Diretor azerbaijano justifica agressão sexual e enfrenta repercussão, mas nenhuma consequência

“Logotipo do Instagram em fundo degradê” por SmedersInternet, disponível sob licença CC BY 2.0

Um homem chamado Tural Safarov compartilhou uma mensagem em vídeo no dia 6 de julho direcionada às mulheres azerbaijanas, justificando o assédio sexual. Safarov, cujo apelido nas redes sociais é Pantural, disse na mensagem de vídeo compartilhada em sua página pessoal do Instagram (o vídeo em si foi removido após grande repercussão) que os homens sentem-se desconfortáveis quando as mulheres vestem-se de maneira “reveladora” e, portanto, não podem se controlar, levando até a agressão sexual. Em outro comentário publicado sob o vídeo, Safarov encorajou abertamente o estupro de mulheres que se vestem de maneira “reveladora”.

Tural Safarov, diretor de filmes do Azerbaijão, publicou um vídeo de 40 minutos defendendo a agressão sexual e indicando que ele acredita ser o futuro do país. Uma transcrição do vídeo está disponível abaixo:

There are some women who encourage men to slap them from behind when they open their body parts. You just want to slap them. And if they turn around and ask why I would tell them ‘are you out of your mind?! You have left your body parts exposed and I am slapping them. Are you messing with me?!’ Why do you leave your parts exposed? If they are, then I will touch them. I enjoy it. You are playing with my natural instinct.  Do I have to walk around like a blind man, covering his eyes with his hands, because of you? Then dress properly. Cover your body parts. Why is it so important for you to show it? If you are showing it, then I will slap you. I enjoy it. It turns me on. This is how I have been made. It is a natural sensation. Why do I have to control myself?! You have left your body parts exposed, so I am going to slap it like that.

Algumas mulheres encorajam os homens a bater nelas por trás quando mostram partes do corpo. E quando se viram e perguntam a razão eu digo ‘Você está louca? Você deixou seu corpo à mostra e eu só bati. Está de brincadeira?!’ Por que você exibiria o seu corpo assim? Se ele estiver à mostra, eu irei tocá-lo. Eu gosto disso. Você está brincando com meu instinto natural. Eu preciso andar como um cego, cobrindo os olhos com as mãos, por sua causa? Vista-se adequadamente. Cubra o seu corpo. Por que você quer tanto em mostrá-lo? Se está exibindo, então eu vou bater em você. Eu gosto disso. Isso me excita. Fui feito dessa forma e essa é uma sensação natural. Por que deveria me controlar? Você deixou seu corpo à mostra, então vou bater assim.

Sua mensagem em vídeo deu início a uma onda de críticas, mas suas declarações também encontraram muitos apoiadores. Nadir Gafarzade, um cantor azerbaijano disse em entrevista para a Meydan TV, veículo de mídia on-line com sede em Berlim, que não havia nenhum tipo de violência contra a mulher no vídeo. “Eu vi o vídeo publicado por Pantural e ele não fala sobre violência. Ele só disse que algumas mulheres não devem andar peladas por aí […] Eu gostei do que foi dito. A modernidade não é sobre se vestir de maneira aberta. E daí se estamos no verão? Então os homens também deveriam andar de cueca por aí, também sentimos calor”. Gafarzade retratou seus comentários após o pedido de desculpas do próprio Tural Safarov.

Outras pessoas discordaram. Em uma entrevista para a Meydan TV, Shahla Ismayil, que administra a Associação das Mulheres pelo Desenvolvimento Racional, observou que a mensagem em vídeo de Pantural continha todos os elementos de um discurso de ódio.

In Azerbaijan, women's freedom is measured by their choice of dress code. This is especially in the case of men and how they choose to see women. This is aggressive, and patriarchal view. The reaction given to how women dress is indeed related to pathological fear. They think if women and men are equal, then men, are going to lose their status.

No Azerbaijão, a liberdade das mulheres é mensurada pela escolha da vestimenta. Essa é uma visão agressiva e patriarcal. A reação ao modo como as mulheres se vestem é de fato relacionada a um medo patológico. Eles pensam que, se as mulheres e os homens forem iguais, então os homens perderão sua posição social.

