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“Apoie seu apicultor local”: preocupações caribenhas no Dia Mundial das Abelhas

Categorias: Caribe, Jamaica, Trindade e Tobago, Meio Ambiente, Mídia Cidadã

Abelhas de uma das 60 colônias em Carmel Valley Estate, no noroeste de Trinidad. Foto de Monique Johnson, usada sob permissão.

Em 20 de maio, o mundo celebra o quarto Dia Mundial das Abelhas [1] anual por meio de um evento virtual [2] organizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [3], orientado pelo tema “Abelha engajada – Construa Melhor para as Abelhas”.

As abelhas desempenham um papel importante na polinização, um processo  crítico para a sobrevivência dos ecossistemas, biodiversidade, segurança alimentar e sustentabilidade, e estão sob ameaça em índices de 100 a 1.000 vezes maiores do que o normal devido à perda do habitat e outros impactos humanos, incluindo a crise climática. Abordagens agrícolas insustentáveis, como a monocultura e os efeitos prejudiciais dos pesticidas, têm prejudicado muito a população mundial de abelhas.

O evento deste ano tem como objetivo aumentar a conscientização global sobre as maneiras pelas quais a pandemia de COVID-19 [4] tem aumentado a insegurança alimentar, ao mesmo tempo que defende formas de regenerar o meio ambiente e proteger esses polinizadores vitais.

Em todo o Caribe, usuários das redes sociais fizeram sua parte para aumentar a conscientização, compartilhando no WhatsApp e em outros canais de relacionamento vídeos sobre a ocasião, alguns dos quais [5] voltados para ensinar as crianças sobre a importância das abelhas. Santa Lúcia realizou um painel de discussão [6] do Dia Mundial das Abelhas que relatou o progresso que está sendo feito na indústria apícola da ilha.

Na Jamaica, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) concentrou-se [7] na biodiversidade e na área ecologicamente sensível do Cockpit Country [8], onde o trabalho dos apicultores comprova que o respeito pela natureza pode andar de mãos dadas com o desenvolvimento. Isto é, afinal, a única abordagem sustentável.

Além de sua importância ambiental, Cockpit Country também é extremamente relevante para a história da Jamaica. Sua paisagem rochosa de calcário foi onde os maroons [9] se esconderam depois de escapar da escravidão sob o domínio britânico. A área, no entanto, continua sendo ameaçada por práticas insustentáveis, em grande parte lideradas, de acordo com [7] o PNUD, “por pequenos agricultores que cortam árvores para fazer gravetos de inhame e carvão”. Seu relatório continuou:

Sustainable livelihood alternatives like beekeeping deploy nature’s biodiversity warriors and pollinators to support income generating opportunities that are kind to the environment.

Alternativas de subsistência sustentável, como a apicultura, empregam guerreiros da biodiversidade natural e polinizadores para apoiar oportunidades geradoras de renda que sejam amigas do meio ambiente.

Uma abelha solitária extrai o néctar do que é localmente conhecido como “capim-coelho”, em Carmel Valley Estate. Foto de Monique Johnson, usada sob permissão.

O apicultor Leif Johnson e sua irmã Monique, que administram a propriedade familiar Carmel Valley Estate [10] no noroeste de Trinidad, concordam. Para as populações de abelhas sobreviverem e se desenvolverem da maneira que precisam, segundo eles, o apoio é fundamental.

Em uma entrevista por telefone, Leif observou que o “desmatamento arbitrário” é uma das maiores ameaças e, embora, diz ele, a Divisão Florestal [11] do Ministério da Agricultura, Terras e Pesca do país seja excelente, apresenta uma “severa falta de pessoal”. As abelhas e outros polinizadores enfrentam a perda de habitat como resultado do desmatamento para habitação e agricultura. Na comunidade agrícola montanhosa de Paramin, por exemplo, ele afirma que a terra está sendo desmatada por acre, mas os agricultores não estão replantando as áreas reduzidas da floresta na mesma proporção.

Enquanto isso, em comunidades agrícolas na costa leste do país, Leif observa que o envenenamento por pesticidas é um grande desafio. O inseticida favorito [12] de muitos fazendeiros é o “destrói tudo”, incluindo polinizadores indígenas. Trinidad e Tobago tem até 50 espécies de abelhas sem ferrão [13] que se enquadram nessa categoria.

