Linha do tempo do segundo mês de terror do golpe militar em Mianmar

CRPH or Committee Representing Pyidaungsu Hluttaw is a body established by ousted members of parliament and other concerned citizens as a counter to the governing council of the junta. Photo by author.

Comitê Representativo de Pyidaungsu Hluttaw é um órgão criado por membros depostos do parlamento e outros cidadãos interessados como uma forma de oposição ao conselho governamental da junta militar. Foto do autor.

Este artigo foi originalmente publicado no site Medium e escrito por um blogueiro que não deseja ser identificado. Uma versão editada foi publicada aqui.

O regime militar de Mianmar, liderado pelo general Min Aung Hllaing, continuou a utilizar seus punhos de ferro contra manifestantes que se opõem ao golpe, pelo segundo mês, após a tomada do poder em 1° de fevereiro.

Até 17 de março, as forças de segurança do autoproclamado “conselho administrativo do estado “haviam matado 217 pessoas e detido 1.872 . O povo de Mianmar, incluindo a impressa local, normalmente se refere ao “conselho” como um regime militar terrorista.

As ações da polícia e dos soldados do regime foram gravadas por civis e compartilhadas nas redes sociais por jornalistas ao longo das últimas duas semanas de março.

Durante anos, documentamos casos de transporte forçado de pessoas e atos desumanos de tortura, isto é, pessoas sendo forçadas a se arrastar como animais em regiões étnicas. Aqui você vê ambos… na cidade.

Em 3 de março, militares cometeram atrocidades na cidade central de Monywa, onde oito pessoas foram mortas. Imagens do drone [Aviso: imagens gráficas] flagraram soldados carregando corpos pela rua.

Naquela noite, os militares abriram fogo em Okkalapa Norte, um município de Yangon. Houve relatos sobre o uso de submetralhadoras e a morte de 20 pessoas durante o incidente. Imagens de vídeo [Aviso: imagens gráficas] flagraram um homem detido sendo alvejado pelas costas e arrastado pela rua. Outras imagens [Aviso: imagens gráficas] flagraram soldados agredindo médicos voluntários.

Um total de 38 pessoas morreram em seis cidades em 3 de março. Imagens também flagraram soldados atirando em casas. Um vídeo de Mandalay mostrou a polícia agredindo um manifestante detido. Durante a noite, os militares invadiram a sede de uma casa funerária conhecida por seus serviços gratuitos.

Em 6 de março, imagens de vídeo registraram o esquadrão de choque da polícia atacando um estabelecimento fechado e arrastando pessoas para fora.

Também foram registrados casos de manifestantes feridos que morreram em detenção. Na noite de 6 de março, um membro mulçumano do partido governante anterior, Liga Nacional pela Democracia (LDN), foi preso pelos militares. Na manhã seguinte, ele morreu enquanto ainda estava sob custódia. Um outro vídeo [Aviso: imagens gráficas] de 7 de março, flagrou um manifestante detido sendo atacado e arrastado pela rua por policiais do esquadrão de choque em Mandalay.

Em 7 de março, as forças armadas começaram a ocupar espaços públicos, tais como hospitais e universidades em várias cidades, incluindo Yangon, Loikaw, Mandalay, Pathein, Pyay, Lashio e Muse. Civis que tentaram se opor à ocupação foram atacados.

Terroristas estão ocupando hospitais. Você está vendo isso OMS? A junta terrorista está fazendo coisas que não são permitidas em zonas de guerra.

Em 7 de março, os militares atiraram e lançaram granadas de choque nas ruas de Yangon para infundir terror. Longe de sentir medo, os cidadãos responderam aos militares com deboche gritando “Feliz Ano Novo” de dentro de suas casas após o estrondo de cada tiro de granada, enquanto outros acenderam fogos de artifício. Outros vídeos foram difundidos nas redes sociais, incluindo um em que pessoas irritadas, que alegam ser uma família de militares, aparecem xingando devido ao fato de soldados terem jogado gás lacrimogênio acidentalmente dentro de suas casas, e um vídeo de resposta gravado por uma mulher quando sua casa foi alvejada por militares enquanto ela cantava orações budistas.

Os cidadãos de Mianmar fizeram chacota dos tiros durante a noite ao gritar “Feliz Ano Novo”. De acordo com o calendário tradicional, o ano novo em Mianmar começará em abril.

8 a 14 de março: aumento alarmante do número de mortos

O número de manifestantes mortos alcançou a marca de 58 no início da segunda semana de março. Em 8 de março, muitas cidades se juntaram aos protestos na comemoração do Dia Internacional da Mulher, com mulheres agitando seus sarongues como bandeiras.

Na noite de 8 de março, vários manifestantes em um bairro de San Chaung foram encurralados, já que soldados cercaram a área. Manifestantes se esconderam dentro das casas de moradores locais. Em resposta, pessoas de outros municípios em Yangon saíram à noite para protestar, desafiando as ordens de toque de recolher. Cerca de 30 pessoas foram presas.

