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Artista das Primeiras Nações explora “futurismo indígena” em obras no estilo Woodland

Categorias: América do Norte, Canadá, Arte e Cultura, Indígenas, Mídia Cidadã, Rising Voices

Arte de Tsista Kennedy, reproduzida [1] sob permissão.

O estilo artístico Woodland [2] pode ser caracterizado por suas figuras coloridas, contorno em linhas escuras e, segundo a descrição de um estúdio de arte da Colúmbia Britânica [3], como “arte nativa que mescla lendas e mitos tradicionais com mídias contemporâneas”. É o estilo que Tsista Kennedy, artista de 19 anos das Nações de Anishnaabe e Onyota'aka de London, cidade de Ontário, no Canadá, abraçou, criando obras únicas ao incorporar o tradicional e o moderno. As obras de Kennedy podem ser vistas em murais [4] em postos de saúde locais, em galerias de arte [5] e na identidade visual da Associação de Amigos dos Indígenas (Indigenous Friends Association, IFA) [6], um empreendimento social focado em maneiras como a tecnologia pode amparar comunidades indígenas.

A origem desse gênero artístico é com frequência creditada a Norval Morrisseau [7], artista ojibwe das Primeiras Nações do norte de Ontário, que o desenvolveu na metade do século 20. Entretanto, muitos artistas dão ao estilo sua própria marca e interpretação. Kennedy fala sobre a importância da arte em sua vida, “Meu trabalho artístico é um reflexo da minha perspectiva como um jovem indígena e pai que navega contextos e modos de vida colonialistas e tradicionais.” Essa é a história que ele conta em seu vídeo em formato de áudio disponível no YouTube sobre “crescer como um menino indígena com cabelo comprido [8].”

Em uma entrevista por e-mail com a Rising Voices, Kennedy compartilhou sua abordagem artística.

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Rising Voices (RV): Qual a sua abordagem ao incorporar elementos de mídia digital e tecnologia no seu trabalho artístico? Qual mensagem você busca compartilhar ao combinar esses elementos?

Tsista Kennedy (TK): My approaches for incorporating elements of digital media and technology into my artwork did not exist until I’d been hired by the Indigenous Friends Association [6]. Prior to joining the amazing team behind IFA as an illustrator, my artwork was quite limited to utilizing in-the-moment sources of inspiration and involved little to no concepts of “indigenous futurisms.”

As I grew to understand the mission and vision of the Indigenous Friends Association and was able to apply them both to my own perspective as an artist, my illustrations for them grew to be a more natural feeling and genuine. ‘Inspire and support the imagination of Indigenous communities to create and maintain their digital technology to further their autonomy.’ When I was able to apply this mission to my own life, and the future I want for my children, grandchildren, and so on, it felt as though a switch had gone off in my thoughts.

No longer did I limit myself to this binary creative process of creating artwork. It wasn’t simply portraying events of the past, or events in the moment; I was given a key that had unlocked the door to exploring futuristic indigenous concepts within my own mind, and more imaginative concepts as a whole. Because of this newly found gateway to let in ideas from a futuristic concept, incorporating digital media and technological elements simply came as easy as applying my past concepts of traditionalisms and modernisms. The ease of doing this was simply a matter of becoming familiar with the concept.

Tsista Kennedy (TK): A abordagem para incorporar elementos de mídia digital e tecnologia em minhas obras não existia até eu ser contratado pela Associação de Amigos dos Indígenas [6]. Antes de me unir como ilustrador à incrível equipe da IFA, meu trabalho artístico era bastante limitado à utilização de fontes de inspiração momentâneas e envolvia pouco ou quase nenhum conceito de “futurismo indígena”.

Conforme fui me desenvolvendo e entendi a missão e a visão da Associação de Amigos dos Indígenas, pude aplicá-las na minha própria perspectiva como artista e as minhas ilustrações adquiriram um sentimento mais natural e genuíno. “Inspire e apoie a imaginação de comunidades indígenas para criar e manter sua tecnologia digital de modo a aumentar sua autonomia”. Quando fui capaz de aplicar essa missão à minha própria vida e ao futuro que eu quero para meus filhos, netos, e daí em diante, senti como se um interruptor virasse na minha cabeça.

Eu não me limitava mais à criação de obras de arte por meio de um processo criativo binário. Não estava apenas retratando eventos passados ou momentâneos; eu recebi uma chave que abre uma porta na minha mente para a exploração de conceitos futuristas indígenas e para um mundo de outros conceitos imaginativos. Graças a esse novo portal que permite a entrada de ideias futuristas, o ato de incorporar mídias digitais e elementos tecnológicos foi algo que surgiu tão facilmente quanto por em prática meus conceitos passados de tradicionalismo e modernismo. A destreza para fazer isso foi apenas questão de me familiarizar com o conceito.   

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Uau! Estamos nos estágios finais do desenvolvimento do nosso aplicativo e queremos compartilhar algumas ilustrações que estarão no app. Essa é nossa página de erro! Tomara que vocês não a vejam com frequência , mas espero que faça vocês rirem quando a virem. Arte de @tsista.kennedy

RV: Qual o seu conselho para quem quer explorar a mescla do imaginário e arte indígena tradicional com tecnologias digitais e internet?

