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Cabo Delgado volta a sofrer ataque e vila é evacuada

Categorias: Moçambique, Guerra & Conflito, Refugiados

Cabo Delgado boundary bridge, north of Mozambique, August 4, 2009. Photo [1] by F. Mira via CC BY-SA 2.0.

Mais um ataque abalou a província de Cabo Delgado em Moçambique. Na tarde do dia 24 de Março [2], um grupo de homens armados atacaram o centro da vila de Palma, localizada numa zona [3] próxima da área de exploração do maior projecto de exploração [4] de gás de África, liderado pela empresa francesa Total.

O ataque deixou dezenas de civis mortos [5], e a vila foi evacuada. Não há número oficial de casualidades ainda dado que o confronto com as forças armadas ainda está a decorrer.

Há confirmação [6] de que foi assassinado pelo menos um estrangeiro, de nacionalidade Sul-Africana, que trabalhava para o projecto de gás.

mais de três anos [7] que a província de Cabo Delgado, no norte do país, sofre [8] com ataques cuja autoria é atribuída ao auto-proclamado Estado Islâmico. Tudo teria se iniciado em Outubro de 2017, quando uma esquadra da polícia foi atacada por homens armados.

De lá para cá, os ataques já totalizam [9] mais de 2.000 mortos e acima de 700.000 deslocados internos, muitos hoje instalados [10] na cidade capital de Cabo Delgado, Pemba. A UNICEF estima [11] que metade desses deslocados internos sejam crianças.

Após o ataque, mais uma vez foi o Estado Islâmico que veio declarar-se [12] como autor do mesmo.

No dia 10 de Março, os Estados Unidos adicionaram [13] oficialmente dois grupos extremistas islâmicos na sua lista de organizações terroristas — um actua na República Democrática do Congo (RDC) e o outro em Moçambique. Segundo o Governo americano, ambas as organizações são acusadas de terem vínculos com o “Estado Islâmico” (ISIS).

No dia 30 de Março, a televisão privada STV anunciou [14] que a vila já tinha sido recuperada pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, mas minutos depois voltou atrás ao constatar que mais ataques sucediam.

Esta terça-feira, depois de garantias das FDS de que a situação estava controlada, equipas de reportagem que estão no terreno, a acompanhar a situação, testemunharam situações de trocas de tiros, mostrando que a situação continua fora do controlo.

Após os eventos do dia 24, várias organizações da sociedade civil lançaram [15] um apelo para que o Presidente da República viesse em público para explicar o sucedido.

No total foram 18 organizações que exigiram ao Presidente da República que acione um pedido de apoio internacional para ajudar combater os grupos armados no norte de Moçambique:

Exigimos informação regular e atempada pelo chefe de Estado sobre a situação de Cabo Delgado, informação exata e desagregada por género e faixa etária das populações afetadas, entre deslocadas, assassinadas e raptadas.

Em resposta, o Presidente Filipe Nyusi fez uma declaração [16] na qual referiu que aquele não foi o maior ataque registado na província. Igualmente, Nyusi disse que é preciso evitar qualquer tipo de distração:

Foi mais um ataque. Não foi maior do que tantos outros que tivemos, mas tem esse impacto por ter sido na periferia dos projetos em curso naquela província.

Não percamos o foco, não fiquemos atrapalhados. Vamos abordar o inimigo como temos estado a abordar, com alguma contundência, como as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer, porque a falta de concentração é o que os nossos inimigos internos e externos querem.

Nós temos que nos concentrar, abraçarmo-nos e avançarmos. Temos estado, segundo a segundo, a seguir o trabalho que os jovens no terreno estão a fazer.

Em forma de apoio, Portugal enviou [17] 60 militares que deverão treinar as forças armadas de Moçambique a partir dos próximos dias.