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Incêndios florestais na Macedônia do Norte estão destruindo florestas remanescentes

Categorias: Europa Oriental e Central, Macedônia, Desastre, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Política
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Soldados do exército da República da Macedônia do Norte apagando um incêndio perto de Kochani. Imagem por www.arm.mil.mk, usada sob permissão.

Essa história foi originalmente publicada [2] pela Meta.mk. Uma versão editada é republicada aqui por meio de um acordo de compartilhamento de conteúdo feito entre a Global Voices e a Metamorphosis Foundation.

Em reposta aos incêndios florestais que devastam a Macedônia do Norte, o governo mobilizou o exército para combater o fogo e impôs um bloqueio às áreas florestais, declarando um estado de crise a nível nacional. A situação é similar à da Turquia [3], Grécia e outros países no sul da Europa, onde a onda de calor do verão resultou em incêndios florestais.

Na segunda-feira, 3 de agosto, o governo nacional impôs uma proibição completa à circulação nas áreas florestais na Macedônia do Norte, pedindo aos cidadãos que não entrem nas florestas, tanto pela própria segurança quanto para evitar novos incêndios.

O incêndio florestal que devastou a área em torno da cidade de Kochani [4] na noite de 2 de agosto foi controlado durante a noite e completamente extinguido no dia seguinte.

O incêndio foi apagado, e Kochani quase teve o mesmo destino do sinal de trânsito dessa foto! Tenha cuidado, e gratidão a todos por toda a ajuda e apoio! Não brinque com fogo!

Enquanto o incêndio se aproximava da cidade, o pânico se espalhou pelas redes sociais, com muitos cidadãos exigindo que o governo começasse a usar helicópteros e aviões para combater o fogo. Um anúncio do presidente dizendo que helicópteros não podem ser usados para apagar incêndios à noite foi utilizado como propaganda política para acusar o governo de incompetência. Vozes racionais explicando que medidas de segurança proíbem o uso noturno de aviões para esse propósito foram atacadas por “especialistas do Facebook”, numa discussão acalorada que só parou depois que helicópteros foram deslocados [7] pela manhã.

Jane Stefanov, piloto esportiva e membro do Aeroclube Skopje [8], tentou explicar em uma thread bastante citada no Twitter:

Vocês insistiram que aviões militares voassem durante a noite… como assim eles não poderiam… que eles tinham helicópteros com equipamentos de visão noturna… e tudo o mais. Vocês têm que entender que apagar incêndios coloca as vidas de pilotos em risco até mesmo durante o dia… Tirar água de um lago escuro, e despejá-la de uma altura baixa sobre terreno irregular [não é fácil] – esse videogame não tem uma opção de tentar de novo!

Pelo país, existem várias regiões com incêndios ativos. Os piores focos foram em Kochani no leste e na municipalidade do norte de Staro Nagorichane. Em ambos os casos, além de muitos hectares de florestas, vários veículos, casas e outras propriedades privadas também queimaram.

Em Staro Nagorichane, um helicóptero interveio [10] primeiro em razão da ameaça a casas perto do sítio arqueológico de Kokino [11]. Enquanto isso, em Kochani, várias equipes de bombeiros e militares foram enviadas para combater os incêndios florestais com a unidade de bombeiros de Kochani e a população local. Outros 1.000 soldados e outro helicóptero estão aguardando nas bases militares. Unidades militares também se envolveram no combate ao incêndio entre as cidades de Delchevo e Pehchevo.

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Um incêndio perto de Pehchevo, na Macedônia do Norte. Imagem de domínio público da página do Facebook de instituição governamental Diretório de Proteção e Resgate [13].

Incêndios florestais também foram registrados em Makedonski Brod [14] na parte central do país, e em Valandovo no sul, perto da fronteira com a Grécia.

Um incêndio espalhado por ventos fortes perto da cidade de fronteira sul de Gevgelija também ameaçou hotéis, cassinos, postos de gasolina e a estação de fronteira Bogorodica-Evzonoi [15]. O trânsito através da fronteira parou durante esse tempo, e foi retomado depois de várias horas.

Durante esses primeiros dias, todos os incêndios foram finalmente apagados ou localizados sem causar perdas humanas ou queimar prédios graças aos esforços das autoridades estatais em conjunto com cidadãos locais e empresas.

