Conforme a COVID-19 dominou o mundo [4] em 2020, o densamente povoado [5] Sul da Ásia tornou-se uma das regiões mais atingidas, com Índia, Bangladesh, Paquistão e Nepal superando [6]a China em termos de números [7]de casos de coronavírus.
A ruptura econômica e social [8] causada pela pandemia foi quase catastrófica, pois o progresso foi interrompido, além disso, prolongados lockdowns e o apoio governamental inadequado levaram milhões de pessoas para nível abaixo da linha de pobreza. A cobertura da Global Voices destacou a devastação e incertezas que a COVID-19 causou no Sul da Ásia, com vacinas ainda não disponíveis para uso em qualquer um desses países.
Enquanto as notícias sobre o vírus do tipo Sars se espalharam no final de dezembro de 2019 e janeiro de 2020, a China anunciou [9] o fechamento da cidade de Wuhan em 23 de janeiro de 2020, e os voos foram suspensos. Bangladesh [10] e Índia [11] organizaram voos especiais para trazer de volta pessoas retidas; no entanto, o Paquistão demorou a responder. Estudantes paquistaneses retidos na província de Hubei, na China Central, utilizaram as redes sociais [12] para apelar ao governo do Paquistão para que tomasse providências para os enviar para casa.
Para muitos trabalhadores migrantes nepaleses, tanto dentro do país como fora dele, o lockdown imposto em 24 de março provou ser mais mortífero [13] do que a COVID-19. Trabalhadores em dificuldades, especialmente no Oriente Médio e na Malásia, tiveram de protestar [14] para apelar que o governo nepalês os levasse de volta para casa
O lockdown [15] na Índia em 24 de março deixou centenas de milhares de trabalhadores migrantes domésticos vulneráveis, [16] presos sem remuneração e sem capacidade de sustentarem a si ou às suas famílias. Deixados sem outras opções, e com o bloqueio dos transportes públicos, um grande número de trabalhadores e suas famílias começaram a percorrer enormes distâncias [17] para chegar às suas casas.
No dia 12 de maio, o primeiro-ministro Narendra Modi anunciou um plano de socorro tardio de assistência e recuperação, Atma Nirbhar Bharat Abhiyaan (Índia autossuficiente) [19] para ajudar a população migrante. Contudo, foi relatado que a parte mais pobre da população foi deixada ao abandono [20] e muitos lutaram para sobreviver sem apoio suficiente de iniciativas governamentais e não governamentais.
Trabalhadores da linha de frente
Os trabalhadores da linha de frente em saúde e assistência social desempenharam um papel significativo na luta contra a COVID-19 em muitos países do sul da Ásia e enfrentaram um risco considerável de infecção.
Na populosa Bangladesh, tais trabalhadores enfrentaram dificuldades em um nível [21] sem precedentes, junto com algumas críticas. Muitos hospitais, clínicas e instalações de testes não dispunham dos recursos necessários, faltou a implementação de medidas de quarentena [22] e tampouco houve tempo suficiente para treinar esses trabalhadores. A inadequação dos sistemas públicos de saúde em muitas partes do país e a proteção deficiente [23] dos profissionais de saúde da linha de frente complicaram [24] a luta contra a COVID-19.
Em 6 de abril de 2020, os trabalhadores paquistaneses do setor da saúde protestaram [27] em Quetta, província do Baluchistão, exigindo equipamentos de proteção pessoal (EPI), quarentena apropriada e outras medidas de segurança, resultando na detenção de cerca de 150 manifestantes.
Na Índia, vários profissionais de saúde foram atacados [28] por multidões locais devido ao receio de que os trabalhadores contraíssem a COVID-19 de doentes infectados e espalhassem o vírus nas suas comunidades.
Economias em crise
A maioria das economias dos países do Sul da Ásia foi duramente atingida pelas medidas de distanciamento e lockdowns para conter a pandemia da COVID-19.
Um dos primeiros sinais do “tsunami” econômico desencadeado pelas medidas de lockdown foi o fechamento de muitas lojas, incluindo livrarias [29]em Daca, capital de Bangladesh.
Países como as Maldivas, que dependem exclusivamente do turismo, sentiram a imensa pressão econômica [32] já que a chegada de turistas diminuiu.
Na Índia, a taxa de desemprego aumentou para 24% em maio [33], e trabalhadores diaristas como os das plantações de chá, enfrentaram a pobreza e a fome [34] devido à escassez de trabalho e à falta de assistência governamental.
Resposta do governo
A maioria dos governos do Sul da Ásia respondeu [8] à crise da melhor maneira possível, impondo medidas de lockdown e de distanciamento social e distribuindo pacotes de assistência às comunidades vulneráveis para garantir acesso aos alimentos. Também adiaram o pagamento de serviços públicos, aluguéis, impostos e serviços da dívida, proporcionando algum alívio às pessoas comuns.
