Devido ao aumento de mortes e complicações do uso de medicamentos e procedimentos estéticos que alteram a estrutura do corpo, o governo de Angola decidiu lançar uma campanha para educar e sensibilizar a população. Imagem: Giovana Fleck/Global Voices
Julieta Gomes Manuel era bailarina e cantora, conhecida também como Juelma Paraíso. Ela faleceu [1], em Maio de 2021, em um hospital em Luanda após complicações originadas por procedimentos estéticos.
Conhecida como “jarda”, a prática consiste em injectar biopoliremos sintéticos no corpo para aumentar uma área específica. São procedimentos mais baratos que os oferecidos em clínicas médicas e, por isso, mais populares [2].
Tal acontecimento fez com que o Governo de Angola lançasse [3] uma campanha para combater o acto. Organizado pelo Ministério da Juventude e do Desporto, o plano é consciencializar a população por meio de palestras e campanhas publicitárias sobre o uso de anabolizantes sintéticos e seus riscos.
O anúncio do projecto contou com o apoio da cantora Patrícia Pires, que em 2020 submeteu-se [4] a duas intervenções cirúrgicas para retirar a jarda do corpo, e que será a Embaixadora da causa:
Conhecida como “Embaixadora do Combate a Jarda em Angola”, a cantora Patricia Pires fez uma visita a kudurista Flor de Raíz, após passar por cirurgia de remoção da jarda, para dar a seu apoio e incentivar outras mulheres que fazem o uso das mesmas substância a pararem de o fazer. pic.twitter.com/sFVJbZyqmn [5]
— Kianda Magazine (@KiandaMagazine) July 15, 2021 [6]
Como a prática se popularizou em Angola
A jarda terá começado [7] a se popularizar em 2018. Imagens e vídeos nas redes sociais davam conta de existência de mulheres que, usando-se dessa prática, manipulavam [8] a sua fisionomia corporal. Os anabolizantes poderiam ser adquiridos de forma fácil, tanto no mercado informal como até mesmo em farmácias.
Contudo, tal realidade ganha maior relevância quando passaram a ser relatados [4] na imprensa casos de mulheres que terão ficado arrependidas [9] por conta da jarda. Por conta da precariedade dos materiais e, muitas vezes, da condição dos espaços onde o procedimento é realizado, a jarda pode provocar infecções.
Em 2019, o Jornal de Angola informou [10] que duas jovens perderam a vida em Luanda, capital de Angola, e três outras carregam actualmente sequelas irreversíveis, por terem tentado há dois anos, através de métodos impróprios, alterar partes do corpo como nádegas, ancas e pernas, com produtos químicos para ficarem mais avantajadas. O caso foi igualmente relatado na maior televisão do país, TPA, como ilustra o vídeo abaixo:
Ainda no mesmo ano, o jornal comunicava [11] que a kudurista Samara Panamera, uma das mais conhecidas artistas do estilo kuduro (dança típica de Angola), foi operada a uma das nádegas, como consequência do uso de jarda. A explicação dada era de que havia se criado a falsa ideia de que aquelas pessoas que aparentam estar bem fisicamente são mais valiosas do que as que não aparentam. Um dos médicos chegou [11] a dizer:
Os resultados do uso incorrecto de suplementos anabolizantes são, a curto prazo, desastrosos e muitas vezes irreversíveis (…). As nádegas das pessoas que usam inadvertidamente anabolizantes mudam de lugar, por causa do peso. Quando a pele humana começa a perder consistência elástica normal, a pessoa necessita de uma intervenção cirúrgica para a relocalização ou mesmo remoção.
O líquido pode viajar em forma de êmbolo até aos rins, provocando depois problemas renais, respiratórios e ao coração, que pode provocar enfarte. Em alguns casos, com tratamento envolvendo antibiótico, terapia e outras formas, consegue-se parar o processo, mas a pessoa não fica a mesma.
Reacções à campanha
O plano, apresentado [3] em 16 de Julho, pela titular da pasta do Ministério da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, será implementado [12] em todo país, como nome ”Pela Saúde e Pela Vida Diga Não à Jarda”:
Numa iniciativa da organização Juventude Organizada Responsável e Organizada (JIRO), pretende-se, entre outras metas, reduzir o índice de uso de anabolizantes, particularmente nos ginásios oficiais e clandestinos do país e despertar a juventude no mal que pode causar.
Contudo, houve quem tivesse afirmado que a preocupação do Governo de Angola não devia ser esse tipo de práticas, mas sim melhorar a vida dos jovens Angolanos:
O Ministério da Juventude e Desporto deveria estar focado em melhorar as diversas modalidades desportivas em Angola para evitarmos essas poucas vergonhas mas como Angola não é país, mas sim meme, estão focados em parcerias com o Combate a Jarda em Angola. #TudoAtoa [13]
— Azulay (@WilliamAzulay) June 30, 2021 [14]
Outros referem que a jarda cria sensação de mudança, pois anteriormente era uma prática desejável, mas nos dias que correm ficaram apenas as críticas:
É interessante ver como as coisas mudam. Grande parte das mulheres idolatradas do ponto de vista físico na banda usavam jarda, hoje são as criticadas. Não tou aqui a fazer juízo de valor do “certo/errado”, mas o facto é: as coisas mudam:)
— Danilo Castro (@danilopacastro) July 17, 2021 [15]