
Amostra de jornais publicados em Moçambique | Foto captada por Dércio Tsandzana e usada com permissão do autor em 23.08.2018
A boa nova data de meados de Junho de 2021 e foi da iniciativa do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova Iorque, que decidiu atribuir o prémio de liberdade de imprensa para quatro jornalistas, dentre eles um moçambicano.
Trata-se de Matias Guente, editor do semanário Canal de Moçambique. Matias enfrentou “a violência, o assédio, a repressão e a perseguição, mas recusaram-se a recuar” na sua missão, como justificou o director executivo do CPJ, Joel Simon, em comunicado.
Segundo os membros do CPJ – um comité constituído por jornalistas baseados nos Estados Unidos da América -, Matias Guente é um jornalista que “ao longo dos anos, tem enfrentado uma série de ameaças pelas suas duras reportagens, incluindo interrogatórios policiais, acusações de violação de segredo de Estado e conspiração e uma tentativa de rapto em 2019″.
CONGRATULATIONS to Matías Guente from #Mozambique on being one of @pressfreedom‘s 2021 International Press Freedom awardees (#IPFA).
Guente is the executive editor of the Canal de Moçambique & @Canal_Moz, & has faced a myriad of threats for his reporting: https://t.co/NewLgeXHe8 pic.twitter.com/fcesvPrqXK
— CPJ Africa (@CPJAfrica) June 15, 2021
Parabéns a Matías Guente de #Moçambique por ser um dos premiados @pressfreedom 2021 International Press Freedom (#IPFA).
Guente é o editor executivo do Canal de Moçambique & @Canal_Moz, & tem enfrentado uma miríade de ameaças pela sua reportagem…
Com o prémio, Matias torna-se no primeiro jornalista de Moçambique a ser reconhecido por um painel internacional de alto nível.
De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras, Moçambique figura na posição 108, entre 180 países, no ranking de Liberdade de Expressão Mundial. Em 2013, ano de início da análise, o país figurava na posição 73. A organização aponta a interferência política na mídia local e restrições administrativas e financeiras como as maiores causas.
Além disso, Moçambique se defronta com ataques a profissionais da media. A One Free Press Coalition colocou o desaparecimento do jornalista Ibraimo Abu Mbaruco, de Palma, Cabo Delgado, como o primeiro caso de maior gravidade de violação das liberdades de imprensa no mundo. Mbaruco desapareceu em Abril de 2020 quando, alegadamente, cobria o conflito que ocorre no Norte de Moçambique desde 2017.
2020: O incêndio no jornal
Outro caso de ataque à imprensa ocorreu em Agosto de 2020. Indivíduos não identificados invadiram o escritório do jornal dirigido por Matias Guente e incendiaram gasolina o mobiliário e equipamentos. A equipe do jornal recusou-se a ficar no silêncio e criaram uma redacção ao ar livre no dia seguinte.
A liberdade de expressão e de imprensa acaba de sofrer hoje um duplo golpe. O Jornalista Armando Nenane foi detido pelas autoridades policiais. Enquanto isso, o Jornal Independente @Canal_Moz foi incendiado. pic.twitter.com/OCIlRco5cl
— Tomás Queface (@tomqueface) August 23, 2020
…all newspaper equipment was completelly burned but this morning people came over & donated some computers, desks, plastic chairs & the team promply ressumed work right there on the street.Tomorrows deadline that will be met
A Luta Continua! @Canal_Moz #Mozambique #FreePress pic.twitter.com/XDX8MbpDIB— Erik Charas (@echaras) August 24, 2020
…todo o equipamento do jornal foi completamente queimado, mas esta manhã as pessoas foram lá e doaram alguns computadores, secretárias, cadeiras de plástico e a equipa avançou o trabalho ali mesmo na rua. Amanhã o prazo será cumprido.
A Luta Continua!
