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Sucesso da vacinação contra Covid-19 no Butão é “raio de esperança” para o sul da Ásia

Categorias: Sul da Ásia, Butão, Boas Notícias, Desastre, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Governança, Mídia Cidadã, Política, Saúde, Tecnologia, COVID-19
People of Bhutan. Image via Flickr by prbuckley1. CC BY 2.0. [1]

Habitantes do Butão. Imagem via Flickr de prbuckley1 [1]. CC BY 2.0.

O Reino do Butão, pequeno país do sul da Ásia localizado no leste do Himalaia, alcançou um feito raro: até o fim de julho de 2021, já havia conseguido administrar as duas doses da vacina contra a Covid-19 [2] a 90% da população adulta.

Comparado a outros países da região como Índia, Paquistão e Bangladesh, que estão tendo dificuldades [3] para conseguir e aplicar vacinas em sua imensa população, o Butão conta com uma população de apenas 780.910 [4] habitantes. O país também lidou bem com a pandemia em comparação com os seus vizinhos, e inclusive ajudou o Nepal enviando 230.000 doses que sobraram.

O enfrentamento da pandemia no Butão, apesar dos recursos limitados, já está sendo aplaudido como uma “história de sucesso” [5] e um “raio de esperança [6]” para os países próximos.

O primeiro caso de Covid-19 no Butão foi registrado [7] em 6 de março de 2020, quando um turista americano testou positivo. O país imediatamente adotou medidas rígidas, incluindo a identificação e o isolamento de 300 pessoas com as quais o turista possivelmente teve contato. O governo também proibiu [8] a entrada de turistas, fechou escolas e instituições públicas, adiou conferências internacionais e tomou providências adicionais [9] para prevenir a transmissão local em áreas de alto risco.

As autoridades organizaram campanhas pedindo aos cidadãos para usar máscaras, lavar as mãos e praticar o distanciamento social. Até mesmo o venerado rei Jigme Khesar Namgyel Wangchuck foi [10] a pé e a cavalo até regiões remotas para supervisionar diversas medidas de controle, como notou o jornalista Tenzing Lamsang, no Twitter, em junho:

Sua Majestade, o Rei, caminhou por cinco dias nas regiões da fronteira leste do Butão por florestas e desfiladeiros, mesmo com chuva e sanguessugas, para vistoriar os postos montados, impedir travessias ilegais e evitar a transmissão da Covid-19. Esta é a sua 14ª ou 15ª viagem desde o começo da pandemia. Desta vez, foi acompanhado pelo primeiro- ministro.

O pequeno país tinha apenas 350 médicos e 3.000 profissionais da saúde quando a pandemia começou, e até agora já mobilizou [2] cerca de 30.000 cidadãos voluntários para ajudar em diversas atividades preventivas da doença.

Um fundo de ajuda humanitária de 19 milhões de dólares trouxe alívio [5] para mais de 34.000 butaneses cujo sustento foi afetado pelas restrições da pandemia, e um registro dos cidadãos em situação vulnerável em todo o país facilitou a distribuição de kits de cuidados para mais de 51.000 pessoas acima de 60 anos.

Os resultados foram exemplares, e os números atestam isso: até o dia 15 de agosto, o Butão registrou [13] apenas três mortes por Covid-19 e há, no momento, 32 casos ativos em um total de 2.566 desde o começo da pandemia.

Impulso à vacinação

O Butão recebeu da Índia  uma doação [14] de 150.000 doses da Covishield, da AstraZeneca [15], em janeiro deste ano, e mais 400.000 unidades em março. Em abril, o país virou notícia quando completou [16] a administração da primeira dose da vacina em mais de 85% dos 548.000 adultos [4] acima de 18 anos de idade em apenas uma semana.

Mas houve falta da vacina depois que a Índia vetou [17] a exportação de vacinas no final de março. Segundo informações [18], o prazo final para a segunda dose da AstraZeneca era entre 12 a 16 semanas depois da primeira.