Também em 8 de março, o regime militar suspendeu as licenças de cinco agências de jornalismo independentes, que operavam em Mianmar. No mesmo dia, soldados invadiram os escritórios vazios do Mianmar Now e, no dia seguinte, os escritórios do Mizzima e Kamayut Media. Embora a equipe do Mizzima tenha se escondido, o editor e outros membros da equipe do Kamayut Media foram presos. A página de Facebook do Kamayut Media desapareceu logo em seguida.

Houve casos em que o esquadrão de choque da polícia atacou locais religiosos. Em 8 de março, policiais lançaram granadas com gás lacrimogênio dentro de um monastério em Yangon, que tentou esconder manifestantes. No dia seguinte, imagens de vídeo flagraram soldados tentando arrombar uma mesquita.

Em 9 de março, à 1h da manhã, soldados invadiram uma escola comunitária de formação profissional em Yangon chamada Su e prenderam um membro da LDN que dirigia a escola. Ele morreu no mesmo dia e seu corpo tinha sinais severos de tortura, de acordo com sua família. No mesmo dia, manifestantes da cidade de Myeik, que tinham sido presos pela manhã, foram liberados após serem [Aviso: imagens gráficas] torturados durante a detenção.

Em 10 de março, as forças militares ocuparam as instalações e os alojamentos de membros da empresa ferroviária de Yangon, desalojando, forçadamente, cerca de 1.000 servidores públicos, juntamente com seus familiares, que estavam em greve. Nos dias seguintes, despejos similares ocorreram em outras cidades, tais como Yay Nan Chaung, Hakha, Taunggyi, Thaton e Naung Cho.

Em 11 de março, pela primeira vez, as forças armadas impuseram uma repressão sangrenta sobre uma pequena cidade no centro de Mianmar, Myiang, matando 7 pessoas.

Em 12 de março, pessoas foram convocadas para protestar durante a noite para o chamado protesto do dia 12321, que se refere à data de 12/03/21. Muitas cidades se uniram ao protesto noturno.

Um vídeo [Aviso: imagens gráficas] flagrou soldados agredindo três homens detidos durante a repressão da meia-noite no município de Thaketa em Yangon. Em resposta às prisões, mais pessoas apareceram para cercar o posto policial onde duas pessoas foram mortas por tiros.

Em 13 de março, quatro manifestantes morreram durante uma repressão em Mandalay. Em Yangon, imagens de vídeo flagraram soldados perseguindo manifestantes no bairro de Tamwe.

Forças de segurança de Mianmar agredindo crianças no alojamento Mya Yee Nandar na rua 49, em Mandalay durante à noite de hoje.

Entre 11 e 13 de março, um total de 30 pessoas foram assassinadas em oito cidades.

Em 14 de março, forças de segurança atacaram um grande grupo de manifestantes no município de Hlaing Thar Yar, em Yangon, onde vivem vários operários, na maioria imigrantes.

Duas fábricas chinesas também foram incendiadas durante os conflitos.

Somente durante esse dia, o hospital local registrou 34 corpos. O número de mortes continuou a crescer nos dias seguintes.

As forças do regime usaram de violência em 10 municípios de Yangon. No final da segunda semana, no domingo, 15 de março, o número de mortes alcançou 74, no dia mais sangrento desde o golpe. Apenas na segunda semana de março, cerca de 120 pessoas morreram.

Na noite de 15 de março, o regime declarou lei marcial nos municípios de Hlaing Thar Yar e Shwe Pyi Thar.

Lei Marcial e bloqueio de informação 

Em 15 de março, a lei marcial foi estendida para mais quatro municípios em Yangon. O conselho do exército ordenou o bloqueio da internet móvel em todo o país. Até o momento da edição desta matéria, o serviço ainda não havia sido restabelecido.

Os soldados do regime continuaram as suas operações no então município ocupado de Hlaing Thar Yar em meio à suspensão da internet e a censura de informação. Vários trabalhadores migrantes fugiram do município, sendo que a maioria deles retornaram para suas cidades de origem.

Cenas terríveis em Hlaing Thar Yar ontem. Pessoas foram alvejadas pelas forças da Junta do Conselho Administrativo do Estado ao tentarem prestar socorro aos feridos.

Em 15 de março foram registradas as mortes de mais 20 pessoas em 8 cidades, incluindo indivíduos que estavam de passagem e não tinham vínculo com os protestos.

Aqui estão algumas evidências de como grupos terroristas de Min Aung Hlaing incendiaram propriedades das pessoas, formaram barricadas e atearam fogo na rodovia. Nos últimos anos eles incendiaram aldeias em áreas étnicas. Agora estão cometendo as mesmas atrocidades.

Em 17 de março, policiais e soldados tentaram remover barreiras de protesto nas ruas de Yangon e ameaçaram atirar nos moradores caso as barreiras não fossem removidas.

