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Site que expõe corrupção militar bloqueado em Mianmar

Categorias: Leste da Ásia, Mianmar (Birmânia), Direitos Humanos, Governança, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Política, GV Advocacy
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Captura de tela da página inicial do site “Justice for Myanmar”

O site Justice for Myanmar (“Justiça para Mianmar”) foi bloqueado [2] no país em 27 de agosto, supostamente por disseminar “fake news”.

O site [3] foi lançado em 28 de abril por um “grupo secreto de ativistas” que prometeu expor a corrupção militar sistêmica de Mianmar.

We have begun to expose the systemic causes of inequality, violence, war crimes, and crimes against humanity.

Justice for Myanmar and its allies are collecting evidence and exposing the vast business network funding brutal oppression in Myanmar.

Começamos a expor as causas sistêmicas da desigualdade, violência, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Justice for Myanmar e seus aliados estão reunindo evidências e expondo a enorme rede empresarial que financia a opressão brutal em Mianmar.

As forças armadas de Mianmar governaram o país por décadas até serem substituídas por um governo civil em 2011. O Partido para Desenvolvimento e União Solidária, apoiado pelos militares, perdeu as eleições de 2015, mas os militares garantem assentos no Parlamento por meio de uma cláusula constitucional redigida e aprovada em 2008.

Algumas das matérias recentes [4] do site incluíam documentos revelando [5] supostos interesses comerciais de generais graduados das forças armadas e detalhes de lucros militares provenientes de negócios internacionais.

Yadanar Maung, porta-voz do Justice for Myanmar, expressou seu inconformismo [4] pelo bloqueio do site:

Our claims are backed up by evidence and we welcome the government to respond to our reports, with evidence. However, instead of engaging in public debate and accountability, the civilian government has chosen repression and is attempting to cover-up the military’s wrongdoing.

Nossas reivindicações são sustentadas por evidências, e convidamos o governo a responder nossas denúncias com evidências. Porém, em vez de engajar-se em um debate público e prestação de contas, o governo civil escolheu a repressão e está tentando encobrir os delitos dos militares.

O porta-voz do Ministério das Telecomunicações, Myo Swe, contou [6] à Reuters o motivo do bloqueio do site e de três endereços de IP associados a ele. “A equipe de monitoramento das redes sociais descobriu que alguns sites estão disseminando fake news”.

A operadora de telecomunicações Telenor Myanmar, uma subsidiária do grupo norueguês Telenor, publicou uma declaração [7] contestando a ordem emitida pelo ministério, mas não identificou os sites bloqueados.

Telenor Myanmar has complied with the directive under protest.

Telenor Myanmar views this directive with grave concern. Since receiving the directive we have had multiple dialogues with the authorities protesting the blocking. Our position is that freedom of expression and the right of access to information should be respected. We will continue our efforts to lift the blocking and encourage the government of Myanmar to increase transparency for the public.

A Telenor Myanmar cumpriu a diretiva de bloqueio sob protestos.
Consideramos essa ordem muito preocupante. Desde que recebemos a ordem, tivemos vários diálogos com as autoridades contestando o bloqueio. Nossa posição é de que a liberdade de expressão e o direito de acesso à informação devem ser respeitados. Continuaremos com nossos esforços de suspender o bloqueio e encorajar o governo de Mianmar a ampliar a transparência frente ao público.

Esta não é a primeira vez que o governo evoca o Artigo 77 da Lei de Telecomunicações para bloquear sites. No mês de março, mais de 200 sites foram bloqueados por supostamente estarem “disseminando fake news”. A lista incluía [8] plataformas de mídia étnicas que faziam a cobertura de notícias em comunidades remotas.

A Global Voices contatou o Justice for Myanmar através do Twitter [9] e descobriu que um site espelho [10] foi criado no Github, o que possibilitou que os usuários pudessem acessar o site em Mianmar.

Eles falaram sobre o efeito do bloqueio em seu trabalho:

The blocking creates a challenge for us to fully engage with people within Myanmar. It shows the increased intolerance by the government on freedom of expression and that they are trying to cover up the crimes and corruption of the military. This is absolutely disturbing.

O bloqueio nos impõe o desafio de nos engajarmos totalmente com a população em Mianmar. Ele mostra o aumento da intolerância do governo pela liberdade de expressão e que eles estão tentando acobertar os crimes e a corrupção dos militares. É extremamente preocupante.

Um de seus objetivos é pressionar as empresas internacionais a cortar laços econômicos com as forças armadas de Mianmar.

We will continue our campaign to dismantle the Myanmar military cartel by exposing their operations and building pressure for international action, including targeted sanctions and divestment. This is essential for Myanmar to achieve federal democracy and a sustainable peace.

Continuaremos nossa campanha para desmantelar o cartel militar de Mianmar expondo suas operações e aumentando a pressão para a ação internacional, que incluiria sanções direcionadas e despojamento. Isso tudo é essencial para que Mianmar possa alcançar uma democracia federal e paz duradoura.

Eles declararam que há mais de 150 empresas internacionais e nacionais envolvidas com negócios pertencentes a oficiais militares em Mianmar.

Justice for Myanmar ainda pede solidariedade da comunidade internacional:

We call on the international community to support freedom of expression in Myanmar and stand up to censorship, not just for the Justice For Myanmar campaign but also ethnic media sites that continue to be blocked, including Karen News, and Narinjara.

Convocamos a comunidade internacional para que apoie a liberdade de expressão em Mianmar e defenda a censura, não só pela campanha Justice for Myanmar, mas também pelos sites de mídia étnica que continuam bloqueados, incluindo o Karen News e o Narinjara.