Just returned from the @Canal_Moz bombed offices. Inspiring resilience from these men & women.They are already back at work- hours after bombing! Allies have been agile & responsive too #solidarity #Mozambique pic.twitter.com/LQtknwTxIZ
— Neshangwe (@TitusGwemende) August 24, 2020
Acabado de regressar dos escritórios da @Canal_Moz bombardeados. A resiliência inspiradora destes homens e mulheres já estão de volta ao trabalho – horas depois dos bombardeamentos! Os solidários também têm sido ágeis e receptivos #solidariedade #Moçambique
Na altura, o ataque contra o jornal dirigido por Guente foi condenado pelo Presidente da República:
Condeno veementemente os ataques ao “Canal de Moçambique” perpetrados por desconhecidos na noite de ontem, dia 23 de Agosto de 2020.
A Liberdade de Imprensa é um pilar da democracia e conquista dos moçambicanos que deve ser protegida. Instruímos as autoridades a investigar e trazer os perpetradores à barra da Justiça.
Antes disso, o mesmo editor escapara de um atentado que se presume ter sido um sequestro falhado:
Meanwhile, in the country where impunity rules…
Editor of @Canal_Moz, Matias Guente, escaped an attempted kidnapping this afternoon in Maputo. He was followed by 3 men in a Toyota, who tried to remove him by force from his car. He managed to fight back, sought help in a garage.— Zenaida Machado (@zenaidamz) December 31, 2019
Entretanto, no país onde a impunidade impera…
Editor de @Canal_Moz, Matias Guente, escapou esta tarde a uma tentativa de rapto em Maputo. Foi seguido por 3 homens num Toyota, que tentaram retirá-lo à força do seu carro. Conseguiu responder, procurou ajuda numa garagem.
Matias consegiu escapar de tal acto ileso, embora tenha sido internado de seguida para cuidados médicos. Passados mais de dois anos, até ao momento não se sabe ao certo quem terá cometido aquele acto.
The editor of Canal de Moçambique and CanalMoz has been hospitalised after armed men attempted to kidnap him in Maputo https://t.co/RVRBuNBD6z pic.twitter.com/s0LBUd4k7B
— Tom Bowker (@TomBowk) December 31, 2019
O editor do Canal de Moçambique e do CanalMoz foi hospitalizado após homens armados terem tentado raptá-lo em Maputo
Reacções sobre o prémio
Angela Quintal, coordenadora do programa de liberdade de imprensa para África, parabenizou o editor pelo prémio:
Congratulations to Canal de Moçambique executive editor, Matias Guente, who is one of four @pressfreedom International Press Freedom Awardees for 2021. #Mozambique https://t.co/i8XRe8mfFs
— Angela Quintal (@angelaquintal) June 15, 2021
Parabéns ao editor executivo do Canal de Moçambique, Matias Guente, que é um dos quatro @pressfreedom International Press Freedom Awardees for 2021.
Para além de parabenizar pelo feito, o Professor Universitário, José Macuane, referiu que o prémio era um indicativo para quem condiciona a liberdade de expressão e de imprensa dos moçambicanos:
Matias Guente, parabéns pela sua nomeação ao Prémio Internacional de Liberdade de Imprensa. Merecedíssimo. Vocês que brincam de restringir liberdades de imprensa e de outros tipos, que se divertem com o projecto de tornar a vida dos vossos compatriotas num inferno, essa é bem na vossa cara!
E também a prova de que o mundo está a vos ver e pode ser tornar num lugarzinho bem inóspito para vocês. Já têm exemplos suficientes para aprenderem da história.
Tom Bowker também felicitou Matias Guente. Bowker é um dos jornalistas que no início do ano 2021 foi expulso do país por, alegamente, estar a exercer a sua actividade de forma irregular. Ele é detentor de um portal de comunicação que tem reportado sobre o conflito em Norte de Moçambique, Cabo Delgado.
Deserving recognition for the courageous Matias Guente, editor of @Canal_Moz, who is relentless despite violent attacks on him personally and his newsroom https://t.co/vdfLtzYdB1
— Tom Bowker (@TomBowk) June 15, 2021
Merecedor de reconhecimento pelo corajoso Matias Guente, editor de @Canal_Moz, que é implacável apesar dos ataques violentos contra ele pessoalmente e a sua redacção.