Movimento contra o golpe não mostra sinal de enfraquecimento

Apesar do uso letal da força e do terror por parte do regime, protestos por todas as cidades não enfraqueceram ao longo do mês de março. Além dos protestos diários, pessoas também têm comparecido durante a noite ou até mesmo durante a manhã, ou organizado grupos de oração nas cidades. Além disso, centenas de pessoas compareceram aos funerais daqueles que foram assassinados pelos militares.

O povo do município de Taze, na região de Sagaing, que não aceitou a ditadura militar, continuou a greve coletiva em 15 de março de 2021, apesar da brutalidade militar que matou mais de 70 pessoas ontem.

Grupo de engenheiros de Mandalay se reuniu e cantou por 30 minutos, ficou em silêncio por 3 minutos, em memória aos manifestantes mortos, marchou com motocicletas e (o evento) foi concluído com sucesso.

Em 4 de março, o Comitê Representativo de Pyidaungsu Hluttaw (CRPH), criado pelos membros depostos do parlamento, eximiu os cidadãos do pagamento de impostos com o objetivo de interromper o fluxo de recurso para os militares. Em 18 de março, o CRPH adiou o recolhimento de pagamento de contas de energia elétrica e de abastecimento de água até segunda ordem.

Um número pequeno de policiais que desertaram para se juntar ao Movimento de Desobediência Civil, também ganhou força desde o início de março. Por volta da segunda semana de março, 880 policiais denunciaram e desertaram do conselho militar. Até 12 de março, mais de 400 pessoas fugiram para Índia, incluindo vários familiares de policiais.

Campanhas abrangentes clamando por punição para famílias de militares e apoiadores do regime militar foram organizadas nas cidades, incluindo a rejeição de prestação de serviços a familiares de militares por parte de algumas casas funerárias.

Esperança pela união federal

Enquanto muitos ainda esperam que as Nações Unidas invoquem o princípio da Responsabilidade de Proteger (R2P), ato que levaria à uma intervenção, também existem sinais de esperança para a formação de um exército federal unido constituído pelas Organizações Étnicas Armadas (EOA), em Mianmar, para combater os militares como um inimigo em comum.

Mianmar é um país de maioria bamar budista com mais de 135 identidades étnicas vivendo no país. Ao lado da maioria étnica bamar, existem outros grandes grupos étnicos, tais como as etnias kachin, karen, karenni, chin, mon, rakhine e shan, muitas das quais formaram suas próprias organizações durante décadas de guerra civil por independência ou federalismo contra o governo militar centralizado da etnia bamar.

Gerações de liderança militar em Mianmar trouxeram opressão e atrocidades para pessoas não pertencentes à etnia bamar, que vivem no país, incluindo o acontecimento que poderia ser considerado como genocídio contra o povo rohingya.

A constituição de 2008, elaborada pelos militares não garante condição federal para nenhum estado étnico. Mesmo durante a curta transição política na década passada, o parlamento ou Hluttaw foi amplamente dominado por grandes partidos liderados pela etnia bamar, tais como o LDN e o Partido do Desenvolvimento e Solidariedade da União, apoiado pelos militares.

Desde o início da violenta repressão em março, as organizações étnicas armadas do estado de Kayah juraram proteger os manifestantes das forças do regime em suas regiões.

Da mesma forma, outra importante organização armada, a União Nacional Karen (KNU), ofereceu proteção e até apoio aos manifestantes, nos territórios que eles controlam e em outras cidades.

Em 5 de março, o CRPH anunciou que seus objetivos estão alinhados com a visão da população étnica para abolir a constituição de 2008 e formar uma democracia federal.

Objetivos Políticos do CRPH
1. Acabar com a ditadura militar.
2. Libertar U Win Myint, Daw Aung San Suu Kyi e todos os prisioneiros.
3. Alcançar a democracia.
4. Abolir a constituição de 2008 e estabelecer uma nova com base no Federalismo.

Apoie o comitê. Rejeite o golpe militar em Mianmar.

No mesmo dia, a KNU também divulgou uma declaração de apoio ao CDM e de alinhamento com o objetivo de oposição à ditadura militar.

Em 9 de março, o CRPH nomeou um vice-presidente temporário da etnia Karen.

Uma outra organização armada, a KIA (Exército da Independência de Kachin), alertou que eles não permaneceriam parados se as atrocidades continuassem. A organização retomou suas atividades militares contra o Tatmadaw (forças armadas de Mianmar) em março. Moradores de aldeias próximas à área de conflito abandonaram suas casas para escapar do combate.

Em 17 de março, o CRPH declarou que reverteria a decisão de governos anteriores que designaram todas as organizações étnicas armadas como terroristas ou organizações ilegais.

Até 19 de março, cerca de 1.000 pessoas estavam refugiadas em áreas controladas pela KNU, incluindo líderes dos protestos, médicos, servidores públicos do CDM, soldados e policiais que renunciaram aos seus cargos.

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