TK: When I was struggling to mesh traditional indigenous imagery with digital and technological concepts, my supervisor within the IFA had given me some powerful words to help me. ‘It can be as simple as realizing that there are indigenous people in the future,’ is what she’d told me. When our ancestors were met with the threat of genocide from the colonizers, they thought of indigenous people in the future; safeguarding our ceremonies, traditional knowledge, languages, and sacred items. We are those indigenous people in the future, and because of them we can have all of those things with us today.

My advice to anyone else who may struggle initially in exploring this concept of ‘indigenous futurisms,’ or more specifically combining indigenous imagery with digital technologies, would be to ask yourself this question:

“What are you doing today that will change the lives of your great grandchildren for the better?”

Growing up as a native in the city, I didn’t have my culture around me all the time as spiritual nourishment. When I was exposed to my culture, there was no gradient between my life navigating colonial education and sitting in a lodge during ceremonies. I was either in a public school preoccupied with classwork, or in a ceremonial setting receiving teachings and living in the moment. I feel as though these circumstances conditioned me to never think about combining digital technologies with our culture or communal advancement/healing without the help of the IFA.

TK: Quando tive dificuldades para mesclar o imaginário indígena tradicional com conceitos digitais e tecnológicos, minha supervisora na IFA me ajudou por meio de palavras poderosas. “Pode ser tão simples quanto imaginar que há pessoas indígenas no futuro”, foi o que ela me disse. Quando nossos ancestrais enfrentaram a ameaça de genocídio trazida pelos colonizadores, eles pensaram sobre indígenas no futuro: mantendo vivas nossas cerimônias, nossos conhecimentos tradicionais, línguas e objetos sagrados. Nós somos esses indígenas do futuro e graças aos nossos ancestrais, hoje podemos ter todas essas coisas conosco.

Meu conselho para quem tiver dificuldades em iniciar a exploração desse conceito de “futurismo indígena” ou, mais especificamente, em combinar o imaginário indígena com tecnologias digitais, seria se perguntar:               

“Quais ações que praticamos hoje poderão melhorar a vida de nossos bisnetos?”   

Por ter crescido na cidade como um nativo americano, eu não tive minha cultura ao meu redor o tempo todo, como um sustento espiritual. Quando eu era exposto à minha cultura, não havia a nuance entre vivenciar uma educação colonial e participar de uma cerimônia na cabana. Ou eu estava em uma escola pública, preocupado com meus estudos, ou em um contexto cerimonial, recebendo os ensinamentos e vivendo o momento. Sentia como se essas circunstâncias tivessem me condicionado a nunca pensar em combinar tecnologias digitais com a nossa cultura ou progresso/cura comunal, isso não teria acontecido sem a ajuda da IFA.

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Atendendo a pedidos do público eu trouxe de volta as ilustrações do “Baby Yoda em Woodland”! Eu dei alguns retoques na versão antiga que fiz no ano passado e estou amando a aparência nova. Essa tiragem ilimitada estará disponível para compra entre 25 de dezembro e 1º. de janeiro.

Se você é um fã, ou conhece alguém que é, pense em presenteá-los, ou a você mesmo, com uma lembrança atrasada de Natal! Mais detalhes a seguir.

RV: Qual foi o impacto ou como foi a receptividade de algumas de suas obras que incorporam o imaginário tecnológico ou de algumas peças que ilustram elementos da cultura popular como a peça do Baby Yoda/Mandalorian?

TK: My artwork showcasing popular culture through a woodland-style aesthetic typically receives quite a bit of appreciation from other indigenous people. My woodland Baby Yoda in a cradleboard with the Mandalorian gained a huge amount of popularity, seemingly overnight. My woodland style ‘Bepsi [12]‘ artwork that I created earlier this year sparked the same type of reaction.

One observation that has always remained constant throughout the past two years of my artistic career is that we as indigenous people love to see the world around us indigenized; it nourishes us with a sense of hope and belonging. It reminds us as indigenous people that we are still here, and we always will be.

My gift of creating artwork serves as a visual megaphone to the world, and through it I am able to take familiarized non-indigenous concepts and make them indigenous. I hope that in doing so I am inspiring indigenous youth to do the same through discovering, exploring, and utilizing their own gifts in a creative and thought-provoking way.

TK: Minha arte sobre elementos da cultura popular na estética do estilo Woodland com frequência é apreciado por outras pessoas indígenas. Meu Baby Yoda ilustrado em um berço tradicional com o Mandalorian em estilo Woodland ganhou muita popularidade da noite para o dia. Minha obra “Bepsi [12]” em estilo Woodland, que criei no começo do ano, provocou a mesma reação.

Uma observação que foi constante pelos dois anos da minha carreira artística é que nós, como indígenas, amamos ver influências indígenas no mundo que nos circunda; isso nos nutre com um sentimento de esperança e pertencimento. Somos lembrados que, como indígenas, ainda estamos aqui e sempre estaremos.

Meu talento para criar arte serve como um megafone visual para o mundo, e por ele posso pegar conceitos não indígenas populares e transformá-los em indígenas. Espero que ao fazer isso eu esteja inspirando a juventude indígena a fazer o mesmo ao descobrir, explorar e usar seus talentos de uma maneira criativa e que instigue a curiosidade.