Após duas manifestações com registo de violência, o Presidente de Angola João Lourenço realizou, no dia 26 de Novembro, um diálogo aberto com cerca de cem jovens — entre artistas e líderes de associações políticas, cívicas e profissionais.
Durante o evento, realizado em um centro de convenções na capital Luanda, foram discutidos principalmente o desemprego entre os jovens e as eleições autárquicas, previstas para 2020 e adiadas por um ano por conta da pandemia do coronavírus.
Reportagem da DW África destacou algumas falas dos presentes. Francisco Paciente, presidente da associação Nova Aliança dos Taxistas (ANATA), pediu a inserção dessa franja profissional na Caixa de Segurança Social: “Precisamos também da formalização e da carteira profissional desses taxistas para que uma única entidade trate desta matéria,” disse.
Já Francisco Teixeira, líder do Movimentos dos Estudantes Angolanos (MEA), lamentou a falta de infraestrutura em escolas públicas, onde “alunos aprendem sentados em pedras e latas,” disse.
Por seu turno, ainda segundo o DW África, o Presidente João Lourenço reconheceu que Angola é um dos países da África austral em que não há autarquias, mas mostrou-se céptico sobre a realização dessas eleições em 2021:
Eu não sei se será no próximo ano. No dia 15 de Outubro, há pouco mais de um mês, há um mês e meio, fomos muito claros em relação às eleições autárquicas. O país precisa de instituir as autarquias? Sim, precisa.
Activistas recusam convite ao diálogo
Muitos activistas que protagonizam os protestos na capital angolana declinaram o convite de Lourenço.
POR QUE NÃO ESTAREI NO «DIÁLOGO COM A JUVENTUDE»Hoje, quinta-feira, 26 de Novembro de 2020, tem lugar o evento denominado Diálogo do Presidente da República com a Juventude Angolana, que é uma espécie de resposta ao movimento juvenil de protestos públicos contra a governação, com particular incidência às grandes manifestações que tiveram lugar nos últimos meses, sendo que, na de 24 de Outubro e de 11 de Novembro, houve vítimas mortais.Um número elevado de cidadãos defende que os revús devem aproveitar a oportunidade para, primeiro, ouvirem o que o Presidente tem a dizer e, segundo, dizerem ao mesmo o que pensam sobre toda uma variada gama de assuntos que se constituem em problemas que afectam a juventude.Ora, eu não estarei presente. E as minhas razões são as seguintes:1. Não se dialoga com um tirano;2. Minha luta é clara: a incompetência do MPLA tem 45 anos, e não será o partido delinquente a proceder à refundação de Angola. MPLA deve partir – com violência, se for necessário;3. O Presidente da República manteve-se em silêncio tumular diante das agressões e mortes ocorridas nas manifestações de 24 de Outubro e 11 de Novembro;4. O cadáver de Inocêncio de Matos, assassinado pela Polícia Nacional a 11 de Novembro, ainda não foi alvo de uma autópsia séria e independente, e – 15 dias depois – o funeral continua sem data graças às artimanhas do regime;…
Já o músico Nhanga Lwamba, mais conhecido como MCK, recorreu à sua página do Facebook para desmentir que estaria presente no encontro com o chefe de Estado, informação também veiculada em uma imagem divulgada nas redes sociais:
Tenho Agenda Cívica nessa data nas cidades do Lubango e Benguela, e ainda não atingi a Omnipresença, o que torna #Falso esse Cartaz…Em observância ao respeito dos meus direitos de personalidade como bom-nome, honra, imagem e reputação, sou a informar com verdade, declarando falso a minha presença no Encontro.Muito obrigado pela atenção dispensada e agradeço antecipadamente que partilhem o Post, de forma a reduzir as “bocas de aluguer e da intriga” .#Diaraby, o Filho da…
No Facebook, o activista Luaty Beirão, que não foi convidado para o encontro, disse:
Também não faria muito sentido que me convidassem, afinal, todos os dias eu mando recados públicos ao João Lourenço, pelo que não iria agregar valor ao comício de amanhã. Espero que quem não o faça no tuíra, não claudique na hora do ”sua excelência”, olho no olho.
Já o jornalista Vasco da Gama assinou um artigo de opinião parabenizando o presidente pela realização do encontro:
Gostei, em primeiro lugar, porque JLO chamou e reuniu, no mesmo local, jovens que actuam em áreas diferentes que demonstraram, efectivamente, que Angola só vai erguer à sua bandeira de desenvolvimento com o estender da mão de todos. Demonstraram que o exercício da cidadania plena não é um apanágio dos jovens políticos, muitos deles escondidos na chapa de “revús”.Demonstraram que a luta pelo desenvolvimento, respeito dos direitos fundamentais, quer sejam de primeira, segunda, terceira ou quarto grau, respectivamente, e pela boa governação não é exclusiva aos “revús”, como, em muitos casos, se pretende transmitir.Gostei porque conseguiu aclamar assuntos de sectores que, na verdade, são esquecidos, entre nós, como são os casos do teatro, da dança, música e os direitos autorais, artes marciais, ambiente e outros.