O Reino do Butão, pequeno país do sul da Ásia localizado no leste do Himalaia, alcançou um feito raro: até o fim de julho de 2021, já havia conseguido administrar as duas doses da vacina contra a Covid-19 a 90% da população adulta.
Comparado a outros países da região como Índia, Paquistão e Bangladesh, que estão tendo dificuldades para conseguir e aplicar vacinas em sua imensa população, o Butão conta com uma população de apenas 780.910 habitantes. O país também lidou bem com a pandemia em comparação com os seus vizinhos, e inclusive ajudou o Nepal enviando 230.000 doses que sobraram.
O enfrentamento da pandemia no Butão, apesar dos recursos limitados, já está sendo aplaudido como uma “história de sucesso” e um “raio de esperança” para os países próximos.
O primeiro caso de Covid-19 no Butão foi registrado em 6 de março de 2020, quando um turista americano testou positivo. O país imediatamente adotou medidas rígidas, incluindo a identificação e o isolamento de 300 pessoas com as quais o turista possivelmente teve contato. O governo também proibiu a entrada de turistas, fechou escolas e instituições públicas, adiou conferências internacionais e tomou providências adicionais para prevenir a transmissão local em áreas de alto risco.
As autoridades organizaram campanhas pedindo aos cidadãos para usar máscaras, lavar as mãos e praticar o distanciamento social. Até mesmo o venerado rei Jigme Khesar Namgyel Wangchuck foi a pé e a cavalo até regiões remotas para supervisionar diversas medidas de controle, como notou o jornalista Tenzing Lamsang, no Twitter, em junho:
His Majesty The King trekked 5 days in Bhutan’s eastern border areas through forests, rain, high passes & leeches to check on border posts put up to check illegal crossings to prevent COVID-19.
This is his 14th or 15th trip since pandemic started.
Accompanied by PM this time. pic.twitter.com/bh2acXkSll
— Tenzing Lamsang (@TenzingLamsang) June 14, 2021
Sua Majestade, o Rei, caminhou por cinco dias nas regiões da fronteira leste do Butão por florestas e desfiladeiros, mesmo com chuva e sanguessugas, para vistoriar os postos montados, impedir travessias ilegais e evitar a transmissão da Covid-19. Esta é a sua 14ª ou 15ª viagem desde o começo da pandemia. Desta vez, foi acompanhado pelo primeiro- ministro.
O pequeno país tinha apenas 350 médicos e 3.000 profissionais da saúde quando a pandemia começou, e até agora já mobilizou cerca de 30.000 cidadãos voluntários para ajudar em diversas atividades preventivas da doença.
Um fundo de ajuda humanitária de 19 milhões de dólares trouxe alívio para mais de 34.000 butaneses cujo sustento foi afetado pelas restrições da pandemia, e um registro dos cidadãos em situação vulnerável em todo o país facilitou a distribuição de kits de cuidados para mais de 51.000 pessoas acima de 60 anos.
Os resultados foram exemplares, e os números atestam isso: até o dia 15 de agosto, o Butão registrou apenas três mortes por Covid-19 e há, no momento, 32 casos ativos em um total de 2.566 desde o começo da pandemia.
Impulso à vacinação
O Butão recebeu da Índia uma doação de 150.000 doses da Covishield, da AstraZeneca, em janeiro deste ano, e mais 400.000 unidades em março. Em abril, o país virou notícia quando completou a administração da primeira dose da vacina em mais de 85% dos 548.000 adultos acima de 18 anos de idade em apenas uma semana.
Mas houve falta da vacina depois que a Índia vetou a exportação de vacinas no final de março. Segundo informações, o prazo final para a segunda dose da AstraZeneca era entre 12 a 16 semanas depois da primeira.
O governo iniciou esforços diplomáticos para obter vacinas de outras fontes e, em junho, o primeiro-ministro Lotay Tshering anunciou que o país poderia misturar doses de diferentes laboratórios para completar a vacinação da população.
Em 12 de julho, o primeiro lote de 500.000 doses da vacina da Moderna, cedidas pelos Estados Unidos por meiodo programa COVAX, chegaram ao Butão. O país também recebeu, no mesmo mês, mais de 350.000 doses da AstraZeneca vindas da Bulgária, Croácia e Dinamarca, e 50.000 doses da Sinopharm, da China.
