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Bangladesh tenta reviver produção da musseline, o lendário tecido

Categorias: Sul da Ásia, Bangladesh, Arte e Cultura, Boas Notícias, Desenvolvimento, Economia e Negócios, História, Mídia Cidadã
A woman in Bengal region of the Indian subcontinent, clad in fine Bengali muslin, 18th century, painted by Francesco Renaldi. Image via Wikipedia. Public Domain. [1]

Mulher em Bengala, região do subcontinente indiano, vestida com fina musseline bengali, século 18. Quadro do pintor Francesco Renaldi [2]. Imagem da Wikipédia. Domínio público.

Musseline [3], o fino tecido de algodão originário de Daca [4], capital de Bangladesh, está pronto para renascer.

O tecido, produzido a partir de uma variedade de algodoeiro [5], cultivado apenas na área sul de Daca, tem uma longa história. Produzido desde os tempos pré-coloniais e o preferida da corte mogol, [6] foi importado para a Europa durante grande parte do século 17 e início do século 18, e altamente valorizado por sua excelente qualidade. A indústria bengali da musseline, entretanto, foi suprimida [7]pelas regras coloniais britânicas em favor de têxteis britânicos fiados à máquina, e tanto a variedade do algodão como o conhecimento das técnicas sofisticadas e difíceis, utilizadas para produzir o tecido requintado, desapareceram lentamente.

Bangladesh requereu [8] a Indicação Geográfica [9] (IG) da musseline, designação que o protegeria como um produto original do país. Isso seguiu-se a vários esforços ao longo da última década para reviver os produtos originais de musseline tecidos à mão. Em outubro de 2014, a primeira-ministra Sheikh Hasina determinou [10] aos funcionários do Ministério dos Têxteis que trabalhassem na revitalização do tecido, e o governo empreendeu o projeto “Restauração da tecnologia de fabricação de vestuário de musseline para criar fios dourados e revitalizar a produção de musseline” [11], que envolveu vários pesquisadores de Bangladesh.

Um tecido “como o leve vapor da aurora”

A musseline [3] (também conhecido em Bangladesh como mulmul) era tecida à mão com os melhores fios de algodão fiados à mão. A textura era tão fina que o corpo de quem o vestia [12] ficava visível através dela; e algumas variedades de musseline eram tão finas e refinadas que um sári  [13]feito do tecido podia caber dentro de uma caixa de fósforos.

Yuan Chwang [14], viajante e monge budista chinês, encontrou a musseline ao visitar a Índia em 629 e escreveu: “O tecido é como o leve vapor da aurora”.

No Facebook, Tareq Aziz escreveu [15] sobre a fama e o declínio do têxtil tecido à mão em Daca, capital de Bangladesh:

১৭৬৩ সালের জুন মাসের কথা। বাংলা থেকে রওয়ানা হয়ে এ বন্দর সে বন্দর পার হয়ে “দ্যা ফক্স” নামের জাহাজ পৌঁছেছে বিলাতে। ইউরোপের বিভিন্ন বাজারে বিক্রির জন্য জাহাজটি নিয়ে এসেছে নানান পণ্য যার মধ্যে একটা বড় অংশ জুড়ে রয়েছে হরেক রকম বস্ত্র। আর এই হরেক রকম বস্ত্রের সিংহভাগ জুড়ে আছে মলমল নামের একপ্রকার বস্ত্র। [..] ঢাকার সুপ্রসিদ্ধ মসলিন কারিগরদের অন্যতম শ্রেষ্ঠ সৃষ্টি এই মলমল। [..] পুরো ১৮ শতক জুড়েই এরকম শত সহস্র জাহাজ বাংলা থেকে নিয়ে গেছে সে সময়ের হিসাবে লক্ষ লক্ষ টাকার মসলিন।

১৮ শতকের দ্বিতীয়ার্ধে মসলিনের বিক্রি মুঘল সাম্রাজ্যে প্রায় শূণ্যের কোঠায় এসে ঠেকলেও ইউরোপের বাজারে তখনো টিকে ছিল। কিন্তু দুর্ভাগ্যজনক হল, ১৭৮০ তে বিলাতের শিল্প বিপ্লব মসলিন তাঁতীদের ঐ শেষ আশ্রয়টাও ধ্বংস করে দেয়।

বিলাতে ঢাকা থেকে আমদানিকৃত মসলিনের উপর তারা শতকরা ৭০-৮০ভাগ কর বসাল। [..] পত্রপত্রিকায় চললো মসলিন নিয়ে নানান অপপ্রচার, মসলিনকে হেয় করে ছাপাতে লাগল নানা রকম ক্যারিকেচার। শুধু তাই নয়, কথিত আছে, দেশীয় তাঁতীরা যাতে মসলিন বোনার কৌশল পরবর্তী প্রজন্মকে শেখাতে না পারে সেজন্য তাদের হাতের আঙুলও কেটে ফেলেছিল স্থানীয় ইংরেজ বনিকরা।

এভাবে ইংরেজ কুটকৌশল আর অত্যাচারের শিকার হয়ে ১৯ শতকের মাঝামাঝিতে পুরোপুরিই বিলুপ্ত হয়ে যায় ঢাকার মসলিনশিল্প।

Era junho de 1763. Um navio britânico chamado “A Raposa” partiu de Bengala [16], na Índia e chegou na Inglaterra. O navio transportava uma vasta gama de produtos para venda em diversos mercados da Europa, incluindo uma grande variedade de tecidos. E a maior parte destas peças de vestuário pertencia a um tipo de material chamado musseline (mulmul). [..] Este tecido foi uma das melhores criações dos famosos artesãos de musseline de Daca. [..] Ao longo do século 18, centenas desses navios transportaram milhões de rúpias indianas em musselines de Bengala.

