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Até quando a Austrália poderá proteger suas florestas tropicais e fauna única?

Categorias: Oceania, Austrália, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Protesto
Forest distribution in Australia, 2018 [1]

Distribuição de florestas na Austrália, 2018 – Imagem cortesia da Comunidade da Austrália (Departamento de Agricultura), (CC BY 4.0) [2]

Apesar das inúmeras campanhas públicas e programas governamentais, as florestas nativas da Austrália, localizadas nos trópicos quentes do extremo norte ao sul temperado mais frio, enfrentam diversas ameaças. Os australianos estão reagindo por meio de petições on-line, doações para a reaquisição de terras e ações diretas.

Na Tasmânia, os protestos estão programados para o Dia Mundial do Meio Ambiente [3], em 5 de junho de 2021, como parte de uma campanha contínua para proteger a mundialmente conhecida floresta tropical de takayna/Tarkine. Há reivindicações para que ela se torne Patrimônio Mundial da Unesco, semelhante aos Patrimônios Mundiais das Áreas Selvagens da Tasmânia [4].

Na verdade, alguns ativistas arriscaram ser presos acorrentando-se a equipamentos de mineração e usando outras táticas para interromper as operações e expor o assunto:

Não vamos recuar na defesa dessas florestas tropicais. Não nos renderemos às táticas de intimidação policial, e essa ação de hoje é uma das muitas que virão até que as escavadeiras estejam fora de takayna / Tarkine.

Estes são Susie & Gordon, dois operadores de turismo de sucesso que impediram que as escavadeiras da estatal chinesa de mineração MMG invadissem a floresta tropical e o habitat de espécies protegidas. ?

Eles foram presos no Tarkine esta semana. ?

O governo precisa declarar o Tarkine Patrimônio Mundial!

Bob Brown [16] é uma figura icônica no movimento ambientalista australiano. Brown foi líder da Tasmanian Wilderness Society (Sociedade das Áreas Selvagens da Tasmânia) antes de se tornar parlamentar estadual em 1983. Mais tarde, ele serviu como senador dos Verdes Australianos pela Tasmânia no parlamento federal por dezesseis anos até 2012 e como líder do partido por quase sete anos.

A Wilderness Society [17] tem suas origens na defesa das florestas da Tasmânia, começando com a bem-sucedida campanha contra a barragem Franklin há quarenta anos. Hoje ela é uma organização nacional, trabalhando em uma série de questões ambientais. As florestas continuam sendo o foco principal.

A exploração madeireira é um problema persistente, conforme destacado no vídeo promocional da Bob Brown Foundation para a Declaração da Floresta Nativa Australiana:

Duas recentes decisões judiciais, que atrasaram os esforços de conservação, reforçam a importância da luta contínua.

Em Vitória, o grupo comunitário Amigos do Gambá de Leadbeater fracassou [18] no Tribunal Federal da Austrália na tentativa de impedir a exploração madeireira em florestas estaduais para proteger o gambá ameaçado de extinção bem como os marsupiais planadores australianos em perigo.

No entanto, como Toshi mostra com este tuíte, a campanha não acabou:

O gambá de Leadbeater está em perigo porque estão derrubando uma das poucas florestas antigas que restaram em Vitória, a floresta de Toolangi. A espécie estava próxima da extinção e começou a reaparecer, mas agora está sob ameaça mais uma vez.

Visite as florestas de Toolangi, com as árvores floridas mais altas do mundo!

No outro processo judicial, a Bob Brown Foundation também não obteve sucesso [21] em defender o habitat florestal do periquito-andorinha [22], outra espécie nativa que corre o risco de extinção.

A situação do periquito-andorinha está sendo discutida no continente:

Os conservacionistas pedem novas políticas de extração de madeira, temendo pelo periquito-andorinha, em perigo crítico de extinção – ABC News

Parece que esses julgamentos e a legislação atual estão em desacordo com a opinião pública, como três acadêmicos apontaram [18] após a decisão:

Even before the mega-fires of 2019-20, opinions polls showed that most Australians didn't support [26] native forest logging. After the fires, their worries increased [27], with a majority expressing concerns that Australia’s unique environment might never be the same.

