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Na Geórgia, livro escrito por homens, com histórias para empoderar mulheres, recebe críticas

Categorias: Ásia Central e Cáucaso, Geórgia, Arte e Cultura, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero

“Books HD” por Abee5 é licenciado sob CC BY 2.0

“Ame-se”, um livro que apresenta histórias de treze mulheres sobre o estigma que enfrentam em relação à imagem corporal, pode ter sido criado com boas intenções, mas seus editores estão sendo acusados de erro na abordagem e sexismo. Os editores, a The Body Shop Georgia [1](filial georgiana da empresa internacional de higiene e cosméticos), a GrlzWave (grupo de direitos das mulheres) e a Prefeitura de Tbilisi pretendiam empoderar as mulheres por meio do livro, embora tenham sido criticados e repreendidos [2] por terem contratado sete homens para escrever o livro e não pagarem as treze mulheres que contribuíram.

Lançado em 26 de julho na prefeitura de Tbilisi, “Ame-se”, conta histórias de treze mulheres, cada uma acompanhada de comentários de um conhecido autor georgiano, que reflete sobre as histórias dessas mulheres ou propõe uma interpretação das experiências delas, às vezes de forma equivocada [2]. A reação piorou quando um dos homens foi publicamente acusado [3] de assédio sexual.

A The Body Shop Georgia, que originalmente defendeu [3] o livro, e explicou que os autores homens estavam simplesmente tentando se imaginar na situação das mulheres, mais tarde, pediu desculpas em meio às críticas. O livro não está mais à venda, embora um porta-voz da empresa tenha afirmado que ainda está disponível gratuitamente para qualquer pessoa interessada em um exemplar. “Vivenciamos a maior intimidação e violência do sexo oposto. Nós queríamos que eles – os homens – começassem a falar sobre isso. Devido à reação, percebemos que estávamos indo na direção errada”, disse um porta-voz da The Body Shop, em uma entrevista [2] para a OC Media.

“A história feminista há muito tempo procura apresentar a perspectiva das mulheres. Quando você tem um projeto de empoderamento das mulheres e publica a reflexão de escritores homens, isto é errado, falso e ineficaz”, disse Ida Bakhturidze, coordenadora de uma iniciativa local, a Georgian Women for a Common Future, à OC Media.

Em declaração ao openDemocracy, a cineasta georgiana Elene Margvelashvili disse [4] que ficou chocada como “ninguém percebeu que o livro não estava servindo ao empoderamento das mulheres” até receber críticas.

Mas não foi apenas a gafe de ter homens recontando histórias de mulheres que foi mal-recebida. Após a publicação do livro, várias mulheres revelaram publicamente que haviam sido assediadas sexualmente  [4]por Giorgi Kekelidze, um dos sete autores apresentados no livro. Kekelidze foi ao Facebook para se desculpar [3] por seus erros anteriores em uma postagem que ele depois removeu, apenas para substituir por outra [5] postagem similar.

Em declaração à OC Media, o porta-voz da The Body Shop admitiu que a empresa não fez a devida diligência. “Quando selecionamos os escritores, nosso grande erro foi que as informações (sobre as alegações contra Giorgi Kekelidze) não chegaram até nós e não pesquisamos a fundo os autores”.

De acordo com a OC Media [6], apenas quatro entre sete autores falaram sobre seu envolvimento no projeto, a maioria sem remorso, rejeitando as críticas.

A GrlzWave mencionou [2] em um comentário por escrito à OC Media que, desde o início, discordou da decisão da The Body Shop de envolver autores do sexo masculino no projeto.

Enquanto isso, a The Body Shop argumentou à Radio Tavisupleba [7], o serviço georgiano da Radio Free Europe, que esta foi uma boa lição e que irão envolver mais especialistas em projetos futuros.

De acordo com a ONU Mulheres [8], “os estereótipos de gênero permanecem profundamente enraizados” na Geórgia, onde as tradições patriarcais ainda são fortes [9]. Outro estudo, divulgado pelo Banco Mundial  [10]conclui que, apesar do progresso significativo da igualdade de gênero na Geórgia, os desafios persistentes em áreas como educação, emprego, participação política e outras, correm risco de “estagnação e até reversão”.