Na segunda metade do século 18, a venda de musseline no Império Mogol [6] caiu, mas o mercado europeu ainda prosperava. Infelizmente, a revolução industrial na Grã-Bretanha em 1780 destruiu todas as esperanças dos tecelões desse tecido.

A Inglaterra impôs impostos de 60-70% nas musselines importadas de Daca. [..] Havia muita propaganda sobre a musseline e várias caricaturas foram impressas nos jornais insultando o tecido. Além disso, dizem que os mercadores ingleses locais também cortavam os dedos dos artesãos para que os tecelões nativos não pudessem ensinar à próxima geração a técnica de tecelagem da musseline.

Assim, a indústria da musseline de Daca foi extinta em meados do século 19 devido aos governantes coloniais britânicos.

Hoje, a palavra “musseline” refere-se a quase todos os tecidos de algodão leves e transparentes. Normalmente, são feitos à máquina e utilizados para diversos fins, como na fabricação de queijos [17] e, no subcontinente indiano, na confecção de peças de vestuário como os sáris.

A busca pelo conhecimento perdido

Os bengaleses aprendem sobre os lendários tecidos originais de musseline dos livros de escola e textos da história, e talvez também com a exposição de produtos de musseline no Museu Nacional de Bangladesh [18]. O conhecimento tanto da variante do algodoeiro como das técnicas antigas usadas para fazer a genuína musseline, entretanto, foi em grande parte perdido e o tecido não pôde mais ser produzido.

Em 2014, uma pequena equipe afiliada à Drik Picture Library, uma organização sem fins lucrativos de Daca, liderada pelo famoso fotógrafo Shahidul Alam [19], pesquisou extensivamente as origens da musselina com a ajuda de curadores, tecelões e artesãos. Sua pesquisa culminou com a publicação do livro “Muslin: Our Story [20]” e o primeiro Muslin Festival [21] em 6 de fevereiro 2016. O festival apresentou a história do tecido, workshops e exibições de filmes, e inspirou um interesse renovado em reviver o lendário tecido.

O primeiro desafio foi encontrar amostras certas de musseline; a segunda foi encontrar o fio certo. A equipe do projeto governamental colocou anúncios em jornais à procura de amostras antigas de musseline de museus e colecionadores de Bangladesh, mas as obtidas não eram da musseline original e tradicional. Uma equipe de quatro membros viajou para Londres em 2017 para recolher um sári de 1710 do Museu Victoria & Albert. [22]

Enquanto isso, uma equipe de sete pessoas, liderada pelo presidente do conselho do Bangladesh Handloom Board, embarcou em uma missão para averiguar sobre o fio tradicionalmente usado para tecer musseline, de acordo com um relatório [23] publicado no popular jornal Prothom Alo.

A busca pela planta original

O botânico sueco Carolus Linnaeus registrou no seu livro Species Plantarum, (1753) [24] que a variedade de algodão utilizada para fazer musseline era o phuti karpas, uma espécie da Gossypium arboreum [5].

Os pesquisadores distribuíram um desenho da planta phuti karpas em jornais e revistas nacionais tentando encontrar uma correspondência. Também recolheram outras variedades de algodão de várias regiões do país a fim de testar se alguma era compatível geneticamente com o algodão do sári do museu Victoria & Albert. A equipe encontrou uma que era parecida e cultivou a planta nos campos do departamento de Botânica da Universidade de Rajshahi.

Eles também localizaram dois tecelões com conhecimentos ancestrais, que foram capazes de tecer um sári de musseline seguindo o design do sári de 1710. Seis amostras iniciais de sáris foram produzidas; o custo de cada peça de tecido foi estimado em BDT 360.000 (US$ 4.245).

A internauta Kaniz Binte Zaman expressou alegria ao saber das notícias:

A musseline renasceu. Gratidão ao cientista-chefe MonzurHossain e seus colegas cientistas cujo árduo trabalho trouxe de volta a musseline. É reconhecida como o 4º produto de Indicação Geográfica (IG) de Bangladesh. Trazer a musseline de volta era o desejo da obstinada primeira-ministra Sheikh Hasina desde 2014. 2014. 

O pesquisador, Ataur rahman kollol, tuitou:

Depois de 170 anos, os cientistas e pesquisadores puderam fazer renascer a musseline de Daca. A musseline não é apenas um tipo de tecido para o povo bengali, também é parte da rica herança que há muito foi perdida nas mãos da exploração britânica.

O tecido de musseline confeccionado a partir da variedade original de algodão deve ser disponibilizado comercialmente [23] nos próximos dois anos