Mesmo antes dos megaincêndios [28] de 2019-20, as pesquisas de opinião mostravam que a maioria dos australianos não apoiava [26] a exploração madeireira de florestas nativas. Após os incêndios, as preocupações aumentaram [27], com a maioria expressando receio de que o meio ambiente singular da Austrália possa nunca mais ser o mesmo.

A mineração e a exploração madeireira não são as únicas questões polêmicas envolvendo as florestas da Tasmânia. Também existe a preocupação sobre a privatização de parques nacionais estatais, com o intuito de promover o turismo. A moradora local Cathy Thomson tuitou:

Pavimentar o paraíso e construir um estacionamento. Privatizar as áreas selvagens: o projeto da Tasmânia que poderia se tornar um caso-teste de parque nacional.

No entanto, também há boas notícias em relação às florestas. No norte de Queensland, esforços para arrecadação de fundos estão ajudando a preservar o Parque Nacional Daintree [31], por meio da compra de terras privadas que separam suas duas seções. A organização sem fins lucrativos australiana Rainforest Rescue, que faz parte desse esforço, explica [32] a necessidade:

With the road to Cape Tribulation now bituminised, settlement of privately owned allotments within the Daintree is escalating, resulting in the on-going loss of habitat and forest connectivity. Between five to ten allotments are developed for rural residential housing every year.

Com a estrada para Cape Tribulation agora asfaltada, o assentamento de lotes de propriedades privadas dentro do Daintree está aumentando, resultando na perda contínua de habitat e de conectividade florestal. Entre cinco e dez lotes são desenvolvidos para habitação residencial rural a cada ano.

Este vídeo promocional destaca o trabalho de restauração:

Cape Tribulation não é apenas uma porta de entrada para a Grande Barreira de Coral, mas também é uma área costeira deslumbrante onde a floresta tropical encontra o mar, como mostrado nesta imagem:

Cape Tribulation Beach, Daintree National Park, Australia [33]

Praia de Cape Tribulation, Parque Nacional Daintree, Austrália, 2019 – Cortesia do usuário do Flickr Terry Feuerborn (CC BY-NC 2.0) [34]

A Rainforest 4 Foundation também está buscando doações [35] para a compra de duas propriedades na área.

A floresta Daintree também é o lar do casuar-do-sul [36], uma ave de difícil localização e ameaçada de extinção:

Os grupos de conservação do casuar  Trust for Nature e C4 (Community for Coastal and Cassowary Conservation de Queensland) compraram, esta semana, 17 hectares de terra próximo a Tully para restaurar a vegetação e para que a área atue como um corredor de conservação para o ameaçado casuar-do-sul. O corredor ajudará os animais a se locomoverem sem serem atropelados por carros.

Outro ponto crítico relacionado às florestas foi resultado dos recentes incêndios [42] na Austrália. O WWF-Austrália (Fundo Mundial para a Natureza) e o Environmental Defenders Office (EDO) estão pedindo a proteção legal de seis áreas prioritárias de florestas não queimadas:

PRECISAMOS URGENTEMENTE DA SUA AJUDA.

? Agora mesmo, bolsões remanescentes de habitats florestais não queimados estão EM RISCO de serem destruídos.

? Torne-se um defensor das seis áreas não queimadas AGORA.

A petição online explica [46]:

These areas are life rafts for many threatened Australian wildlife species, yet are vulnerable to deforestation and native forest logging.

We’ve already lost so much during the catastrophic bushfires of 2019-20. Defending the remaining pockets of unburnt forest has never been more important. Without your help, we risk losing our remaining forests and most vulnerable wildlife.

Essas áreas são botes salva-vidas para muitas espécies australianas ameaçadas, mas são vulneráveis ao desmatamento e à exploração madeireira de florestas nativas.

Já perdemos muito durante os incêndios florestais catastróficos de 2019-20. Defender os bolsões remanescentes de floresta não queimada nunca foi tão importante. Sem a sua ajuda, corremos o risco de perder nossas florestas remanescentes e a vida selvagem mais vulnerável.

No cenário nacional, a organização não governamental Australian Conservation Foundation (ACF) realiza campanhas [47] para uma ampla gama de questões. Fundada há 55 anos, conta com 700.000 colaboradores. Você pode conhecer alguns deles neste vídeo: