. Os nutrientes fornecidos às lagoas como detritos dos ecossistemas do mangue são transportados para as águas costeiras pelas correntes das marés.
Adotando uma filosofia de “prevenir é melhor do que remediar”, a ONG Meio Ambiente de Tobago acredita que a estrutura da política de Tobago para tratar de tais questões necessita urgentemente de revisão. Igualmente importante, a ONG está defendendo uma melhor aplicação das leis ambientais existentes em nível nacional e observa que “chegou a hora de penalidades severas para aqueles que violarem as leis”. O grupo também diz que é hora de abordar o despejo desenfreado de resíduos sólidos de fontes domésticas e comerciais em florestas de mangue que, juntamente com o mau funcionamento das operações de contenção de esgoto residencial e comercial, é “um fator importante a ser considerado em qualquer missão para salvar o manguezal de Tobago”:
Climate action through resilience building, conservation, and a keen sense of urgency to educate the public and all stakeholders not just within Tobago, but nationally and regionally, should be prioritised.
Tobago, being the smaller [island] of the twin island republic [of Trinidad and Tobago], is well positioned to be an example of what can become a climate resilient, protective and proactive society. However, Tobago also stands to lose from the fast-paced degradation and destruction of sensitive ecosystems. It is up to the authorities, civil society and the average citizen to understand their worth and to guard jealously what remains of nature’s gifts to us […]
A serious revisiting of our priorities is needed to properly understand how important sensitive ecosystems are for the longevity of not just biodiversity, but humanity as we know it on earth.
A ação climática por meio da construção de resiliência, conservação e um forte senso de urgência para educar o público e todas as partes interessadas, não apenas em Tobago mas nacional e regionalmente, deve ser priorizada.
Tobago, sendo a menor (ilha) da república das ilhas gêmeas (de Trinidad e Tobago), está bem-posicionada para ser um exemplo do que pode se tornar uma sociedade resistente ao clima, protetora e proativa. No entanto, Tobago também tem a perder com a degradação e destruição aceleradas de ecossistemas sensíveis. Cabe às autoridades, à sociedade civil e ao cidadão comum compreender o seu valor e zelar pelo que resta das dádivas da natureza para nós […]
Uma revisão séria de nossas prioridades é necessária para entender adequadamente como os ecossistemas sensíveis são importantes para a longevidade não apenas da biodiversidade, mas da humanidade como a conhecemos na Terra.
Tobago foi, no passado, muito progressista no que diz respeito às questões ambientais, tendo providenciado a proteção de sua Main Ridge, a mais antiga reserva de floresta tropical do hemisfério ocidental. A área foi recentemente designada como “Reserva do Homem e da Biosfera” pela UNESCO. Até agora, no entanto, não conseguimos obter um retorno sobre o relatório dos manguezais da Assembleia Legislativa de Tobago, do corpo administrativo da ilha ou de qualquer outra autoridade de Tobago.