Os artistas indígenas mexicanos que estão desafiando rótulos e estereótipos

Pessoas de Malacateticpac, 2015, da autora, Isela Xospa.

Meu nome é Isela Xospa e eu sou editora e ilustradora autônoma. O projeto gráfico que estou desenvolvendo é o resultado de minha jornada pessoal em busca de caminhos para afirmar minha identidade indígena em um contexto contemporâneo e transnacional. Descobrir e aceitar minha identidade indígena me deu ferramentas para construir novos canais para compartilhar um mundo íntimo profundamente influenciado pela cultura dos povos indígenas que vivem ao sul da Cidade do México.

Noite dos balões de papel, 2019, da autora, Isela Xospa.

Em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, em 9 de agosto, eu decidi compartilhar o trabalho de jovens ilustradores de origem indígena, os mesmos que estou compartilhando nesse artigo. Eu quis fazer isso porque não existem muitos ilustradores que se identificam como indígenas. Outra razão foi que, longe de reproduzir estereótipos, eu acredito na importância de divulgar esses trabalhos como uma provocação contra o imaginário e os rótulos sobre povos indígenas e suas representações.

Não devemos desperdiçar oportunidades de questionar os formatos e estilos utilizados no mundo da ilustração para representar grupos indígenas. Essas são oportunidades para se rebelar contra a imposição dos não indígenas, para divulgar nossas posições políticas e para apresentar sugestões, produtos e ideias para encorajar a criação de novas narrativas e leituras, feitas por e para a população indígena.

Para nós, o Dia Internacional dos Povos Indígenas não é a celebração de rótulos, costumes e exotismos. Ao contrário, deve denunciar as tentativas sistemáticas de nos apagar e integrar em um projeto de Estado-Nação, que levou à perda de línguas, territórios, vestimentas, conhecimentos, saúde e oportunidades dos povos indígenas.

Partindo dos pequenos lugares que inspiraram nossa criatividade, alguns de nós com nossas visões políticas e outros com a necessidade premente de se expressar vívida e visualmente, continuaremos a criar narrativas para crianças, jovens e adultos de populações nativas. Temos a esperança de que nossas histórias vão tocar, transformar e impactar as futuras gerações de narradores gráficos que regressam, usam e aceitam suas culturas.

De nossos espaços criativos, nós compartilhamos com você nossas bibliotecas visuais.

Mitzy Juárez

Mitzy Juárez é ilustradora e designer gráfica da etnia chocholteco ngiba de Oaxaca, no sul do México. Ela nasceu e cresceu em uma cidade pequena e isolada nas planícies de Mixteca, em Oaxaca, onde existem as mais lindas nascentes naturais da região. A inspiração dos desenhos de Mitzy vem do povo, da linguagem e das tradições que ela cresceu tendo contato. Através dos desenhos, ela encontrou uma maneira de preservar o conhecimento que herdou de sua comunidade, conhecimento que ela carrega consigo para onde for.

A pequena espiga de milho foi levada pelo vento das fazendas de Milpa para a cidade, cruzando mares e rios, planícies, estradas e montanhas! (Gabriel del Río). É Tchíxa, a pequena espiga de milho!

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Mitzy Juárez
Mitzy Juárez

David Canul, el pájaro Toj (o pássaro Toj)

David Canul nasceu no território maia de Campeche, no golfo do México. Seu trabalho híbrido como ilustrador profissional engloba livros não literários, poesia, conteúdo para crianças e até mesmo cerâmicas. Ele também organiza, administra e promove festivais de literatura infantojuvenil na península de Yucatã.

Imaginação de bicicleta
Técnica: desenho e coloração digital

Griss Romero

Um elemento que sempre aparece no trabalho de Griss Romero é a onça, também conhecida como “tekuani” ou “tiger”, e que é um dos mais importantes símbolos identitários do Estado de Guerrero. Griss encontra inspiração nas raízes ancestrais e na cultura da comunidade náuatle, em Acatlán. Ela utiliza sua arte como ferramenta para dar visibilidade aos povos indígenas de Guerrero, no sudoeste do México, e divulgar rituais e conhecimentos de agricultura.