O programa de aplicação da segunda dose começou em 20 de julho. Em uma semana, quase 90% da população adulta recebeu a dose final da vacina contra a Covid-19. Até 12 de agosto, 69% da população total já havia recebido pelo menos uma dose, e cerca de 61%, as duas. As autoridades deram aos cidadãos a opção de escolher entre as vacinas da Moderna e AstraZeneca. A jornalista butanesa Namgay Zam publicou no Twitter que a campanha teve o apoio favorável da população:
Amazing turnout on Day 1 of national booster rollout at several vaccine centres in various districts including #Thimphu. This was not expected of Day 1, at least not at the centre I was at (Jigme Namgyal LSS).
Makes me happy & grateful as a citizen.
— namgay (@namgayzam) July 20, 2021
Participação incrível no 1º dia do lançamento da campanha nacional para a vacinação nos centros de imunização de vários distritos, incluindo Thimphu. Isso não era esperado para o primeiro dia, pelo menos não no centro onde eu estava (Escola Jigme Namgyal). Fico feliz e grata como cidadã.
Outro fator importante para o sucesso da campanha foi o uso do Sistema Vacinal do Butão, desenvolvido pelo Ministério da Saúde, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O sistema digital conta com uma ferramenta de registro online que gera calendários de vacina, monitora os estoques e emite relatórios e certificados de vacinação em tempo real.
A altitude do país, a distância de alguns vilarejos remotos e o clima extremo tornaram a entrega das vacinas no Butão um desafio. Namgay Zam disse que chegar até os centros de vacinação em áreas remotas foi um feito incrível alcançado pelos profissionais de saúde:
Behind #Bhutan‘s successful vaccination campaign are a lot of unsung heroes like the three in this story.
Thank you to our frontliners who did this and will do this over the next few days. ?? https://t.co/VfDq3QfODx
— namgay (@namgayzam) July 27, 2021
Por trás da campanha de vacinação bem-sucedida no Butão, estão vários heróis desconhecidos como estes três. Obrigada aos que estiveram e que continuarão na linha de frente nos próximos dias.
A aplicação em crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos começou em 29 de julho. O ministro da Saúde Dechen Wangmo tuitou:
#COVIDVaccination; Today across the country our 12-17 years old are getting their 1st dose of #Moderna vaccine through our school based program. Always a pleasure catching up with young minds. pic.twitter.com/Gy1nZUvEJr
— Dechen Wangmo (@DechenwangmoM) July 29, 2021
Hoje, em todo o país, quem tem entre 12 e 17 anos de idade vai receber a primeira dose da vacina da Moderna pelo nosso programa nas escolas. Sempre um prazer estar com os jovens.
Ajuda para o Nepal
Depois de sua campanha vitoriosa, o país doou 230.000 doses da vacina AstraZeneca ao vizinho Nepal, que já havia buscado ajuda do Butão quando soube do excesso no estoque. Somente cerca de 16% dos 29 milhões de habitantes do Nepal receberam a primeira dose contra a Covid-19, e apenas 10% foram totalmente vacinados.
Chhedup Sangay, um oficial do governo butanês, aprovou a doação:
I'm amazed. Love this one!
Bhutan sends 230,000 doses of the AstraZeneca vaccine to Nepal, today.
This is following a request from the Nepalese government seeking vaccine support from Bhutan. Bhutan has fully vaccinated more than 95 per cent of its eligible population.
— Chhedup Sangay (@ChhedupSangay) August 6, 2021
Estou impressionado! Amei! O Butão hoje envia 230.ooo doses da vacina da AstraZeneca para o Nepal. Isso acontece depois de um pedido de apoio do governo nepalês. O Butão já vacinou completamente mais de 95% da população qualificada para receber o imunizante.
Zam postou um lembrete de que:
230,000 may be a small number for Nepal, but it is HUGE for Bhutan. It is half of the vaccine eligible adult population of my country.
— namgay (@namgayzam) August 6, 2021
230.000 pode ser um número pequeno para o Nepal, mas é ENORME para o Butão. É metade da população que pode receber a vacina no meu país.
O sucesso da vacinação levou o país a reconsiderar a entrada de turistas. A emissão de vistos de turismo foi retomada em 5 de agosto, mas a quarentena de 21 dias para quem chega ainda é obrigatória.