Cinco novas plataformas de notícias sem censura na Colômbia

 

Foto de Ahdieh Ashrafi/Flickr (CC BY-NC-ND 2.0)

A Colômbia é um dos países mais perigosos do mundo para jornalistas e transmissores de notícias em geral. Ameaças e perseguição por parte de pessoas envolvidas no tráfico de drogas e em grupos armados são comuns, e jornalistas se autocensuram com frequência para evitar represálias.

Além disso, os vínculos estreitos da grande mídia colombiana com os impérios empresariais e políticos ameaçam a independência editorial, segundo o Repórteres Sem Fronteiras. Os principais meios de comunicação da Colômbia pertencem a apenas três conglomerados.

Limitações estruturais da democracia e a função social da mídia na Colômbia. Que falta faz uma regulação que evite, por exemplo, que grupos econômicos controlem a maior parte da mídia.

Recentemente, novos meios de comunicação surgiram, desafiando o tradicional monopólio da mídia. Abaixo, você encontra uma lista de cinco plataformas digitais independentes da Colômbia para seguir.

Los Danieles, lançada em abril de 2020

Todos os domingos, três jornalistas colombianos muito conhecidos — todos eles chamados Daniel — leem suas colunas ao vivo nas redes sociais. Seus posts estão cada vez mais populares: um vídeo recente, que conta com a participação dos jornalistas Jorge Ramos e Enrique Santos Calderón, teve mais de 65 mil visualizações. A partir de novembro, o premiado jornalista Santos Calderón será o quarto colunista oficial da plataforma Los Danieles, que pode ser traduzido como os Daniéis”.

Los Danieles foi criada depois da demissão de Daniel Coronell da revista colombiana Semana, em abril de 2020, quando ele escreveu sobre os acionistas da publicação. Em sua última coluna na Semana, disse: “Os acionistas da Semana são donos da marca, de seu magnífico edifício, dos equipamentos, dos móveis e dos utensílios, mas não da informação. A informação é propriedade pública e só pode ser usada em benefício dos cidadãos, não para retaliação corporativa”.

A demissão de Coronell, que ele próprio anunciou no Twitter, gerou revolta nas redes sociais. Ele também recebeu o apoio de um de seus colegas, o escritor e YouTuber Daniel Samper Ospina, que entregou sua carta de demissão do Semana em solidariedade a Coronell. Juntos, eles decidiram criar uma plataforma de mídia digital independente, e mais tarde se uniram ao jornalista e escritor Daniel Samper Pizano.

 

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Eufemismos de Duque (presidente colombiano).
É notável que durante seu mandato não haja assassinatos, mas conflitos; não haja massacres, mas homicídios coletivos; não se fale em corrupção, mas em maçãs podres.

 

Os três Daniéis deram o nome de Columnas Sin Techo (Colunas Sem Teto, na tradução literal) à sua coluna, pois desenvolveram esse projeto sem patrocínio ou assistência dos meios de mídia tradicionais. Eles dizem em suas transmissões ao vivo que seu “techo” é feito de seus seguidores e leitores, que têm crescido bastante.

La Nueva Prensa, lançada em março de 2018

La Nueva Prensa, ou “a nova imprensa”, cujo lema é “la verdad sea dicha” (verdade seja dita), é um site de notícias criado por Gonzalo Guillén.

O site tem sido bastante crítico do presidente anterior, Álvaro Uribe Vélez, de direita, e do atual governo do presidente Ivan Duque. La Nueva Prensa é financiado por meio de crowdfunding e doações de organizações.

Este ano, Guillén e outros colegas do Nueva Prensa receberam ameaças de morte após noticiarem o assassinato do traficante Ñeñe Hernández, que supostamente estaria envolvido em um esquema de compras de votos para o presidente Duque na última eleição.

Um piloto do Cartel de Sinaloa, que também transportava Álvaro Uribe e Iván Duque, trabalhava para uma companhia que tinha contratos com o Departamento de Aviação Civil da Colômbia.

Vorágine, lançada em junho de 2020

O slogan do Vorágine é “Periodismo Contracorriente” (Jornalismo Contracorrente, na tradução literal). O principal objetivo desse novo portal de jornalismo investigativo é destacar as violações de direitos humanos na Colômbia. Ele foi criado pelos jornalistas José Guarnizo, ex-editor da revista Semana, María José Jaramillo, Juan Sebastián López (conhecido como Morphart), Angélia Penagos (conhecida como Angie Pik), Laila Abu Shihab, Juan Pablo Barrientos e Pacho Escobar.

Escobar ressaltou que o objetivo do novo site, que foi lançado em 1º de junho, durante a pandemia, é “não fazer negócios com o estado, não porque seria ruim, mas para se manter independente”. O site é financiado com a venda de ingressos para workshops e com doações de leitores.

Em parceria com o @fes.col na Colômbia, Vorágine apresenta a incrível história de Ladicel Mosquera, líder regional de um dos principais sindicatos de empregadas domésticas do país. Pedimos que você leia a história completa em www.voragine.co

Notiparaco, lançada em dezembro de 2019

Levy Rincón, que comanda o Notiparaco, convida uma grande variedade de personalidades para suas transmissões ao vivo para conversarem de forma aberta e sem censura sobre os assuntos atuais. Ele já recebeu diversas ameaças, mas continua a conduzir as entrevistas e a usar as redes sociais para criticar o que ele chama de ditadura imposta pelo partido do ex-presidente, Álvaro Uribe Vélez. A revista Rolling Stone descreveu Levy como “uma personalidade on-line que fala da periferia sem medo daqueles que estão no poder”.

O vídeo a seguir apresenta uma entrevista do advogado e ativista colombiano, Miguel Angel del Río, em que ele também fala sobre o poder crescente das fontes de mídia alternativas. Além disso, del Río destaca a importância e o potencial dessas novas formas de mídia que, por serem distintas e independentes da mídia tradicional, não são influenciadas pelo governo. Ele pede que as pessoas sejam críticas e que “analisem tudo com muito cuidado” para criar um novo modelo de sociedade.

Tercer Canal, lançada em março de 2020

O slogan do Tercer Canal é “tudo deve ser visto”. Esse canal do YouTube apresenta análises críticas dos assuntos atuais a partir de uma perspectiva progressista. Ele foi fundado em março de 2020 por Hollan Morris, jornalista e ex-candidato a prefeito de Bogotá, que retornou à Colômbia em 2012 após ter deixado o país devido a ameaças de mortes. Em seu canal, ele busca “promover e valorizar a Constituição da Colômbia de 1991, uma cultura de paz que respeite o meio ambiente e a defesa dos direitos humanos”.

Através de uma música, o vídeo a seguir chama a atenção para a Minga Indígena, um movimento formado por povos indígenas de toda a Colômbia, com destaque para os do departamento (estado) de Cauca. No fim de outubro, um grupo viajou para a capital, Bogotá, com a intenção de se reunir com o presidente Duque, que optou por não recebê-lo. O grupo exige que o estado ponha fim ao massacre de suas comunidades e ao assassinato de seus líderes.

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