O governo iniciou esforços diplomáticos para obter vacinas de outras fontes e, em junho, o primeiro-ministro Lotay Tshering anunciou [19] que o país poderia misturar doses de diferentes laboratórios para completar a vacinação da população.

Em 12 de julho, o primeiro lote de 500.000 doses da vacina da Moderna [20], cedidas pelos Estados Unidos por meiodo programa COVAX [21], chegaram ao Butão. O país também recebeu [22], no mesmo mês, mais de 350.000 doses da AstraZeneca vindas da Bulgária, Croácia e Dinamarca, e 50.000 doses da Sinopharm, da China [23].

Chart by Our World In Data. CC BY [24]

Gráfico: Our World In Data [24]. CC-BY [25]

O programa de aplicação da segunda dose começou em 20 de julho. Em uma semana, quase 90% da população adulta recebeu a dose final [6] da vacina contra a Covid-19. Até 12 de agosto, 69% da população total [24] já havia recebido pelo menos uma dose, e cerca de 61%, as duas. As autoridades deram aos cidadãos a opção de escolher entre as vacinas da Moderna e AstraZeneca. A jornalista butanesa Namgay Zam publicou no Twitter que a campanha teve o apoio favorável da população:

Participação incrível no 1º dia do lançamento da campanha nacional para a vacinação nos centros de imunização de vários distritos, incluindo Thimphu. Isso não era esperado para o primeiro dia, pelo menos não no centro onde eu estava (Escola Jigme Namgyal). Fico feliz e grata como cidadã.

Outro fator importante para o sucesso da campanha foi o uso do Sistema Vacinal do Butão, desenvolvido pelo Ministério da Saúde, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O sistema digital conta com [29] uma ferramenta de registro online que gera calendários de vacina, monitora os estoques e emite relatórios e certificados de vacinação em tempo real.

Chart by Our World in Data. CC BY [30]

Gráfico: Our World in Data [30]. CC BY

A altitude do país, a distância de alguns vilarejos remotos e o clima extremo tornaram a entrega das vacinas no Butão um desafio. Namgay Zam disse que chegar até os centros de vacinação em áreas remotas foi um feito incrível alcançado pelos profissionais de saúde:

Por trás da campanha de vacinação bem-sucedida no Butão, estão vários heróis desconhecidos como estes três. Obrigada aos que estiveram e que continuarão na linha de frente nos próximos dias.

A aplicação em crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos começou em 29 de julho. O ministro da Saúde Dechen Wangmo tuitou:

Hoje, em todo o país, quem tem entre 12 e 17 anos de idade vai receber a primeira dose da vacina da Moderna pelo nosso programa nas escolas. Sempre um prazer estar com os jovens.

Ajuda para o Nepal

Depois de sua campanha vitoriosa, o país doou [38] 230.000 doses da vacina AstraZeneca ao vizinho Nepal, que já havia buscado ajuda do Butão quando soube do excesso no estoque. Somente cerca de 16% dos 29 milhões de habitantes [39] do Nepal receberam [24] a primeira dose contra a Covid-19, e apenas 10% foram totalmente vacinados.

Chhedup Sangay, um oficial do governo butanês, aprovou a doação:

Estou impressionado! Amei! O Butão hoje envia 230.ooo doses da vacina da AstraZeneca para o Nepal. Isso acontece depois de um pedido de apoio do governo nepalês. O Butão já vacinou completamente mais de 95% da população qualificada para receber o imunizante.

Zam postou um lembrete de que:

230.000 pode ser um número pequeno para o Nepal, mas é ENORME para o Butão. É metade da população que pode receber a vacina no meu país.

O sucesso da vacinação levou o país a reconsiderar a entrada de turistas. A emissão de vistos de turismo foi retomada [42] em 5 de agosto, mas a quarentena de 21 dias para quem chega ainda é obrigatória.