Atualmente, Griss possui uma peça em exposição no Poetics of Colour, uma exibição de arte virtual, e também estará presente na exibição virtual “FROM MY WINDOW Longing of an Artist in Quarantine” (Da minha janela, anseios de uma artista em quarentena).

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Griss Romero
  Griss Romero

Cuauhtémoc Wetzka

Cuauhtémoc Wetzka é designer gráfico e ilustrador e já exibiu trabalhos na Argentina, Colômbia, Espanha, França, Estônia, Polônia, China, Canadá e Estados Unidos. Cuauhtémoc nasceu na comunidade náuatle de Sierra de Zongolica, região central do Estado de Veracruz, na costa atlântica do México. Em 2015, ele recebeu o primeiro prêmio do 25º Catálogo de Ilustradores para Publicações Infantojuvenis do Conselho Nacional Mexicano de Cultura e Arte. Nesse mesmo ano, também foi finalista no Concurso Artístico e Exibição Artistas Hispânicos para Crianças, em Las Vegas, Nevada. Também já discursou em muitas conferências internacionais e recebeu reconhecimento por seu trabalho em pôsteres impressos.

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Behance: Cuauhtémoc Wetzka
 Cuauhtémoc Wetzka
 Wetzka Temo

Gil Kupyum (Gilberto Delgado)

Gilberto Kupyum nasceu em Tlahuitoltepec Mixem, uma comunidade indígena da região noroeste de Oaxaca, uma região de neblinas e florestas. Em seu trabalho, ele utiliza temas como a natureza, a tradição oral e a música, em várias mídias, por exemplo, pintura, serigrafia, gravura, litografia e cerâmica. Seu nome real é Gilberto Delgado, mas ele é chamado de Gil Kupyum ou Mish Kupyum por seus amigos, que significa “garoto pica-pau” na língua Ayuujk. Ele se identifica com esse pássaro porque utiliza o entalhe em madeira no design gráfico.

Gilberto Kupyum também trabalha com mulheres e jovens de sua comunidade. Juntos, eles fabricam bolsas, camisas, notebooks, impressões e outros produtos para criar uma fonte de empregos na comunidade.

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#rompecabezas

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Quebra-cabeça

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 Gil Kupyum
Gilberto Kupyum

Valentín Peralta

Valentín Peralta Betanzos pertence ao grupo indígena dos mazatecas, e nasceu em Eloxochitlán de Flores Magón, uma das 45 cidades que compõem a região de Cañada, em Oaxaca.

Valentín se diz atraído pelo mundo contemporâneo e incorpora novos conceitos e materiais em seus trabalhos. Ele foca em variedade pois acredita que a arte é uma linguagem e uma expressão de todos os sentidos.

MARIA SABINA
Uma homenagem a Maria Sabina, uma mulher mazateca conhecida como a “sacerdotisa dos cogumelos sagrados”. Isso é algo que eu realmente adoro fazer… quando me lembro das montanhas tão cheias de vida, das pessoas ao redor, dos rostos e olhares… feito com massa de modelar.

Vics Gaspar

Victoria Gaspar Teodocio é uma mulher zapoteca descendente da comunidade San Melchor Betaza, em Oaxaca. Ela é ilustradora e estudou design gráfico na Universidade Nacional Autônoma do México. Vics ilustra cadernos artesanais e serigrafias em diferentes materiais, e também gosta de trabalhar com documentários e retratos fotográficos. Mulheres expressando sua liberdade, paixão e amor são as protagonistas na arte de Vics. Suas ilustrações são um tributo à sua mãe, avós e todas as mulheres que influenciaram sua vida. Vics faz parte do coletivo Dill Yel Nbán, que promove a língua zapoteca.

Mulheres musicistas das cidades de San Melchor Betaza e Villa Hidalgo Yalálag na Sierra Norte, Oaxaca. A música das montanhas é identidade, herança, canto, luz, força, felicidade, sabedoria, memória, dança; é história bordada em um huipil, em pontos que não deixarão de florescer na comunidade.

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Vics Gaspar
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