Outros desafios para a população de abelhas locais incluem a pulverização intermitente das comunidades pela divisão de Controle de Vetores de Insetos [14] do Ministério da Saúde, em um esforço para conter a presença de mosquitos. Os apicultores de todo o país têm pedido à divisão que se comunique de forma mais eficaz sobre o cronograma de pulverização para que possam mover suas abelhas para uma área segura. Embora o site do ministério diga [14] que sua abordagem envolve uma “integração segura, eficaz e econômica de todas as medidas adequadas e sustentáveis de controle de vetores”, Leif diz que os produtos químicos que eles usam matam as abelhas em contato.

A pandemia de COVID-19 e as restrições resultantes dela tornaram a proteção das abelhas ainda mais difícil para os mais de 300 apicultores registrados [15] e mais de 7.000 colônias de abelhas de Trinidad e Tobago. O país está atualmente em estado de emergência [16], com toque de recolher em vigor das 21h às 5h. Como as abelhas só voltam para suas colmeias à noite, isso é problemático para os apicultores que têm encontrado dificuldade em obter isenções do toque de recolher, caso precisem mover suas abelhas no caso de uma pulverização programada. Além disso, a maioria das operações de apicultura não são abertas. A criação de abelhas tende a ocorrer em áreas florestais, muitas das quais podem fazer fronteira com fazendas que usam produtos químicos.

Apicultores em Carmel Valley Estate em Trinidad. Foto de Monique Johnson, usada sob permissão.

No entanto, há esperança. O atual ministro da Agricultura, Clarence Rambharat [17], mostrou um “interesse ativo” na comunidade apícola e entende a importância de manter a população de abelhas saudável. Trinidad e Tobago tem quatro organizações [18] apícolas [19] diferentes, espalhadas geograficamente, que têm defendido uma legislação contra o uso de pesticidas. “Muitos dos produtos químicos usados aqui e comercializados como ‘seguros’, diz Leif, como os neonicotinoides [20], são tóxicos para as abelhas e foram proibidos [21] nos países da União Europeia”. Na ausência de tal legislação, entretanto, o ônus recai sobre os consumidores para que busquem orientações e façam escolhas conscientes.

Carmel Valley Estate abriga 60 colônias de abelhas, que são o foco de suas operações. Todas as lavouras que a família Johnson cultiva, como o cacau, são cultivadas sem o uso de produtos químicos tóxicos, mas os efeitos da crise climática ainda estão tendo um impacto. Trinidad e Tobago está saindo de uma estação seca excepcionalmente chuvosa, que Leif diz ter afetado negativamente a produção. “A chuva lava o néctar das flores e as abelhas não podem voar quando as asas estão molhadas”, explica, “então não estamos nem com 25% do que normalmente produzimos. A temporada termina em junho, e uma vez que a maioria dos outros produtores de mel está enfrentando déficits semelhantes, o preço do mel aumenta, colocando o produto fora do alcance do consumidor comum”.

Para fazer sua parte no aumento da população de abelhas, a Comunidade Apícola de Tobago se ofereceu para vender [15] 150 abelhas-rainhas europeias a 100 dólares de Trinidad e Tobago cada (aproximadamente 15 dólares dos Estados Unidos) para apicultores interessados. Embora a organização funcione como o principal grupo de rede de contatos de apicultores da ilha, por uma pequena taxa anual qualquer pessoa interessada em aprender sobre as abelhas pode se tornar um membro.

Leif diz, no entanto, que o proprietário comum pode começar a cultivar pequenos hábitos com grandes recompensas para as abelhas. “Encontre alternativas aos inseticidas”, diz, “ou escolha os mais seguros, como o bioneem [22]”. As práticas de permacultura [23] são um bom ponto de partida. Lute pela biodiversidade plantando uma variedade de plantas com flores e arbustos, bem como árvores frutíferas e vegetais. “Laranjas, mangas, abacates, melancias, pepinos, tomates e abóboras são maravilhosos para as abelhas”, afirma, “e você obtém uma produção de qualidade muito superior com a polinização das abelhas”.

E se você quer mesmo ajudar as abelhas, acrescenta Monique, “apoie o seu apicultor local! Eles são os verdadeiros administradores e aqueles que dedicam tempo e têm a experiência para aumentar as populações de abelhas. Conheça-os, estenda-lhes a mão, descubra quais são suas dificuldades e como a comunidade pode apoiá-los”.