Como figura pública e com mais de 70 mil seguidores em sua conta no Instagram, Safarov também é responsável por influenciar a opinião pública, disse a ativista Gulnara Mehdiyeva, conhecida por seu trabalho sobre igualdade de gênero e pelo combate à violência contra a mulher. “Considero essas declarações perigosas para a sociedade azerbaijana porque normalizam a violência e o assédio sexual, tornando comum a cultura da violência”, disse Mehdiyeva ao portal de notícias regional on-line, Jam-News. “Esses discursos influenciam a opinião pública. Ele é uma figura pública e possui uma quantidade residual de seguidores”.

Alasgar Mammadli, um especialista jurídico azerbaijano da área de mídia, disse à Meydan TV que havia uma clara incitação à violência no vídeo. “As incitações à violência neste vídeo são passíveis de punição de acordo com o Artigo 220 do Código Criminal do Azerbaijão. A liberdade de expressão não protege incitação ao crime e discurso de ódio. O instigador pode enfrentar até três anos de prisão por conta disso”, disse.

Como uma penalidade pelo vídeo, Safarov precisou ter uma rápida conversa com a polícia, mas logo foi liberado. O diretor de filmes compartilhou outro vídeo, no qual se desculpava pelo que havia feito. No entanto, algumas pessoas, como a jornalista Ulviyya Ali, disse que o vídeo de desculpas estava longe de ser sincero.

O blogueiro foi forçado a fazer um vídeo de desculpas. O vídeo foi gravado como resultado da autoridade policial e esse tipo de vídeo não pode ser apoiado, pois gera um precedente. Basicamente, podemos ver pelo novo vídeo que o homem não compreendeu o erro e seus pensamentos permanecem os mesmos. Ele apenas foi forçado a dar um passo para trás graças à pressão sofrida.

Safarov disse o seguinte em sua mensagem em vídeo:

I did not insult anyone. My intentions were good. I was referring to immoral women. I apologize from women and certain that the men understood me. It was a forty-minute video and at some point, I got too emotional. I have also been the supporter of doing and acting in what you believe in. I have only said to women not to crush men. Men are your support. Respect the men so they can respect you back.

Não insultei ninguém. Minhas intenções eram boas. Estava me referindo às mulheres imorais. Peço desculpas às mulheres, certo de que os homens me compreenderam. Era um vídeo de 46 minutos e, em algum momento, fiquei emocional demais. Também defendo a ideia de fazer e agir conforme o que se acredita. Só disse para que as mulheres não destruam os homens. Os homens estão aqui para apoiá-las. Respeitem os homens para que eles possam respeitá-las também.

Ao final do vídeo, ele criticou a mídia por compartilhar o vídeo sob a argumentação de que as pessoas não o compreenderiam.

“Não considero um pedido de desculpas como punição. Existem crimes que não podem ser corrigidos com um pedido de desculpas. Em vez de cultivar uma tradição de desculpas, as pessoas devem enfrentar punições de verdade”, disse Gulnara Mehdiyeva em uma entrevista para o Jam-News.

“Segundo ele [Tural Safarov], se um homem ficar excitado, pode estuprar qualquer um. Isso é, obviamente, um pensamento criminoso e um absurdo”, disse a advogada Vafa Rustam ao Jam-News.

O diretor cinematográfico também foi duramente criticado nas redes sociais.

O autoproclamado blogueiro do Instagram, PanTURAL SAFAROV, que abertamente admitiu agredir mulheres fisicamente devido às suas roupas, não é nada mais que um incitador da violência em massa. A IRFS pede para que as autoridades investiguem todas as chamadas públicas de violência contra mulheres.

Pantural sağ olsun, sizə göstərdi ki, ölkədə nə qədər xəstə, potensial, hətta bəlkə də real təcavüzkar adamlar var. Belə…

Posted by Jamila Mammadli on Monday, July 12, 2021

Com o Pantural, fomos capazes de ver quantos estupradores doentios em potencial, senão estupradores de fato, existem neste país. Não importa se é homem ou mulher; são igualmente anormais e criminosos em potencial para a sociedade. O que estou tentando dizer é que, pela primeira vez, podemos concordar que aqueles que o apoiaram, aberta ou secretamente, que viram verdade naquele vídeo, não são pessoas normais. Essas pessoas devem ser corrigidas o quanto antes.

A violência e o assédio contra a mulher no Azerbaijão é um problema persistente e que tem visto pouca melhora nos últimos anos. E, enquanto homens como Safarov não forem responsabilizados por suas ações, o caminho para buscar justiça e conforto para as vítimas de violência e assédio segue desolador.

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