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Entra em vigor novo código penal em Angola, descriminalizando relações homossexuais

Categorias: Angola, Direitos LGBT, Lei

Membros da Associação IRIS Angola. Foto de arquivo da instituição, publicada com permissão do autor.

O novo código penal de Angola, que descriminaliza relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo e pune atos de violência motivados por homofobia, entrou em vigor no dia 11 de Fevereiro deste ano.

O novo código já havia sido aprovado em 2019 [1], mas só foi sancionado em Dezembro de 2020. Ele vem a substituir o antigo Código Penal de 1886, ainda da época da administração colonial portuguesa.

O novo código eliminou um dispositivo que punia aqueles que “se [entregam] habitualmente à prática de vícios contra a natureza.”

Também introduz punições mais altas para atos violentos motivado por discriminação em função, entre outras, da orientação sexual. O código também pune com dois anos de prisão quem se recusar a empregar uma pessoa por causa de sua orientação sexual.

O novo código não faz menção à união legal entre pessoas do mesmo sexo.

Angola junta-se à minoria de países africanos que não criminaliza [2] relações consensuais entre adultos do mesmo sexo. Em anos recentes, África do Sul, Ilhas Seycheles, Moçambique, Cabo Verde, Malawi, Botswana e Gabão derrubaram judicialmente ou modificaram suas leis despenalizando essas relações.

Ainda em 2014, a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos, exortou [3] todos os Estados Africanos a fazer o mesmo:

Reconhecer os perigos da violência e outras formas de discriminação contra pessoas com base na sua orientação sexual e identidade de género reais ou imputadas, e instituir leis que protejam as pessoas LGBTIQ+ da violência e discriminação como membros de uma categoria vulnerável, tal como exigido na Resolução 275 da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Moçambique descriminalizou as relações homossexuais em 2015 [4].

Contudo, Angola leva vantagem sobre Moçambique ao permitir [5], em 2018, o registo da organização de defesa das minorias sexuais IRIS, acto que Moçambique recusa [6] fazer com a organização Lambda.

A Lambda atua na educação e sensibilização do público sobre o direito à igualdade independente de orientação sexual e identidade de gênero. Há cerca de 10 anos a Lambda pressiona [7] o Governo moçambicano para que esse reconheça formalmente o grupo como “associação”, sem sucesso.

A aprovação do novo código penal em Angola, e consequente despenalização das relações homossexuais, trouxe diversas reacções, sobretudo de esperança que a lei traga mais tolerância para a sociedade Angolana.

A mudança foi considerada um avanço por especialistas em direitos humanos no país, como afirma [10] a activista Paula Sebastião à BBC Focus na África.

Esse Código Penal vai nos permitir atender a diferentes demandas a partir de agora, e também nos permite abrir uma conversa sobre trabalho, que é uma das principais lutas da comunidade LGBTQI+…