No entanto, em 5 de agosto, suspeitou-se de que uma mulher desaparecida na vila remota de Chelopek em Staro Negorichane esteja morta [16], pois seu marido afirmou que ela permaneceu na casa deles que foi engolida pelo fogo. No momento do fechamento deste artigo a polícia ainda não concluiu as investigações que confirmariam a morte.

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Soldado do exército da Macedônia do Norte apagando um incêndio florestal. Imagem por www.arm.mil.mk, usada sob permissão.

Somando tudo, em 3 de agosto, o Centro para Gerenciamento de Crises registrou [18] aproximadamente 14 incêndios florestais em todas as regiões da Macedônia do Norte. No dia seguinte, registrou [19] 11 incêndios ativos, com três novos e oito que continuaram. Apesar de a maioria deles ter sido controlada, em 5 de agosto havia dez incêndios ativos registrados [20] por essa instituição estatal.

Por mais de uma semana, a Macedônia do Norte esteve passando por uma onda de calor prolongada com temperaturas muito altas e nenhuma chuva. Os meteorologistas novamente previram um forte vento oeste que será especialmente intenso no oeste do país. O alerta laranja de altas temperaturas estará ativo em 6 de agosto.

Em 5 de agosto, o governo declarou [21] um estado de crise de 30 dias, mobilizando todas as instituições relevantes para a luta para prevenir e apagar incêndios florestais.

Uma pesquisa feita em 2020 pela ONG de defesa Centro para as Comunicações Civis revelou [22] que as unidades de combate a incêndio da Macedônia do Norte têm poucos fundos e pouco pessoal, e que a média de idade de seus veículos é de 28 anos, incluindo caminhões fabricados em 1966.

O governo buscou ajuda dos países vizinhos – a Sérvia respondeu [23] enviando quatro helicópteros. O mecanismo de proteção civil da União Europeia para ajuda em crises [24] enviou bombeiros da Eslovênia e da Bulgária.

Juntos somos mais fortes! Por meio do mecanismo @ECHO da UE, a Eslovênia está enviando ajuda para a Macedônia do Norte no combate aos incêndios florestais. Dezesseis veículos e 45 bombeiros já estão a caminho de MK onde ficarão por uma semana e combaterão os incêndios junto com seus colegas.

Acusações tomam a mídia e as redes sociais

Partidos políticos na oposição e no governo continuam a trocar acusações sobre quem é responsável pela baixa capacidade do estado em lidar com desastres naturais, enquanto usuários no Twitter criticam [28] alguns políticos [29] por usá-los como ferramenta de promoção pessoal.

Nas redes sociais, muitos culpam o “fator humano” por começarem os incêndios florestais. Acusações alegando motivos comerciais acusam fazendeiros que, depois da colheita, queimam o restolho em seus campos [30] em vez de gastar dinheiro para transportá-lo para depósitos de lixo – vários desses casos foram processados [31] em anos passados.

Os suspeitos usuais também incluem turistas supostamente negligentes que ignoram os regulamentos com seus churrascos [32] ao ar livre.

A extração de madeira ilegal também é um grande problema para a Macedônia do Norte [33], e existem acusações de que grupos criminosos queimam a floresta para cobrir seus rastros, ou para se aproveitar de uma brecha na lei que permite o corte de árvores em florestas incendiadas. Outro motivo de acusação é a colheita de cogumelos que algumas vezes crescem nas cinzas depois de incêndios florestais.

A sociedade macedônica é extremamente polarizada entre partidos políticos, e teorias da conspiração sobre sabotagem por piromaníacos politicamente motivados cresceram, especialmente as acusações relacionadas ao suposto prejuízo ao feriado nacional do Dia da República [34] em 2 de agosto. Essa acusação não foi confirmada pela polícia ou ação judicial.

A crise climática está aqui… das enchentes [36] de 2016 em Singelikj, Stajkovci, Smilkovci e Arachinovo aos incêndios florestais em Kochani, Staro Nagorichane e outros lugares. Não há tempo a perder. Medidas radicais contra as mudanças climáticas devem ser tomadas. Não temos ideia do que nos espera em 5 ou 10 anos.