O Butão foi uma das primeiras nações a fechar temporariamente suas fronteiras [35] logo na primeira semana de março. As medidas imediatas subsequentes fizeram do Butão um dos países de sucesso no combate à COVID-19 com cerca de 600 infectados e zero mortes [36] no momento em que o relatório foi feito.
O Nepal tomou medidas iniciais ao adiar os Festivais Internacionais de Cinema e torneios de críquete [37], mas tais medidas foram criticadas como insuficientes e um ativista percorreu milhares de quilômetros, iniciou uma campanha nacional (#EnoughIsEnough) e fez greves de fome, para protestar contra a fraca resposta do governo [38].
Em 2 de abril de 2020, o governo indiano lançou o Aarogya Setu [39], um aplicativo para celular que alerta os usuários quando estão a menos de 1,80 metros de distância de uma pessoa infectada com o coronavírus. Isto desencadeou grande preocupação [40] sobre potenciais questões de segurança digital. Os ativistas também ficaram apreensivos com a notícia de que o governo considerava utilizar “câmeras integradas de identificação digital” para vigilância de pessoas potencialmente infectadas, o que levantou mais preocupações quanto à privacidade [41].
O Paquistão alegou que a doença estava sob controle [42] em meio a números crescentes, mas em junho de 2020, a Organização Mundial de Saúde enviou uma carta alertando ao Paquistão [43] que as infecções estavam aumentado a um ritmo alarmante e sugerindo a imposição de novos bloqueios. Em termos de números de infecções e mortes [44], eles estão agora atrás da Índia e de Bangladesh.
O governo do Sri Lanka prosseguiu [45] com suas eleições parlamentares em agosto de 2020, depois de adiadas duas vezes.
As autoridades em Bangladesh prenderam várias pessoas [46] por postagens nas redes sociais e caricaturas criticando a resposta do governo à pandemia.
Mudança para ambientes virtuais
As perturbações sociais da pandemia afetaram muitas pessoas criativas como artistas, cineastas e esportistas enquanto permaneciam em casa durante longos lockdowns. A maioria das pessoas recorreu a soluções baseadas na internet, como eventos virtuais e de transmissão on-line.
As obras de 19 artistas nepaleses foram exibidas [47] na exposição virtual em maio. Cartunistas criaram ilustrações [48] para retratar os desafios que os nepaleses enfrentavam durante o período de lockdown.
A utilização da internet dentro de casa em Bangladesh aumentou [49], já que muitos recorreram aos vídeos do YouTube e Facebook na língua local. Muitos canais do YouTube e de entretenimento surgiram [50] para esse público crescente. Uma coleção de filmes intitulada “Tong Isolation Diary” foi lançada [51] com curtas-metragens retratando a vida de diferentes personagens durante a pandemia.
Um concurso fotográfico [53] foi lançado este ano para documentar a vida da comunidade rohingya refugiada em campos em Bangladesh, durante a pandemia.
A estudante de medicina de Kashmir, Tabish Aijaz, tornou-se popular nas redes sociais por compartilhar pinturas que criou em folhas [54] para combater o estresse e o tédio durante o lockdown.
Algumas instituições educacionais no Sul da Ásia usaram a internet para ensinar estudantes em casa, virtualmente, mas estudantes de áreas remotas e famílias de baixa renda, que não tinham acesso à internet, como estes estudantes do Paquistão [55], enfrentaram enormes desafios para continuar estudando. Na Índia, uma start-up sem fins lucrativos da cidade de Cuttack, no estado de Orissa, usou tecnologia pré-internet [56], como chamadas telefônicas, SMS e rádio, para chegar a estes estudantes.
Ambiente
A pandemia tem sido uma maldição e uma bênção para o meio ambiente. Inicialmente, o lockdown teve um impacto positivo na vida selvagem dos parques nacionais populares do Sri Lanka, que há muito reclamam do excesso de visitantes. No entanto, as reservas desprovidas de turistas e trabalhadores deram oportunidade [57] para os caçadores – geralmente moradores locais afetados pelo bloqueio – aumentarem os casos de caça ilegal.
Houve muitos pontos positivos nos lockdowns. As restrições devido à COVID-19 reduziram a poluição em muitas cidades. Vários cinegrafistas do Sul da Ásia postaram vídeos no YouTube [58] mostrando como as atividades das cidades haviam sido interrompidas. No Nepal, a redução da poluição criou um ambiente favorável para os pássaros [59] e o Monte Everest tornou-se visível da capital Katmandu.
O blogue Everest Today tuitou:
Remember that viral picture of Mt Everest during lockdown? Once again, today, crystal clear sky makes Everest visible from Kathmandu. More: https://t.co/Bku12KOA8S [60] pic.twitter.com/EjsOWZrL4n [61]
— Everest Today (@EverestToday) October 30, 2020 [62]
Lembra-se daquela imagem viral do Monte Everest durante o lockdown? Mais uma vez, hoje, o céu cristalino torna o Everest visível de Katmandu.
Aguardamos ansiosamente por mais histórias do Sul da Ásia, esperançosos por um mundo pós-COVID-19 em 2021.